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Carla De Bona é Diretora de ensino e Confundadora da {reprograma}
ENTREVISTA

Reprograma faz escola contra o gap de gênero na tecnologia

As mulheres, especialmente as negras e transexuais, ainda são minoria no mercado de tecnologia. A {reprograma} oferece cursos gratuitos de programação para mudar esse cenário, como conta a Cofundadora e Diretora de ensino Carla De Bona.

Ainda é solitário ser mulher na tecnologia. Em uma área dominada por homens, poucas conseguem ocupar cadeiras nas graduações, nos times e nas lideranças. O que falta não é capacidade ou vontade, mas incentivo e apoio para mostrar que a tecnologia também é lugar de mulher apesar da sociedade tentar colocá-las em outras caixinhas. É aí que entra a {reprograma}, uma startup social que luta para reduzir o gap de gênero no setor por meio da educação. A escola de programação vai além do código, empoderando suas alunas para tornar a tecnologia mais feminina.

Vagas de trabalho no setor existem aos montes. A estimativa da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) é que o Brasil terá uma demanda de 420 mil profissionais da área até 2024, mas só forma 46 mil pessoas por ano. Os grandes beneficiados pelas oportunidades continuam sendo os homens. De acordo com um levantamento financiado pelo International Development Research Centre (IDRC), as mulheres não chegam a ocupar um terço do mercado brasileiro de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, na sigla em inglês).

“Todos os cursos pagos e gratuitos que existem no Brasil não estão dando conta da demanda da área de tecnologia. O gap está cada vez maior. A gente talvez resolva dois problemas. Tratamos a questão da diversidade e, ao mesmo tempo, ajudamos a reduzir esse gap gigantesco de mão de obra”, afirma Carla De Bona, Cofundadora e Diretora de ensino da {reprograma}, que criou a startup social juntamente com Mariel Reyes Milk, CEO e fundadora, e Fernanda Faria, Diretora de Operações e Cofundadora. Desde 2016, a empresa já formou mais de 700 mulheres apenas nos cursos para adultos.

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Formar desenvolvedoras não basta. É preciso garantir uma representatividade verdadeira. Em um país racista e transfóbico como o Brasil, as mulheres negras e transexuais estão ainda mais distantes de uma oportunidade de formação na área. Esse é mais um problema que a {reprograma} tem trabalhado para resolver: 61% das alunas das turmas já finalizadas pela startup são negras e 3% trans.

O trabalho chamou a atenção do BID Lab (Laboratório de Inovação do Grupo Banco Interamericano de Desenvolvimento), que se juntou com a {reprograma} para criar a iniciativa Todas em Tech. Com capacitação em programação front-end e back-end, o projeto usa o ensino para dar a oportunidade de um futuro melhor para mulheres em situações de vulnerabilidade social, econômica e de gênero. Todas as turmas do programa destinam, no mínimo, 55% das vagas para negras e 5% para trans e travestis.

O Google é outro nome de peso que está do lado da {reprograma}: a startup é uma das 34 organizações mundiais selecionadas para o Desafio de Impacto do Google.org para Mulheres e Meninas. Além de ampliar os bootcamps de programação, o apoio também será usado para ofertar um curso de formação em Python, criar um programa avançado de JavaScript para ajudar as mulheres a subirem na carreira e lançar o “Train the Trainers”, programa focado em treinar novas professoras de tecnologia.

Em entrevista exclusiva, Carla De Bona conta como a {reprograma} está trazendo mais mulheres e diversidade para a tecnologia.

Disrupção é…

“Imaginar algo que ainda não existe, um futuro que talvez nem seja possível visualizar, mas que a gente já começa a construir. Disrupção tem muito a ver com algo novo e desconhecido, mas que é construído no presente para acontecer no futuro.

A nossa escola não é só uma escola de código, isso dá para aprender em outros lugares. Não precisaria ser na {reprograma}. O nosso foco é criar esse espaço para que a mulher se sinta empoderada porque a gente percebe nitidamente que existem várias alunas muito capazes de aprender código, mas que ficam se boicotando por pensar que essa área não é para elas ou que elas não servem para esse trabalho.

