s
Cammila Yochabell, CEO e fundadora da Jobecam Divulgação
ENTREVISTA

Lições de mulheres que lideram o ecossistema de inovação

Empreendedoras revelam os desafios da jornada em um ambiente predominantemente masculino, em que apenas 4,7% das startups são fundadas por mulheres

[Atualizada em 20/11/2021] O ecossistema de startups no Brasil é predominantemente masculino. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), uma em cada quatro empresas não tem nenhuma mulher na equipe. Entre founders, os dados são ainda mais preocupantes: apenas 4,7% das startups foram criadas somente por mulheres, e 90% foram fundadas exclusivamente por homens, de acordo com dados do Distrito.

A mesma dinâmica aparece na relação com investidores. Embora a diversidade de gênero esteja ligada a melhores resultados e valuations maiores, é mais difícil para elas levantarem aportes. Entre os motivos está o fato de existir um problema de diversidade dentro dos próprios fundos de investimento, em que mulheres representam apenas 27% dos profissionais em Venture Capital no país.

Em posições de liderança, mulheres têm melhor desempenho para superar momentos de crise. Segundo Fernanda Caloi, gerente de programas do Google for Startups, isto está ligado a soft skills “de cuidado, de planejamento, de colaboração e de agregar muitos ângulos do problema”.

CADASTRE-SE GRÁTIS PARA ACESSAR 5 CONTEÚDOS MENSAIS

Já recebe a newsletter? Ative seu acesso

Ao cadastrar-se você declara que está de acordo
com nossos Termos de Uso e Privacidade.

Cadastrar

Veja, a seguir, lições de mulheres empreendedoras que estão liderando startups de sucesso no Brasil.

Stephanie Fleury, CEO da DinDin. Em outubro de 2020 tornou-se a primeira mulher a vender uma startup para o Bradesco.

“Reforço o coro de que ser mulher não ajuda a levantar capital. O viés está na cara, não tem outra explicação. Tenho certeza que, se fosse homem, haveria algumas situações em que eu teria captado. Tinha produto pronto e rodando, encontrando o market fit, e o Venture Capital brasileiro exigindo tração. Ao passo que, quando viro a página do jornal, leio notícias de startups fundadas por homens que levantavam investimentos com o projeto no PPT.

Mais do que nunca e como sempre, quem me inspira é a Luiza Helena Trajano, por tudo que ela faz, prega e ensina. Mas tenho vontade de conhecer mais mulheres inspiradoras da área de tecnologia. Fazendo uma autocrítica, nos últimos anos estive muito imersa no meu projeto e olhei pouco para fora.

O meu maior conselho para a empreendedora é: garanta que está resolvendo um problema. Se o produto não resolvê-lo da forma correta, você readapta, ouve o usuário e aprimora a solução. Mas o problema precisa existir. Senão, tem que pivotar. Essa é a grande sacada.”

Deborah Folloni, CEO da Chiligum. Em novembro de 2021, a startup tornou-se a primeira aquisição da norte-americana VidMob, para acelerar expansão global.

“Tenho visto muitas mulheres no mercado de publicidade, mas o problema é o mercado de tecnologia. Praticamente não se inscrevem mulheres nas nossas vagas para a área de tecnologia. É muito desproporcional.

Levanto a bandeira de empreendedorismo feminino. Tem uma frase que gosto muito que diz: ‘Gostaria que cada menina que ouviu alguém dizer a ela que é mandona na verdade ouvisse que tem ótimos skills de liderança’.

Um livro que li recentemente e me inspirou muito foi A Coragem de Ser Imperfeito, da Brene Brown. Fala sobre a importância de abraçar a vulnerabilidade, que normalmente é percebida como uma fraqueza. Ao contrário, tem que ser muito corajoso para mostrar a vulnerabilidade. Para o mundo dos negócios, não existe inovação sem vulnerabilidade, sem se expor ao erro.

Na Chiligum, um dos valores que reforçamos é não ter medo de errar. Sempre falo aos colaboradores: pede desculpa, mas não pede licença. Vai lá e faz.”

Aila Raquel, CEO da Alya Nanosatellites. Primeira mulher a criar uma startup pioneira no Brasil para o setor espacial.

“Ser uma mulher no comando de uma empresa no setor aeroespacial no Brasil já é, por si só, uma disrupção. Além disso, poucas empresas brasileiras atuam no setor de observação da Terra, operando comercialmente, como faz a Alya Nanosatellites. Quiçá empresas baianas.

Acabamos rompendo os padrões também por estarmos mais alinhados com os valores do empreendedorismo social, que não pensa só em gerar lucros e dar retorno financeiro, mas também em solucionar problemas e ajudar outros negócios a transformar realidades.

Como pioneiros, a gente quer mostrar para outras empresas que o setor aeroespacial pode dar certo no Brasil. Os desafios são grandes. No meu caso, começou pelo fato de estar na Bahia. Eu ainda preciso convencer que um negócio de alta tecnologia pode dar certo na Bahia. É muito difícil para os baianos entenderem esse tipo de negócio. Cheguei a ser chamada de maluca. Mas persisti.”

Deborah Alves, COO da Cuidas. Em 2020, a empresa recebeu um aporte de R$ 17 milhões em uma rodada de investimento liderada pela Kaszek Ventures.

