A Inteligência Artificial (IA) está se tornando parte fundamental do mundo do trabalho, mas seu verdadeiro impacto dependerá de escolhas estratégicas feitas pelas organizações. Embora 72% das pessoas usem IA regularmente, quando se olha para dentro das empresas, esse número estagnou em 51%, segundo a recém-publicada pesquisa do Boston Consulting Group (BCG).
O estudo “AI at Work 2025: Momentum Builds, But Gaps Remain” mostra que oferecer treinamento adequado e acesso às ferramentas certas, assim como contar com apoio das lideranças, pode ser a maneira mais direta de “destravar” esse limite. Em outras palavras, as organizações precisam investir em pessoas, processos e segurança para ampliar suas chances de capturar valor e se manterem competitivas em meio à era da IA. “Mais do que experimentar ferramentas de produtividade, as organizações precisam agora se reinventar estruturalmente – redesenhando processos, mudando modelos de negócio e treinando pessoas. “O futuro vai ser uma organização híbrida, com seres humanos e agentes de IA trabalhando lado a lado. Isso muda tudo”, afirma Alexandre Montoro, diretor executivo e sócio do BCG.
Montoro destaca que poucas empresas estão, de fato, capturando valor com a IA de forma estratégica. A maioria ainda está na experimentação ou no uso tático. “As que estão ganhando priorizam o que transformar com IA, colocam tecnologia no core do negócio, investem em capacitação e criam uma governança para o uso responsável da tecnologia”, resume.
A pesquisa, baseada em entrevistas com mais de 10.600 profissionais de 11 países, incluindo o Brasil, mostra que entre as lideranças, o uso da IA é mais disseminado: 88% dos líderes e 85% dos gestores (gerentes de nível médio) usam IA no dia a dia. E que embora a curiosidade em relação à IA Generativa tenha caído de 61% em 2023 para 54% em 2025, a confiança saltou de 26% em 2023 para 36% em 2025 – com a preocupação em relação à IA caindo de 30% para 28%.
Em sua terceira edição, o estudo do BCG revela que ao analisar a adoção da IA por regiões, o cenário que emerge é de liderança na implementação no Sul Global, com destaque para:
Em contraste, países do Norte Global apresentam taxas mais baixas:
Esse desequilíbrio pode estar relacionado ao entusiasmo com novas tecnologias em mercados emergentes e à menor rigidez dos sistemas corporativos tradicionais.
Entre os que usam IA regularmente:
Esses dados indicam uma oportunidade desperdiçada pelas empresas ao não orientarem melhor seus colaboradores.
As três principais barreiras relatadas pelos trabalhadores da linha de frente são:
A falta de apoio aumenta o uso de ferramentas não autorizadas: 54% dizem que usariam IA mesmo sem aprovação da empresa, principalmente entre profissionais da Geração Z e Millennials.
Os fatores que determinam o sucesso de uma organização na adoção de IA se apoiam em um tripé, que inclui tecnologia, gestão de mudança e capacitação das pessoas. “Você tem que redesenhar os processos. A IA muda a forma de tomar decisão”, explica Alexandre Montoro. Segundo ele, a tecnologia sozinha não é suficiente para empurrar as empresas para a próxima fase. “Não é o algoritmo. É cultura, é mentalidade. É mudar a forma como a organização opera”, diz. E completa: “O algoritmo responde por 10% do impacto. A tecnologia, 20%. A gestão da mudança é 70%.”
As lideranças têm um papel fundamental nessa mudança. Preto no branco, a pesquisa aponta que colaboradores que recebem
…têm taxas de adoção e confiança significativamente mais altas. Por exemplo:
O estudo mostra que metade das empresas já está redesenhando fluxos de trabalho para integrar IA de forma mais estratégica:
Empresas que estão em “reshape” e “invent”:
A ideia de que a IA Generativa vai “tomar” o emprego de trabalhadores humanos continua arraigada nas organizações. Questionados se acreditam que poderão perder seus empregos para a IA em 10 anos, 41% acham que isso vai acontecer. Esse número sobe para 46% entre os que trabalham em empresas com redesenho de processos.
