Entre as dinâmicas que vão moldar a agenda dos CEOs estão o momento de escalar a Inteligência Artificial e a IA Generativa, assim como o custo crescente da falta de iniciativas sustentáveis
2025 nem bem começou e os CEOs querem muito mais: investidores dispostos a colocar dinheiro no crescimento da organização, expansão das operações para novos territórios, redução de custos, aumento da produtividade e ROI com IA. Mas as dinâmicas que vão moldar as agendas de CEOs vão atualizar as conversas que têm lugar desde 2024, como aponta esta análise do BCG para o Fórum Econômico Mundial.
De acordo com pesquisa realizada pela BCG, além de mirar em crescimento, CEOs devem estar atentos aos seguintes pontos:
Tarifas, competitividade global e ascensão do Sul Global: As mudanças nas políticas comerciais, principalmente as relacionadas às tarifas entre EUA e China, exigirão que os CEOs reavaliem suas cadeias de suprimentos e estratégias de alocação de capital. O BCG estima que o valor do comércio anual entre os EUA e a China sofreria uma redução de US$ 159 bilhões até 2033. Mas em um cenário extremo, no qual os EUA impõem tarifas de 60% sobre todos os produtos importados da China e de 20% sobre as importações do resto do mundo, o comércio entre os EUA e a China sofreria uma redução de mais 27%. Isso deve abrir oportunidades para o Sul Global, um grupo de 133 nações (não incluindo a China), que deseja fazer negócios com todos, independentemente das linhas geopolíticas, o que os deixa bem posicionados para se beneficiarem das mudanças no comércio global.
Momento para escalar IA/GenAI: Embora 75% dos altos executivos classifiquem a IA como prioridade estratégica, apenas 25% estão obtendo valor significativo desses investimentos, segundo dados do BCG. O envolvimento direto do CEO é fundamental para alinhar a agenda de IA com a estratégia corporativa. “Os CEOs também podem liderar a mudança cultural e organizacional para que esses esforços sejam bem-sucedidos. Isso inclui o uso da IA para entender como a tecnologia funciona e definir uma agenda de aprendizado robusta (e fontes) para eles mesmos”, cita
Judith Wallenstein, Diretora Administrativa e sócia sênior do BCG (Boston Consulting Group), no texto para o Fórum Econômico Mundial.
O custo crescente da inação climática: Eventos climáticos severos já causaram mais de $3,6 trilhões em danos desde 2000, com riscos acelerando. Os CEOs precisam priorizar investimentos em adaptação e resiliência climática. O BCG estima que, se a mudança climática não for controlada, os riscos físicos que o clima extremo representa para as empresas poderão colocar em risco de 5% a 25% de seu Ebitda nas próximas duas décadas. As empresas preveem que retornarão de US$ 2 a US$ 19 para cada dólar investido em medidas de adaptação e resiliência.
Crescimento com gestão de custos permanente: Um terço de CEOs listou a redução de custos como prioridade crítica para 2025, mas as empresas atingem apenas 48% de suas metas de economia em média. “Cerca de 40% se sentem despreparados para possíveis choques de mercado, enquanto os executivos norte-americanos e europeus estão cada vez mais preocupados com o impacto que as taxas de juros, a inflação e as possíveis mudanças tarifárias e regulatórias terão sobre as margens e a rentabilidade”, cita o texto. O aperto de cinto fragmentado pode produzir uma economia repentina, mas, assim como uma dieta radical, os efeitos provavelmente serão passageiros. Por outro lado, ao comunicar uma perspectiva clara sobre onde e como a economia de custos será reinvestida em crescimento e inovação, os CEOs podem mobilizar toda a empresa em torno da eficiência de custos para obter resultados mais duradouros e sustentáveis.
Toda empresa precisa de um “CEO Unificador”. Em um mundo cada vez mais polarizado, os CEOs têm a oportunidade de unir suas equipes em torno do propósito da empresa. Superar as divisões da força de trabalho é um crítico para o desempenho da organização. A pesquisa do BCG revela que os funcionários que se sentem altamente incluídos no trabalho têm 42 pontos percentuais a mais de probabilidade de se sentirem motivados. Eles também apresentam níveis mais baixos de esgotamento.
Em 2024, houve muita conversa sobre a “perda de influência dos funcionários”, com a ampliação dos mandatos “de volta para o escritório”. Mas o movimento contrário – colaboradores pedindo demissão ou deixando de se empenhar, praticamente uma demissão “na miúda” (quiet quitting) –, aliado à escassez de profissionais qualificados em várias áreas, fez com que muitas organizações optassem por “tratamentos diferenciados”. Conforme a necessidade para reter o talento, acordos diferentes.