“O sucesso no empreendedorismo depende bastante de ter conexões, seja para levantar investimento, recrutar bons profissionais ou alavancar oportunidades comerciais. Quando o mercado é predominantemente masculino, ele acaba sendo mais hostil para as mulheres. Frequentemente te fazem sentir, direta ou indiretamente, que aquele lugar de liderança não é pra você e isso atrapalha bastante o sucesso das mulheres.

Por serem minoria nesses espaços, muitas mulheres acabam se sentindo inferiores e não acreditando em si mesmas, e eu já passei (e ainda passo) por isso. Já perdi oportunidades por não acreditar em mim e nem tentar, e vejo que isso é muito comum entre as mulheres. Eu acredito muito no poder das redes de apoio, onde mulheres incentivam umas às outras. Eu me inspiro bastante com exemplos de empreendedoras bem sucedidas, e também tento mentorear mulheres mais jovens que querem seguir na área de tecnologia.”

Cláudia Labate, CEO da Glic Diabetes. Em parceria com a Sanofi, está expandindo a empresa para Colômbia, depois Peru, Panamá e Caribe.

“O mundo dos negócios foi construído por homens e isso ainda hoje estrutura boa parte de como ele funciona. Muito vem mudando, mas ainda hoje poucas mulheres são sócias de empresas que realizam investimentos em startups.

Acredito que as situações mais desafiadoras são aquelas em que os problemas são sutis, pois é difícil até para a gente mesma identificar. Durante a minha carreira, passei por situações de um homem interromper a minha fala consistentemente e não deixar eu terminar de falar o que estava propondo.

Vivemos relacionamentos, desde criança, que às vezes colocaram a mulher em questionamento sobre o quanto somos capazes e empreender é esse mergulho pra dentro e para fora de nós mesmos. É comum que mulheres se cobrem muito, que busquem a perfeição antes mesmo de ter feito algo, talvez pelo fato de recebermos tantos julgamentos. No mundo do empreendedorismo, isso pode nos engessar, atrapalhando o nosso projeto. A dica que eu me dou todos os dias é: ‘antes feito que perfeito’. Ajustes acontecem sempre, e tem um valor muito grande em fazer algo pequeno, gastando pouco e ir construindo junto com o seu público.”

Cammila Yochabell, CEO da Jobecam. Uma das 10 melhores startups de IA de 2021 (100 Open Startups), foi contratada pelo Bradesco para modernizar processos de seleção.

“Muitas mulheres têm ideias boas, mas poucas conseguem expandir por falta de apoio, seja financeiro, mentoria, conexões. Estamos vendo vários programas de incentivo para empreendedoras mulheres e isto é muito importante, pois precisamos de apoio, acesso a dinheiro e a comunidade de negócios para evoluir, e este espaço é majoritariamente masculino.

Busque mentores que te apoiem, esteja em comunidades de apoio ao empreendedorismo feminino e principalmente, confie em você. Muitas vezes nos sentimos inferiorizadas devido a alguma atitude machista, e este sentimento acaba descredibilizando toda a nossa história. É nesta hora que a rede de apoio e os mentores certos irão te suportar para que você possa seguir em frente. Já tentaram me descredibilizar muitas vezes, não é fácil mas não permita que ninguém diga que você não é capaz.

Iniciativas de empreendedorismo que não atraem e incluem pessoas diversas, em especial mulheres e negros, já não são bem vistas. A era da predominancia do homem, cis, branco e de faculdade de primeira linha está, aos poucos, dando lugar a pessoas plurais.”

Ingrid Barth, COO da Linker. Fundada em 2019, com foco em PMEs, a startup acaba de ser comprada por R$ 120 milhões pela Omie.

“Muitas vezes a opinião de mulheres não é tão ouvida e bem interpretada pelo outro gênero. É um desafio diário encontrar nosso espaço dentro do mundo corporativo, e mostrar que somos tão competentes quanto os homens, e que fazer essa diferenciação não agrega para nada e nem para ninguém. O grande desafio é quebrar os paradigmas impostos pela sociedade e demonstrar que somos capazes de construir o sucesso todos juntos.

As mulheres estão cada vez mais prontas e dispostas para os desafios profissionais, e para vida, diga-se de passagem. Um dos movimentos interessantes do momento é que as áreas das empresas também estão se dando a oportunidade de trazer profissionais e formar um time super diversificado.

Coloque seus sonhos e objetivos em prática. Não será uma jornada fácil, eu sei bem disso (risos), mas o caminho é gratificante repleto de pessoas e momentos que fazem tudo valer a pena. Não tenha medo do futuro, e sempre lembre que você e seu empreendimento estarão fazendo a diferença na vida de outras pessoas.”

25 jovens cientistas estão mudando o mundo

Inteligência Artificial

25 jovens cientistas estão mudando o mundo

O Fórum Econômico Mundial divulgou a lista dos 25 jovens cientistas que lideram hoje pesquisas que terão impacto nas mais variadas áreas da vida humana, da engenharia de tecidos a navegação espacial

Por Redação The Shift
Como futuristas podem impactar a indústria

Inovação

Como futuristas podem impactar a indústria

A maioria das grandes empresas possui um setor em que uma equipe de futuristas trabalha para antever cenários, tendências e produtos. Mas em muitos casos, só querem saber das tendências

Por Soraia Yoshida
Contra a má conduta e a cultura tóxica no trabalho remoto

Entrevista

Contra a má conduta e a cultura tóxica no trabalho remoto

Em entrevista exclusiva, a empreendedora Rafaela Frankenthal explica como a plataforma SafeSpace ajuda empresas a reforçar uma cultura positiva de trabalho até em home office

Por João Ortega