Além disso, existe essa coisa de perfeição na mulher. Muitas alunas escrevem o código e, se não funcionar de primeira, ao invés de tentar descobrir onde está o erro, elas apagam tudo porque acham que essa falha é um indicativo que elas realmente não servem para isso.

Nós focamos bastante em mudar esses paradigmas, tanto que a {reprograma} tem uma orientadora educacional. Também oferecemos uma semana focada em carreira que busca ajudá-las a recontar sua história. Muitas estudantes ficam inseguras pensando que ninguém vai contratá-las porque elas não têm experiência ou têm outra formação.

Na verdade, ter outra formação é um plus porque essa mulher aprende a codar e traz uma perspectiva muito nova e fresca dessa outra área que ela já tem conhecimento. A gente tenta mostrar para ela que é preciso contar a sua história e se empoderar. Essa história faz parte de cada mulher. Depois do nosso curso, além de tudo que ela já fez antes, ela também é uma desenvolvedora. A gente entende que não é só o código pelo código.

Existe a síndrome de impostora, essa necessidade de acertar de primeira e ser perfeita. A gente tem que ajudar bastante essas mulheres a se colocarem nesse mercado e estarem preparadas para lidar com as adversidades.

Várias coisas acontecem antes de alguém escolher uma faculdade ou considerar uma profissão em tecnologia. Esse processo começa quando se é criancinha e o videogame é brinquedo de menino, não de menina.

Existe até uma coisa da publicidade, tem uma propaganda bem marcante da Apple que mostra uma menina triste olhando um computador estragado. Então, vem um menininho, aperta um botão e tudo volta a funcionar.

Essas pequenas coisas vão construir um estereótipo que faz as meninas entenderem que tecnologia não é para elas e que elas não servem para isso.

Depois tem o fator de que falam que Matemática e Exatas é coisa de menino. Tem toda uma estrutura social que faz com que as mulheres fiquem cada vez mais distantes da tecnologia.

Mesmo assim, ainda tem aquelas meninas que decidem entrar na área. Ao começar a ter aula, a primeira coisa é que a mulher não tem um par na faculdade. Em uma sala, ela vai ter, no máximo, uma ou duas colegas.

Provavelmente, essa aluna também não vai ter nenhuma professora. Não tem representatividade. Aí, ela pensa que isso realmente não é para ela. Por isso, acontecem tantas desistências na própria faculdade. Vão surgindo várias coisas que criam esse negócio errado de que essa área não é para mulheres.

Ainda é um ambiente muito machista, tem todo um estereótipo que fica sendo legitimado o tempo inteiro. Depois de contratadas, continuam a enfrentar dificuldades impostas pelo machismo.

Nós colhemos feedbacks das nossas alunas para saber onde elas estão e como está a carreira. Também perguntamos como é o processo nas empresas, até para saber quais companhias estão preocupadas em criar um ambiente mais amigável e focado na equidade.

Por mais que não seja nosso foco, a gente tenta ajudar as companhias nesse processo. Já conseguimos ver essa evolução justamente porque estamos tendo mais oportunidade. Nos últimos 2 anos, conseguimos escalar mais e gerar mais impacto, mesmo com a pandemia porque as empresas começaram a chegar junto.

As companhias começaram a entender que trazer mulheres para a tecnologia também é uma demanda delas, inclusive porque existe uma cobrança por parte da sociedade. Existem empresas buscando mudar e os estudos mostram que quanto mais diversidade, mais inovação é gerada.

Ao ter mais diversidade, a empresa começa a entregar produtos mais completos e que dão conta das especificidades das pessoas.

Os algoritmos têm o viés de quem está programando. Existem cases de problemas seríssimos no algoritmo do Google, baseados tanto no que o buscador aprende com a sociedade dando seus inputs, quanto no próprio viés presente na estrutura do algoritmo. Existe viés racista, tem até um documentário na Netflix que mostra isso. [Coded Bias, da cineasta Shalini Kantayya] Acho que quanto mais trouxermos diversidade para a tecnologia, mais vamos conseguir dar conta da própria diversidade da sociedade como um todo.

A Mariel é peruana, mas trabalhava no Banco Mundial e veio morar no Brasil. O marido dela [David Vélez] estava desenvolvendo o Nubank. A startup estava em um momento de expansão contratando muitos desenvolvedores e Mariel perguntou por que ele não estava contratando mulheres. A resposta foi que não havia profissionais disponíveis. Se não tem mulher na tecnologia hoje, imagina antes.

