Há uma crença fermentando: a de que o metaverso será a nova Internet. Se a tese se confirmar, quem irá dominá-la? Surgirão novas BigTechs ou a hegemonia existente continuará?
Mark Zuckerberg tem batido na tecla de que o metaverso será o futuro do Facebook há meses, chegando até mesmo a afirmar para os investidores que esse direcionamento exigirá “um investimento muito significativo ao longo de muitos anos”. Já há inclusive quem enxergue nessa obsessão do moço uma estratégia política. Embora, na opinião de Scott Galloway, a razão pode estar justamente na ameaça que o metaverso representa para a rede social.
Outras grandes empresas também estão expressando interesse no metaverso: Jensen Huang da Nvidia, Satya Nadella da Microsoft e Shar Dubey, da Match Group estão entre os CEOs que falaram recentemente sobre as formas pelas quais suas empresas estão procurando participar na construção ou elementos de suporte de mundos virtuais compartilhados. O entusiasmo com o conceito também ajudou a turbinar as avaliações de empresas como a Roblox e a Epic Games.
Mas se considerarmos o metaversocomo um tecido abrangente de serviços interconectados, que aparecerão para nós como uma camada de dados e imagens 3D; ou como um ambiente completamente imersivo onde poderemos nos entregar a fatos ou fantasias; ou, ainda, um lugar qualquer gerado pela combinação desses dois modelos, fica praticamente impossível afirmar qual será o drive determinante para o sucesso de futuras plataformas e aplicações: se o poder da comunidade e/ou o acesso a recursos financeiros e tecnológicos.
Portanto, há chance de que várias empresas se tornem líderes na categoria, como foi o caso da evolução da internet ao longo dos anos 1990 e, depois, da internet móvel. E muitas delas podem sequer ter nascido, ou ainda estarem engatinhando. Já ouviu falar na Star Atlas? E na Uhive?
O interesse por mundos virtuais compartilhados cresceu nos últimos anos. Em 2020 o Roblox e o Fortnite roubaram a cena. Em 2021, foi a vez da Microsoft, com o seu “metaverso empresarial“, e do Facebook, com os “avatares 3D“, atraírem os holofotes. Mas, definitivamente, chegou a hora de encarar o metaverso como uma rede de experiências e aplicativos, dispositivos e produtos, ferramentas e infraestrutura, interconectados. Um mercado que já atrai uma uma quantidade crescente de empresas, como comprova esse mapa abaixo, criado por Jon Radoff, CEO da Beamable, para a publicação Building the Metaverse.
Metaversos, como conceito, já existem há muito tempo – universos digitais compartilhados onde podemos assumir qualquer personalidade que quisermos, ou trabalhar juntos em projetos colaborativos. A ideia por trás deles sempre foi usar o poder dos gráficos 3D em tempo real para conectar pessoas. Mas as empresas que falam seriamente sobre eles os estão posicionando como aspiração futura. Por enquanto, servem principalmente como um modelo para as maneiras pelas quais os ambientes online existentes – como as redes sociais e a plataformas de games – poderão se tornar mais imersivos e integrados a nossas vidas.
O valor coletivo dessa mudança será da ordem de trilhões, afirma o investidor Matthew Ball, sócio-gerente da EpyllionCo.
O metaverso será preenchido, habilitado e suportado por Inteligência Artificial. Ela estará presente nas sete camadas da cadeia de valor deste mercado, potencializando a computação espacial, fornecendo estrutura para os criadores e oferecendo novas e sofisticadas formas de contar histórias.
À medida que mais pessoas vão se tornando criadoras de conteúdo digital, é esperado que a IA assuma o papel de assistente criativo trabalhando ao lado de criadores humanos, automatizando tarefas chatas, repetitivas ou difíceis que fazem parte do processo de criação. Os sistemas de IA aprenderão com exemplos e padrões anteriores no Metaverso e usarão as informações aprendidas para auxiliar em novos processos criativos.
Entre as aplicações mais interessantes da IA no metaverso estão a Promethean AI, que permite que pessoas sem experiência em programação ou arte digital criem ambientes de jogo incríveis com comandos de voz; o projeto MetaHumans, da Epic, que visa reduzir o tempo para criar personagens fotorrealistas de meses para minutos; o Wizard Engine, um produto criado pela Fable, com base no GPT-3, focado na narrativa interativa; e a aplicação GANverse3D, da NVIDIA, que converte imagens planas em modelos 3D realistas.
Quando Mark Zuckerberg anunciou que o Facebook iria se tornar uma “companhia metaverso”, muita gente achou que ele tinha acabado de inventar essa palavra. De lá para cá, metaverso foi ganhando uma dimensão maior. Assim como a palavra robô, que surgiu nos anos 1920, metaverso vem do século passado. Quer dizer que estamos voltando no tempo? Não, necessariamente. As palavras, assim como as ideias, evoluem, como você pode ver a seguir.
O termo foi cunhado pelo escritor de ficção científica Neal Stephenson, em seu romance “Snow Crash”, de 1992, que descreve um futuro distópico dominado pela tecnologia, e reimaginado como o oásis no romance de Ernest Cline “Ready Player One”. Sergey Brin, um dos cofundadores do Google, cita o livro como um dos que mais o influenciaram. E agora, o Facebook tem como projeto criar o metaverso. A futurista Cathy Hackl, porém, afirma que o metaverso não será definido por uma única companhia.
Hoje há um debate interminável entre os technorati sobre a terminologia: como devemos usá-la (singular ou plural? Substantivo ou verbo?), se poderá ser substituída por algo mais descritivo, se devemos usar a palavra M (muito distópico!) e assim por diante.
Em seu prefácio ao Metaverso Primer, Matthew Ball corretamente observa que a transformação da tecnologia não ocorre em pedaços discretos identificáveis por um único momento no tempo, mas sim como uma série de desenvolvimentos sobrepostos – ondas – que ocorrem ao longo de um período de tempo. Não se pode apontar exatamente quando começou a era da telefonia, por exemplo, embora possamos datar com precisão a hora e o local da invenção de Bell. Mas sabemos que, alguns anos depois, todos estavam telefonando. E então, não muito depois disso, os telefones se tornaram uma parte indispensável da vida. Isso também é verdade para o Metaverso: não se pode apontar para uma invenção ou redução específica para praticar, ou identificar um ponto no tempo em que ela começou. Diversas inovações em hardware, software e comunicações estão abrindo o caminho.
Na opinião de Tony Parisi, um dos pioneiros da Realidade Virtual e co-criador da Virtual Reality Modeling Language (VRML), estamos na verdade em uma terceira onda de desenvolvimento do Metaverso, cujas raízes remontam a mais de cinquenta anos. Segundo ele, a primeira onda foi a da imersão, com as pesquisas em RV, entre 1968 e 1996. Depois veio a onda da conexão, com as comunidades online (BBSs, fóruns de discussão e afins), a Web e o 3D em tempo real, entre 1985 e 2012. E agora, vivemos a era da convergência, da Realidade Virtual 2.0, dos Game Engines, WebXR e Web3.
Ele chama atenção para a interdependência entre elas. As inovações de hardware na tecnologia de exibição 3D não seriam tão úteis sem os avanços no software de renderização em tempo real. Essas inovações ocorreram de forma independente, mas também co-evoluíram. Uma interação entre sucessivas invenções em vários campos ao longo de décadas nos trouxe para onde estamos agora. Para onde vamos? Difícil dizer. Mas diante do crescente interesse das Big Techs no temaa, algo grande pode estar a caminho.
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