Outro ponto que não deve mudar: a pressão sobre os CEOs deve se manter, o que provavelmente fará com que a “dança das cadeiras” registrada no ano passado se repita. Em 2024, dos 191 diretores de empresas do Russell 3000 Index que deixaram seus cargos, 74 (quase 40%) foram demitidos ou forçados a sair, de acordo com dados da Exechange.
No geral, não difere do pacote de desejos de 2024, como mostram os gráficos a seguir do levantamento “CEO Survey”, da Deloitte. A pesquisa, que ouviu CEOs de organizações de alto desempenho, aponta para a vontade de buscar o crescimento, mesmo em um cenário desafiador.
Adaptação ao clima econômico desafiador
O ambiente econômico desafiador tem levado as empresas de alto crescimento a priorizar a rentabilidade sobre o crescimento a qualquer custo. As principais medidas que os CEOs estão adotando incluem:
Redução de custos: 20,5% planejam implementar estratégias de redução de custos.
Extensão do runway de saída: 14,5% optam por estender o prazo para uma potencial saída ou venda da empresa.
Pausa nas contratações: 9,64% estão congelando novas contratações.
Realocação de pessoal: 9,64% consideram realocar funcionários para outras jurisdições.
Fusões e aquisições em situações de estresse: 3,61% exploram essa opção.
Curiosamente, 51,8% de CEOs afirmam não planejar mudanças significativas, indicando uma mistura de cautela e otimismo entre as lideranças organizacionais.
Levantamento de capital: Otimismo persiste
Apesar do ambiente de financiamento mais desafiador, os CEOs de empresas de tecnologia de alto crescimento mantêm-se otimistas quanto aos planos de captação de capital:
56,6% pretendem levantar capital de crescimento nos próximos 1-3 anos.
77,8% indicam que o investimento de capital de risco (VC) é sua forma preferida de investimento.
28,9% expressam interesse tanto em financiamento de VC quanto em dívida.
Expansão internacional: EUA ainda estão no topo da lista
A expansão internacional permanece uma prioridade para muitas empresas, com os Estados Unidos mantendo sua posição como o mercado mais atraente. Segundo o estudo da Deloitte, 62,5% dos CEOs planejam expandir para os EUA nos próximos 1-2 anos.
A Europa, incluindo os países nórdicos, aparece em segundo lugar, com 53,8% dos CEOs considerando expandir para a região. A proximidade geográfica e cultural com o Reino Unido é um fator importante nessa escolha.
O Oriente Médio e a região Ásia-Pacífico também despertam interesse significativo, com 32,7% dos CEOs considerando cada uma dessas regiões para expansão. O Oriente Médio, em particular, tem atraído atenção devido à sua crescente diversificação econômica e investimentos em infraestrutura. Um relatório do UBS projeta que a economia digital do Oriente Médio deve crescer mais de quatro vezes, atingindo cerca de US$ 780 bilhões até 2030.
Inteligência Artificial: O novo imperativo estratégico
A Inteligência Artificial (IA) se mostrou uma prioridade crítica para os CEOs em 2024, com implicações para 2025 e além. Segundo o estudo “CEO Outlook” da KPMG:
64% dos CEOs globais estão dispostos a investir em IA, independentemente das condições econômicas.
76% acreditam que a IA não reduzirá fundamentalmente o número de empregos em suas organizações nos próximos três anos.
No entanto, os CEOs reconhecem desafios importantes na implementação da IA:
Apenas 38% se mostram confiantes de que seus funcionários possuem as habilidades adequadas para aproveitar plenamente os benefícios da IA.
58% concordam que a integração da IA Generativa os fez repensar as habilidades exigidas para cargos de nível inicial.
61% identificam os desafios éticos como uma das questões mais difíceis de serem abordadas ao implementar IA em seus negócios.
Os CEOs veem o potencial da IA para:
Aumentar a eficiência e produtividade – 16%
Preparar a força de trabalho para o futuro – 14%
Promover a inovação dentro das organizações – 13%
No entanto, 63% dos CEOs admitem que o retorno sobre o investimento (ROI) em IA provavelmente só será alcançado em um período de três a cinco anos.
Trabalho remoto: o debate continua
Um dos temas mais controversos para os CEOs em 2024, com implicações claras para 2025, é o debate sobre o retorno ao modelo presencial. O estudo da KPMG revela uma mudança significativa na postura dos CEOs:
83% esperam um retorno total ao escritório nos próximos três anos, um aumento expressivo em relação aos 64% de 2023.
87% dos CEOs dizem que provavelmente irão recompensar os funcionários que fizerem um esforço para ir ao escritório com responsabilidades mais favoráveis, aumentos salariais ou promoções.
Curiosamente, há diferenças geracionais e de gênero nessa expectativa:
75% dos CEOs entre 40 e 49 anos esperam um retorno total ao escritório.