Mariel estava em contato com outros projetos e buscava empreender com algo de impacto social. Então, começou a olhar para o gap de gênero. No Brasil, existiam iniciativas focadas nessa questão, mas eram muito pontuais e curtas. Elas apenas sensibilizavam as mulheres, não formavam essa mulher para entrar no mercado de trabalho. Isso começou a virar o foco de Mariel.

Paralelo a isso, eu tenho uma formação toda em tecnologia e sempre fui a única mulher em vários cenários. Mais ou menos nessa época, eu comecei a dar aula de tecnologia na universidade. Quando entrei na sala, olhei a turma e só tinha uma ou duas alunas em uma classe com 30 pessoas.

Logo pensei: ‘Faz dez anos que eu estou na tecnologia. Quando eu era estudante, me sentia sozinha e nada mudou’. Então, comecei a buscar projetos que estivessem impactando mulheres de alguma forma.

Conheci o Minas Programam e fui conectada com Mariel. Ela estava começando a montar o projeto do {reprograma} e buscava pessoas que queriam ajudar. Começamos a conversar e eu me ofereci para trabalhar para fazer o programa dar certo.

Eu estava muito empolgada com o processo. Rodamos a primeira turma em 2016, com um curso de seis semanas. Isso ainda não resolvia o problema de ser um bootcamp mais longo, mas ainda era um MVP. Estávamos começando e tínhamos que fazer testes.

Foi assim que a {reprograma} começou. Nesse processo, Fernanda conhecia a Mariel por um por um amigo em comum e nos conectamos. Foi muito legal porque ela entrou com a mesma energia. A gente tem uma energia muito de vamos fazer, vamos acelerar. Mais do que isso, cada uma se completa.

A Mariel é muito de business, de olhar para o negócio, para os números, entender e ter uma visão de estratégia. Eu sou muito mais ensino, de pensar como o curso vai ser modelado, como criar um produto que faça sentido para as empresas e para as alunas. Fernanda é muito focada em operação, RH, seleção. A gente foi se complementando e, ao institucionalizar a {reprograma}, Mariel nos convidou para ser sócias.

Nos dois primeiros anos da {reprograma} oferecemos cursos curtos. Começamos com cursos de seis semanas e, depois, aumentamos para oito. Mas existiam questões muito específicas, por exemplo, não tínhamos um espaço e nossos professores eram todos voluntários.

Ao mesmo tempo, nesses dois primeiros anos, começamos a ter alguns cases de alunas que mesmo com um curso que não era o ideal, conseguiram transicionar de carreira. Isso aconteceu logo na turma 1. Era uma mulher que sempre gostou de games, mas fez faculdade de arquitetura. Ela fez a formação de seis semanas e conseguiu mudar de carreira. Ela era muito autodidata e esforçada, e ainda entrou em uma empresa que a ajudou a continuar se desenvolvendo. Agora, ela é desenvolvedora sênior.

A gente ainda não media a taxa de empregabilidade. Pensamos que se isso já estava acontecendo, era preciso aumentar o tempo de curso para conseguir focar em mulheres mais vulneráveis e trazer ainda mais diversidade para a tecnologia. Para aumentar o tempo do curso, precisávamos de um investimento maior.

Durante o processo de procurar parceiros, continuamos rodando o que era possível. Pensamos em não fazer o perfeito, mas o que dava para ser feito. Isso ajudou a mostrar que o nosso trabalho era sólido.

Quando a Estação Hack, que é um braço do Facebook, veio para o Brasil, uma das frentes se tornou mulheres na tecnologia.

A Estação Hack escolheu nos ajudar a escalar a {reprograma}. Dissemos que a gente precisava de espaço para dar um curso mais longo e dinheiro para pagar os professores e transformar a iniciativa em algo mais profissional, deixar de ser uma coisa voluntária.

Depois de dois anos de existência, entramos na Estação Hack, onde rodamos a nossa primeira turma de 18 semanas. A partir daí, começamos a medir nossa taxa de empregabilidade.

