Considerado um dos escritores mais influentes da geração tech, ele defende que soluções escaláveis sejam aplicadas para reduzir o dióxido de carbono na atmosfera
“As consequências da mudança climática afetam pessoas no mundo inteiro”, disse o escritor Neal Stephenson logo no início de sua conversa com Charles C. Mann, da The Atlantic, na sessão do SXSW 2022. “A situação é muito mais calamitosa do que as pessoas querem reconhecer”.
“Precisamos de complexos gigantes de superfábricas que não estariam mais produzindo CO2 e sim retirando blocos enormes de dióxido de carbono da atmosfera”, ofereceu como resposta para os dilemas enfrentados pelo planeta. Vai custar caro? Com certeza, mas ele acredita que é preciso um mega investimento em tecnologia de captura de carbono para tornar o processo escalável e começar a baixar os níveis existentes no ar. É uma questão de engenharia, pontuou. Haveria outras, como bioengenharia, para termos plantas geneticamente modificadas que poderia acelerar o processo que fazem de transformar dióxido de carbono em oxigênio.
Em seu mais recente livro, publicado no final do ano passado, “Termination Shock”, Neal Stephenson fala sobre o impacto da crise climática no planeta e o que motiva seu personagem a tentar usar radiação solar. Nesse futuro imaginado, um bilionário do Texas decide sozinho reverter o aquecimento global usando radiação solar. Ele admite que pode parecer um tema complexo para um livro de ficção científica, mas basicamente o que o levou a escrever é o fato de que as partículas de dióxido de carbono aumentaram de forma exponencial na atmosfera.
Neal Stephenson tornou-se um dos autores mais influentes dos últimos tempos. Ele cunhou o termo metaverso em seu romance “Snow Crash”, de 1992, que descreve um futuro distópico dominado pela tecnologia. As ficções de Stephenson influenciaram os designers do Google Earth e do Xbox Live. Jeff Bezos ficou tão impressionado pelo romance “Diamond Age: or A Young Lady’s Illustrated Primer”, que ele apelidou a equipe de desenvolvimento ultra-secreta do Amazon Kindle de “Projeto Fiona”, em homenagem a um personagem do livro. A ideia para a Blue Origin, a empresa de viagens espaciais comerciais de Bezos, foi discutida durante um café com Stephenson após uma exibição conjunta de “October Sky” em 1999. Por um tempo, Stephenson foi o único funcionário.
Ainda que não estivesse conectado ao tema da conversa, era de se esperar que o metaverso iria entrar de penetra. Ele admitiu que a palavra metaverso aparecia em todo lugar no SXSW 2022. “As pessoas no mundo tech vêm usando [a palavra metaverso] por um tempo. Nos últimos anos, ela se popularizou muito rapidamente e se transformou em uma buzzword. Não sei quanto tempo isso vai durar”, comentou. Ele negou qualquer envolvimento no projeto do metaverso do Facebook e deixou algumas observações sobre o que tem visto e sentido.
“Se você está pensando em comprar soluções de metaverso, deveria se perguntar como essas pessoas estão fazendo dinheiro. Porque se eles estão lucrando vendendo seus clicks e engajamento, como as companhias de mídia social fazem, então você pode esperar muito mais daquilo que já recebe das redes – com impactos concomitantes em nossa política e nossa sociedade”, disse o autor. E emendou: “O que as pessoas querem dizer quando falam em metaverso é o que você estará comprando daqui a cinco anos”.
Ao ser questionado sobre o fato de que o metaverso poderia ser um determinante em aumentar o gap entre ricos e pobres no mundo, ele respondeu que não sabe se o metaverso teria unicamente essa capacidade. Stephenson lembrou que há muitos anos durante uma palestra na Universidade de Harvard, a mesma pergunta foi feita, mas considerando a internet. “Não sei se esse tipo de tecnologia determina pobreza ou riqueza, creio que temos que olhar para outras causas”, afirmou.
Sobre blockchain, Stephenson foi questionado sobre como enxergava o fato de que consumia muitos recursos. “É importante ter em mente que há muitos diferentes. O bitcoin old school usa muita eletricidade em sua mineração, mas há muitas coisas acontecendo, pessoas procurando novas formas de ter criptomoedas que tenham um impacto menor e já estão tentando soluções como créditos de carbono para diminuir sua pegada de carbono”, disse.
O fato de olhar para a realidade para imaginar futuros distópicos não significa que a literatura deveria ser uma espécie de porta-bandeira de grandes causas. “Assim que você tenta usar a literatura para atingir um certo objetivo, você se transforma no instrumento de alguém. Acho que é preciso se ater ao imperativo de contar boas histórias e se você puder trazer insights para um assunto que importa, que sejam interessantes para pessoas e lhes deem novas ideias, eles poderão influenciar de alguma forma sem que você precise ficar empurrando as pessoas”.
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