83% dos CEOs entre 50 e 59 anos têm essa expectativa.
87% dos CEOs entre 60 e 69 anos antecipam o retorno completo.
84% dos CEOs homens preveem um retorno completo ao escritório dentro de três anos, contra 78% das CEOs mulheres.
Essa postura mais rígida dos CEOs contrasta com as expectativas de grande parte dos funcionários, que valorizam a flexibilidade do trabalho remoto ou híbrido.
Desafios na atração de talentos e desenvolvimento de habilidades
Os CEOs estão cada vez mais preocupados com questões relacionadas a talentos:
Quase um terço dos CEOs está preocupado com as mudanças no mercado de trabalho, especialmente em relação ao número de funcionários que irá se aposentar em breve e a falta de trabalhadores qualificados disponíveis para substituí-los.
80% dos CEOs concordam que as organizações devem investir em desenvolvimento de habilidades e aprendizagem ao longo da vida dentro das comunidades locais para ajudar a proteger o acesso a futuros talentos.
92% dos líderes esperam que esse compromisso local ajude a aumentar o número de funcionários em geral de suas equipes nos próximos três anos.
ESG: Navegando um cenário cada vez mais politizado
As questões ambientais, sociais e de governança (ESG) continuam sendo uma prioridade para os CEOs, mas o cenário está se tornando cada vez mais complexo e politizado:
24% dos CEOs reconhecem que a principal consequência de não atender às expectativas em questões ESG seria dar vantagens competitivas aos concorrentes.
76% dos CEOs afirmam que estariam dispostos a desinvestir uma parte lucrativa do negócio caso isso estivesse prejudicando a sua reputação.
68% afirmam que tomariam uma posição sobre uma questão política ou social controversa, mesmo que o conselho levantasse preocupações a respeito.
No entanto, os CEOs enfrentam grandes desafios nessa área:
66% dos CEOs admitem que não estão totalmente preparados para lidar com a avaliação e as expectativas dos acionistas em relação às questões ESG.
69% revelam que, embora tenham mantido as mesmas estratégias relacionadas ao clima nos últimos 12 meses, adaptaram a linguagem e a terminologia usadas internamente e externamente para atender às novas expectativas dos stakeholders.
30% afirmam que a maior barreira para alcançar suas ambições climáticas é a complexidade relacionada à descarbonização de sua cadeia de suprimentos.
Recomendações para CEOs em 2025
Com base nesses insights, os CEOs que desejam posicionar suas empresas para o sucesso em 2025 devem considerar as seguintes estratégias:
Expansão internacional cautelosa: Embora os EUA e a Europa continuem sendo mercados atraentes, os CEOs devem avaliar cuidadosamente os riscos e oportunidades de expansão internacional, considerando fatores como tensões geopolíticas e disrupções na cadeia de suprimentos.
Equilíbrio entre crescimento e rentabilidade: Em um ambiente econômico desafiador, é crucial encontrar o equilíbrio certo entre buscar crescimento e manter a lucratividade. Estratégias de redução de custos e extensão do runway de saída podem ser necessárias.
Preparação para captação de capital: Apesar do otimismo, os CEOs devem se preparar para um ambiente de captação potencialmente mais desafiador, diversificando suas opções de financiamento e fortalecendo suas métricas de negócio.
Investimento estratégico em IA: A IA deve ser uma prioridade de investimento, mas os CEOs precisam abordar os desafios éticos e de habilidades associados à sua implementação. O foco deve estar em projetos de IA que possam gerar ROI no médio prazo.
Repensar as políticas de trabalho remoto: Os CEOs devem equilibrar cuidadosamente o desejo de retorno ao escritório com as expectativas dos funcionários por flexibilidade. Políticas híbridas bem estruturadas podem ser uma solução intermediária eficaz.
Priorizar o desenvolvimento de talentos: Investir no desenvolvimento de habilidades dos funcionários atuais e futuros será crucial para enfrentar os desafios de talentos previstos para os próximos anos.
Abordagem proativa para ESG: Os CEOs devem continuar priorizando as questões ESG, mas com uma abordagem mais estratégica e comunicação cuidadosa, reconhecendo o ambiente cada vez mais politizado em torno desses temas.
Fortalecimento das relações com investidores: Manter relações estáveis e transparentes com os investidores será crucial, especialmente em tempos de incerteza econômica.
Planejamento de saída de longo prazo: Para aqueles que consideram uma eventual saída, é importante começar a planejar com antecedência, considerando opções como vendas comerciais ou fusões que possam oferecer liquidez e valor máximo.
Adaptabilidade e resiliência: Acima de tudo, os CEOs devem cultivar uma cultura de adaptabilidade e resiliência em suas organizações, preparando-se para navegar em um ambiente de negócios que provavelmente continuará volátil e imprevisível em 2025 e além.
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