O projeto foi amadurecendo. Começamos a ter mais tempo de curso, uma melhor infraestrutura e dar mais suporte para as alunas. Ao mesmo tempo, passamos a ver as vulnerabilidades de algumas mulheres e ter como fazer alguma coisa.

No início, tínhamos poucos recursos, acabávamos selecionando mulheres que queriam entrar na área. Não existia essa preocupação. Mas fomos amadurecendo e o projeto foi ganhando corpo.

Começamos a pensar em qual diversidade queremos trazer para a tecnologia. A gente não queria só mulheres brancas e começamos a buscar turmas mais plurais.

Estabelecemos metas com todos os parceiros, inclusive no projeto Todas em Tech, feito em parceria com o BID Lab e focado em mulheres negras e trans.

No caso das mulheres trans, tivemos que nos remodelar. No início, a gente pedia ensino médio completo para as nossas alunas porque isso facilitava a empregabilidade nas empresas. Quando você não tem ensino médio completo é mais difícil, burocraticamente falando.

Em um primeiro momento, a gente nem se ligou que esse pré-requisito acabava excluindo mulheres, como as trans e travestis. Fomos aprendendo no próprio processo e tivemos que remodelar nossa seleção. Mais do que isso, tivemos que começar a trabalhar com as empresas e criar culturas.

Mostramos que se uma empresa realmente quer diversidade, ela precisa parar para olhar para seus parâmetros porque eles podem estar barrando a diversidade.

Ainda existe uma dificuldade de captar, essa é a nossa dor. É mais difícil captar mulheres trans do que negras. Nossa Community Manager, Cléo Almeida, faz um esforço muito grande para descobrir e se conectar com comunidades, trazer essas mulheres e mostrar que elas têm uma oportunidade de estudar na {reprograma}. É um trabalho diário. Não foi só falar vamos focar nisso e apareceu um monte de gente. É uma construção, assim como a própria {reprograma} foi ao longo de anos.

No início, captávamos mais mulheres brancas porque a oportunidade era divulgada nas nossas redes sociais e caía nelas. Mas nosso processo de seleção foi amadurecendo. Hoje, o foco é mulheres negras. Se a candidata é negra, ela acaba pontuando mais.

No processo seletivo, a mulher preenche o formulário. Uma coisa importante é demonstrar que ela quer virar uma profissional da área. Se o foco da {reprograma} é reduzir o gap de mulheres na tecnologia, a gente precisa que as alunas atuem na área, não só façam o curso por ser algo legal.

Também contratamos uma plataforma que faz análise de perfil, principalmente por entender que temos alunas com níveis diferentes, algumas podem já ter tido contato com tecnologia, outras não tiveram contato algum.

As alunas precisam entender que é necessário se ajudar. Dá para chegar na tecnologia sozinha, é mais difícil, mas é possível. Só que isso não adianta porque essa mulher vai ficar isolada. É um ambiente muito machista e ter voz nesse espaço é mais difícil.

Também temos um workshop prático. Antes de começar o curso, a candidata tem contato com o nosso jeito de ensinar, com a professora que vai dar o curso. É uma experiência prática de um dia, no qual ela tem que fazer uma entrega. Nesse processo de análise, a equipe de seleção olha para todos esses pontos e fecha a turma que vai entrar naquele momento.

Oferecemos dois cursos de 18 semanas para mulheres adultas. Um focado em font-end e outro de back-end. Ambos são de JavaScript, que é uma linguagem de fácil entrada para uma mulher que normalmente nunca teve contato com tecnologia. Depois desse bootcamp, ela pode entrar no mercado.

A gente tenta balancear as demandas. Eu tenho uma aluna que nunca teve contato com a tecnologia. Tenho que escolher uma linguagem que a faça se sentir empoderada e permita que ela consiga perceber que está produzindo e aprendendo. Ao mesmo tempo, eu tenho que atender a demanda do mercado para que eu possa empregar essas mulheres.

Também temos um curso teens, que é de seis semanas para adolescentes de até 17 anos. É uma coisa de sensibilização, queremos mostrar para essa adolescente que tecnologia é uma carreira legal e fazer com que ela considere essa área quando for escolher uma profissão.

Além disso, fizemos uma parceria com a Amaro, com minicursos de final de semana. É um workshop prático para sensibilizar mulheres, mas essa foi uma parceria pontual desse semestre. O projeto vai causar algum impacto, por mais que não seja o da empregabilidade.

