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ECONOMIA DIGITAL

Na era do e-commerce, logística cresce como desafio para o setor

Black Friday vai representar “prova de fogo” para gigantes do varejo eletrônico no Brasil e no mundo

Por João Ortega 16/11/2020

Na economia cada vez mais digital, o e-commerce vem aumentando a representatividade dentro do varejo ao longo dos últimos anos. A pandemia da Covid-19 acelera esta tendência tanto a nível global quanto nacional. Neste cenário, o setor da logística caminha de braços dados com o crescente comércio eletrônico, já que é responsável por fazer a entrega dos produtos aos consumidores, fora do modelo tradicional de venda direta em lojas físicas. 

Segundo estimativa da McKinsey, entre 12 e 20% da receita das vendas do e-commerce são destinadas às operações logísticas. O valor está muito acima do varejo tradicional, de apenas 3 a 5%. A oportunidade de mercado é tão grande que até a Uber vê seu braço logístico, avaliado em US$ 3,3 bilhões, como parte essencial de seu futuro.

No Brasil, a movimentação logística associada ao comércio eletrônico cresceu 93% entre janeiro e julho, comparado ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Senior Software. 

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“Com a consolidação do e-commerce e a digitalização da vida, a logística ganhou um papel central nos negócios. Essa demanda, unida ao surgimento de novos modelos logísticos, aumentou a concorrência no setor, porém a necessidade é muito vasta e diferenciada. Os níveis de serviço cresceram também em termos de qualidade, agilidade, controle e eficiência”, afirma Maurício Barros, presidente no Brasil da DHL, gigante global do segmento logístico. 

Na mesma linha, um relatório do Fórum Econômico Mundial destaca que os tempos de entrega estão cada vez mais curtos, com o número de serviços de entrega no mesmo dia e em uma ou duas horas aumentando. “O resultado é um efeito indireto nas expectativas do cliente. Os destinatários finais estão exigindo maior flexibilidade, bem como mais opções de entrega que se adaptem ao seu estilo de vida, em vez de aos processos operacionais das empresas de entrega de encomendas. A tecnologia está sendo usada para preencher estas demandas”, diz o estudo

Black Friday e o fim de ano

O final do ano é sempre o momento mais movimentado para o varejo. Em 2020, não será diferente, mas grande parte das compras vão migrar para o ambiente digital. A PwC realizou uma pesquisa com os consumidores norte-americanos e destaca que 61% dos consumidores pretende fazer suas compras da época majoritariamente por meio do e-commerce. 

A DHL, por exemplo, espera que neste fim de ano a quantidade de entregas realizadas seja 50% que em 2019. Antes do natal e da época de festas, porém, surge o grande desafio logístico do período: a Black Friday.  Segundo especialista do Sebrae, este obstáculo será maior para pequenas e médias empresas, por conta do volume muito grande de vendas em um espaço curto. No entanto, já há uma tendência no comércio de esticar os descontos ao longo do mês de novembro.

Para suprir a demanda de entregas, o setor está recrutando em larga escala, ainda que muitas das vagas sejam temporárias. Em levantamento no site brasileiro de emprego Luandre, houve aumento de 554% de posições abertas relacionadas à logística comparado ao mesmo período do ano passado. A mesma tendência se repete nas principais empresas do segmento nos EUA. 

Disputa de gigantes

O Brasil está se tornando palco de uma disputa entre grandes empresas de comércio que, após processo de transformação digital, focam agora nos investimentos em logística para, de fato, entregar os produtos – e a experiência do cliente – que prometem. Neste sentido, a Via Varejo adquiriu, em abril, a ASAPlog; em outubro, o Magazine Luiza comprou a transportadora GFL; e o Mercado Livre realizou um aporte, há pouco mais de três meses, na startup Kangu. 

O Mercado Livre, aliás, anunciou nesta semana a abertura de cinco novos centros logísticos no Brasil até 2021. Em coletiva de imprensa, Leandro Bassoi, vice-presidente do Mercado Envio, braço logístico da empresa, revelou que o objetivo é ampliar o serviço de entrega em até dois dias e, em alguns casos, no dia seguinte. O movimento deve gerar 13,5 mil empregos diretos. 

A ideia é aumentar a confiança do consumidor na logística do e-commerce, já que, na avaliação do executivo, para muitos ainda é impensável um período tão curto. “O consumidor na América Latina ainda precisa confiar que a entrega vai chegar no prazo”, diz. O anúncio ocorre duas semanas depois do Mercado Livre revelar uma frota própria de quatro aviões para realizar entregas no país a partir da Black Friday. A empresa conta agora com 16 centros de cross-docking, dezenas de postos de entrega, quatro aviões, 600 carretas e mais de 10 mil vans que atuam entre os entrepostos. 

Além das três gigantes nacionais, a Amazon também está ampliando a presença logística no Brasil. A gigante norte-americana anunciou três novos centros logísticos em Minas Gerais, Distrito Federal e Rio Grande do Sul, aumentando para 500 municípios atendidos pelo serviço prime. 

Na fronteira da tecnologia

O e-commerce no Brasil está em um momento de investimentos na rede logística, mas ainda está bem atrás de países como EUA e China quando se trata do avanço tecnológico no setor. Na Supply Chain 4.0, soluções de automação integradas a big data e Inteligência Artificial são essenciais para garantir eficiência na distribuição de produtos e insumos, desde a fábrica até a última milha

Olhar para a Amazon, nos EUA, e a Alibaba, na China, é ver o futuro da logística. A empresa de Jeff Bezos conta com robôs de estoque, caminhões autônomos, centenas de aviões e, claro um sistema de inteligência que coordena toda a operação. O vídeo abaixo explica como ela tornou possível entregar as encomendas no mesmo dia do pedido: 

A Alibaba segue uma estratégia semelhante. O braço de logística do grupo chinês tem desde 2018 um centro de estoque inteligente e automatizado, criado especificamente para o Dia dos Solteiros (uma espécie de Black Friday) daquele ano. Em 2020, a data que reúne descontos no e-commerce envolveu 3 milhões de empregados diretos ou indiretos para a logística

“O uso de tecnologias de ponta, como Inteligência Artificial, algoritmos preditivos e análise de big data, capacita os comerciantes com dados de previsão de demanda e permite pré-estoque com precisão seus produtos na quantidade e no local certos”, disse James Zhao, gerente de logística da Alibaba. De acordo com artigo do MIT, os dados “erráticos” da pandemia fizeram a inteligência da empresa chinesa ser ainda mais eficiente. 

“Automação é a próxima fronteira no Mercado Livre. A robotização ainda é feita na América Latina de forma muito incipiente, de laboratório. Mas entendemos que precisamos entrar nesse movimento rápido para ter soluções prontas em alguns anos”, revela Leandro Bassoi.

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