Um aspecto interessante do estudo está na relação entre o maior uso da IA Generativa e o medo que as pessoas têm de perder o emprego por conta da tecnologia. Na índia, em que 92% usam regularmente a GenAI, 48% acreditam que seu trabalho provavelmente ou com certeza vai desaparecer por causa da IA. Na Espanha, em que 78% fazem uso regular da IA Generativa, essa crença é ainda maior e afeta 61%.
No Brasil, 27% dos trabalhadores acreditam que seus empregos serão afetados e poderão até desaparecer devido ao avanço da IA. No Japão são 40%, na Itália 36% e nos Estados Unidos, 33%.
Para reduzir esse medo entre os trabalhadores, as empresas devem comunicar de forma clara o que esperam das pessoas, quais habilidades gostariam que desenvolvessem e seus planos de requalificação (reskilling e upskilling).
Apesar da adoção elevada (76%), o Brasil enfrenta barreiras estruturais que limitam o potencial transformador da tecnologia nas empresas. Um dos maiores obstáculos é a falta de treinamento adequado: apenas 36% dos trabalhadores brasileiros dizem ter recebido formação suficiente para usar IA de forma produtiva. Essa carência de capacitação está entre os três principais entraves relatados por profissionais da linha de frente, ao lado da limitação de acesso às ferramentas certas (37%) e da falta de apoio da liderança (só 25% dizem recebê-lo).
Enquanto grandes empresas começam a investir em soluções próprias e squads especializados, pequenas e médias ainda enfrentam barreiras.
“Vai depender da educação dos colaboradores e do quão acessíveis essas ferramentas se tornarão. O Brasil é um dos países com maior adoção porque precisa compensar ineficiências com tecnologia”, avalia Montoro. O executivo entende que um mix de programas da iniciativa privada e esforços do governo para educar os brasileiros em IA e letramento tecnológico poderá fazer a diferença para reduzir a lacuna em relação a outros países.
Quanto à lacuna entre grandes empresas, que já contam com seus programas de treinamento e estão avançando em letramento, e as pequenas e médias, ainda vai levar um pouco mais de tempo e muito mais investimento. Mesmo assim, a pressão virá. “A cada dia você tem um LLM novo, uma capacidade nova. Quem não investir vai ficar para trás. As empresas serão pressionadas a se modernizar para manter a competitividade”, afirma.
A lacuna de apoio institucional tem levado muitos brasileiros a utilizarem IA sem aprovação formal das empresas. O fenômeno do “Shadow AI” – uso não autorizado de ferramentas de IA– atinge 54% dos trabalhadores no país, sendo mais comum entre membros da Geração Z e Millennials. As lideranças organizacionais têm um papel importante a cumprir e serem transparentes com a força de trabalho para garantir que essa adoção de IA será acompanhada por segurança cibernética.
A tão comentada chegada dos agentes de IA transformará as organizações e dará surgimento a uma força de trabalho híbrida, segundo Alexandre Montoro. “O futuro vai ser uma organização híbrida, com seres humanos e agentes de IA trabalhando lado a lado. Isso muda tudo”, afirma o diretor executivo e sócio do BCG. Esse movimento, que faz parte da terceira onda de adoção de IA, será a mais transformadora. “A terceira, mais disruptiva, é a da transformação total do modelo de negócio, com agentes de IA assumindo tarefas que exigem observação, decisão e ação, como verdadeiros colegas de trabalho.”
Ele destaca que os agentes de IA deixarão de ser apenas ferramentas para automação de tarefas simples e passarão a atuar como participantes ativos nos fluxos de trabalho, alterando radicalmente os processos, os papéis e a forma como as organizações operam. Isso exige não só tecnologia, mas mudanças profundas na cultura e nos modelos operacionais das empresas.
A questão que fica é: as empresas estão preparadas para dar esse salto? Olhando para os resultados do estudo, ainda não. Apesar da empolgação, a pesquisa do BCG mostra que só 13% das empresas de fato integraram agentes de IA nos fluxos de trabalho. Outros dados mostram:
Os maiores receios são:
Apesar do uso pessoal elevado, o uso de IA dentro das empresas estagnou em 51%. Estudo global do BCG mostra que treinamento, ferramentas e apoio da liderança são cruciais para capturar valor e reduzir o medo da substituição por máquina...
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