Já o Todas em Tech é um projeto focado em mulheres negras e trans. Começou a replicar esse foco em todas as nossas turmas. O BID lab financiou esse projeto por dois anos e um comitê de empresas [formado por Accenture, Creditas, iFood, Meta e Nubank] está nos ajudando a modelar o curso. O foco é nas turmas online para atender mulheres de todo o Brasil.

O Todas em Tech também tem um braço focado em pensar contratação para ajudar as empresas e as alunas a darem um match. Estamos estruturando a nossa plataforma de contratação para estar bem próximo de quem está contratando, entendendo as demandas das companhias e colocando as nossas alunas em evidência.

No presencial, existia um evento de Speed Hiring. Estamos pegando o que foi aprendido nessa iniciativa presencial de contratação e adaptando para o online.

Já estamos rodando uma versão MVP da plataforma. Agora, nossas alunas do Todas em Tech e as empresas estão dando feedbacks para que possamos evoluir a plataforma. A ideia é escalar para todos os cursos de empregabilidade de mulheres adultas quando o produto estiver sólido.

Na {reprograma}, sempre gostamos de começar pequenininho. Primeiro, fazemos um teste e, depois, vem a escala. Também foi assim com os cursos online.

Um sonho era que a {reprograma} chegasse em todos os lugares do Brasil. Isso foi algo abordado na primeira conversa que tive com Mariel. Mas existem algumas limitações e a gente nunca conseguiu sair muito de São Paulo.

Antes da pandemia, olhando para o nosso produto e para a demanda, decidi estruturar um modelo de curso online para testar se dava para pegar a experiência do presencial e levar para o online.

Naquele momento, quando as pessoas iam fazer o curso online, ele era gravado. Lá atrás, eu tomei a decisão de fazer um curso online ao vivo porque era o jeito de tentar trazer alguns inputs do presencial e deixar esse formato menos mecânico.

Montamos um curso de 8 semanas, não de 18. O foco não era empregabilidade, mas entender como conseguir chegar em outras mulheres do Brasil. Fizemos um microteste e conseguimos uma taxa de retenção muito alta, de mais de 90%.

Conversamos com alguns parceiros, que se impressionaram com essa taxa. Nisso, conseguimos uma parceria com a Accenture e a Digital House, que financiaram mais três turmas online de oito semanas porque queriam entender e aprender o que a gente tinha feito de diferente para ter uma retenção tão alta.

Com isso, conseguimos amadurecer o processo online. Quando aconteceu a pandemia, a {reprograma} estava rodando uma turma presencial e começando a outra online. A presencial teve que transicionar para o online, mas não foi um processo tão dolorido porque já estávamos mais preparadas.

Sempre tentamos encontrar um jeito de fazer um teste pequeno para não perder a qualidade do que já foi construído. Quando entendemos que aquilo amadureceu, escalamos. Agora, todos os cursos online são de 18 semanas. Desde que começou a pandemia e o Todas em Tech é assim.

O Todas em Tech é um projeto de 2 anos, que começou a rodar em 2021. O BID entrou em contato com a gente em 2020 para entender o projeto. A partir disso, a organização entendeu que fazia sentido a {reprograma} integrar o grupo de empresas que eles iam investir. Em paralelo, foi montado um comitê de companhias para nos ajudar com esse processo.

Também fomos selecionadas para o Desafio de Impacto do Google para Mulheres e Meninas. Com esse apoio, nosso foco é ampliar os bootcamps de programação e ter várias turmas em paralelo. Além disso, estamos com três novas frentes bem interessantes.

O mercado tem uma demanda bem grande de Python. Essa é uma linguagem amigável para que mulheres com zero contato ou apenas um conhecimento introdutório em tecnologia possam aprender e dar o primeiro passo na área. Esse curso de 18 semanas de Python já estava sendo modelado e foi uma das coisas que entraram nesse projeto com o Google.

Outra coisa é a nossa vontade de ajudar as mulheres a subirem de nível. Existem vários problemas na tecnologia. Se falta mulher na área, também é difícil ver mulheres como líderes de tecnologia.

Entendemos que tem que ajudar as mulheres juniores que estão entrando no mercado e querem subir na carreira. Por mais que seja 18 semanas, o nosso curso inicial é diferente de uma faculdade de quatro anos. Focamos na prática porque precisamos fazer com que as estudantes ganhem volume de prática para poderem disputar vagas com pessoas que se graduaram nessa área e têm uma base conceitual mais forte.

Entendendo isso, vamos fazer um curso avançado de JavaScript, que vai servir tanto para nossas ex-alunas quanto para mulheres que sentem que precisam solidificar fundamentos e conceitos de tecnologia. Vai ser algo um pouquinho mais curto, de 12 semanas, focado em pessoas já empregadas para ajudá-las a buscar novas oportunidades, um salário melhor, a subir de nível.

O nosso projeto maior com o Google, que me deixa muito feliz porque sou professora, é o “Train the Trainers”, que vai treinar novas professoras. Estamos pensando em escala, em fazer a {reprograma} crescer muito e ajudar as mulheres a impactarem outras mulheres.

Nos primeiros dois anos de {reprograma}, os cursos tinham professores homens porque a gente estava trabalhando com voluntários. Aceitávamos quem quisesse ajudar e estivesse disponível. Mas nossas alunas questionavam o fato da gente querer colocar mais mulheres na tecnologia, mas ter homens dando aula.

Isso era o que dava para fazer naquele momento, mas sabíamos que era preciso evoluir. Com a ida para a Estação Hack, conseguimos pagar as pessoas e decidimos só ter professoras mulheres.

Então, percebemos que existem poucas professoras mulheres. O que é reflexo do gap de gênero na tecnologia. Começamos a nos preocupar em formar professoras para ter essas profissionais.

Era um processo muito um para um. Naquela época, eu dava aula. Quando estava na sala, eu ficava observando o perfil das alunas. Se alguma estudante gostava mais de ajudar a outra, perguntava bastante e queria entender como as coisas funcionavam, eu a chamava para conversar para saber se ela tinha interesse em dar aula. Normalmente, a resposta era ‘imagina, eu acabei de sair do curso, sou muito insegura’.

Era todo um processo de ajudá-la a se colocar no papel de que ela pode ser uma referência para outras mulheres. Começamos a fazer esse trabalho de formiguinha na turma 5, quando entramos na Estação Hack. Com isso, construímos uma base grande de mulheres.

Algumas das nossas alunas começaram a sair do curso e, além de entrar no mercado, passaram a criar as suas próprias iniciativas. Por exemplo, Silvia Coelho criou o Elas Programam.

Além de formar professoras para a {reprograma}, outras iniciativas começaram a contratar as nossas alunas. Isso é bom para a própria comunidade por gerar mais impacto. Levamos isso para o Google e eles disseram que a gente tinha que criar esse formato de curso voltado para fazer mulheres formarem outras mulheres.

Até o momento, nosso foco é oferecer cursos gratuitos até para poder forcar em mulheres vulneráveis, que não teriam outra oportunidade. Para isso, buscamos o financiamento de empresas.

Em um primeiro momento, a Estação Hack nos ajudou a mostrar o que a gente sabia fazer. Comprovamos que com tempo e espaço, dava para formar essas mulheres e colocá-las no mercado. Foi o que acabou acontecendo. Na turma 5, a nossa taxa de empregabilidade foi bem alta. Em pouco tempo, empregamos todas elas.

A Estação Hack é muito um espaço de networking, muitas empresas vão lá para conhecer o local, as iniciativas, conversar com o Facebook, levar alguma proposta. É um espaço que fomenta a conexão entre as empresas.

Nesse processo, fechamos a parceria com a Accenture, que financiou turmas desde a segunda turma que rodou dentro da Estação Hack. Foi por causa deles que a gente conseguiu estruturar o curso de back-end.

A Accenture nos indicou para o Mercado Livre e criamos uma turma específica para eles. Ainda nesse ano, fizemos o Conectadas, em parceria com o Mercado Livre e Chicas en Tech, uma outra organização da América Latina focada em tecnologia.

Começamos a ter essas parcerias e a coisa foi caminhando. Nesse processo, tivemos contato com outras empresas e chagamos a fechar parcerias menores para ter algum dinheiro e conseguir rodar as nossas turmas.

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