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A chegada dos carros autônomos vai impactar diferentes setores, do transporte aos restaurantes, passando por design de interiores e fitness Crédito: Pixabay
TENDÊNCIAS

Carros autônomos: o impacto para saúde, transporte e muito mais

Não é somente a indústria automotiva e o transporte público que vão passar por uma disrupção com a chegada dos veículos autônomos, um estudo aponta para mais de 30 setores

Por Soraia Yoshida 09/08/2021

Entender o impacto que os veículos autônomos (AVs, na sigla em inglês) terão em nossas vidas ainda é algo muito distante para a maioria das organizações. Entretanto, a aceleração da tecnologia que já puxou em cinco anos o ponto em que carros elétricos serão mais baratos de produzir do que carros com motor a combustão é apenas um dos sinais de que também essa tecnologia pode se adiantar e impactar os negócios de mais de 30 setores, de acordo com a consultoria CB Insights.

O relatório “33 Industries Driverless Cars Will Transform” lista impactos nas áreas de restaurantes, delivery de comida, transporte, logística, saúde – setores em que essa mudança já era antecipada – mas também traz insights de como podem surgir oportunidades em fitness, por exemplo. Outro sinal importante é que mais de 40 companhias, incluindo Google, Apple e Mercedes-Benz têm alguns de seus melhores profissionais envolvidos nos projetos de veículos autônomos. O relatório utilizou os dados da plataforma de insights do CB Insights, com foco em tecnologias emergentes.

Espaços de coworking. As pessoas tendem a usar escritórios de coworking quando não têm um escritório próprio (muitas companhias abriram mão de espaços corporativos) e o ambiente em casa não é adequado para reuniões ou necessidades de trabalho. Nesse contexto, os veículos autônomos poderiam ser equipados para servir como escritórios móveis, criando um novo espaço de trabalho bastante flexível.

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Hotéis. Além das plataformas de compartilhamento de casas adotadas por grandes redes de hotéis, já existe pelo menos um projeto em os veículos autônomos poderiam funcionar etadia de uma noite, enquanto as pessoas se deslocam de um lugar para outro. O Aprilli Design Studio já desenvolveu um conceito de hotel móvel autônomo, que pode acomodar até cinco pessoas. O objetivo é lançar esses carros antes de 2030.

Companhias aéreas. Com a projeção de que as viagens aéreas devem retornar aos níveis pré-padêmicos apenas em 2023, de acordo com a McKinsey, existe a possibilidade de que viagens curtas de avião sejam substituídas por automóveis. E, nesse sentido, os veículos autônomos podem tornar esse deslocamento mais conveniente, abrindo espaço para viagens sob demanda. Um estudo no International Journal of Aviation, Aeronautics and Aerospace descobriu que os viajantes eram mais propensos a substituir o voo pela direção autônoma para viagens de condução de médio alcance (7 a 11 horas). Nestes casos, o número de pessoas que optaram por voar diminuiu cerca de 30% quando foi dada a opção de um AV.

Seguros. Apesar de alguns acidentes, existe uma crença de que os veículos autônomos tornarão o transporte mais seguro, reduzindo ocorrências no longo prazo. À medida que os AVs forem adotados, haverá um crescimento em seguros, mas também uma diminuição das apólices individuais. os prêmios de seguro podem cair US$ 25 bilhões até 2035, segundo a Accenture. As novas apólices vão abrir ainda uma alta demanda para os escritórios de advocacia, com discussões como segurança cibernética e IA responsável.

Autorreparo e autopeças. Menos acidentes implicam em menos consertos de carros. As oficinas poderiam oferecer serviços como diagnóstico em tempo real, como faz a Zubie, o que significa que mecânicos teriam que entender de software. E os próprios veículos teriam os dados necessários para os diagnósticos e manutenção preventiva. Os veículos elétricos também possuem menos peças, mas com a mudança de foco para os eletrônicos, os fabricantes vão ter que encarar concorrência de empresas como a Nvidia. Um estudo da Deloitte aponta que microprocessadores, chips e outras peças eletrônicas já respondem por 40% do custo total de um veículo, o que só deve aumentar com o sistema computacional dos AVs.

Serviços de carga e entrega. Os testes com caminhões autônomos já estão sendo feitos por empresas como a Aurora e a Kodiak Robotics, que recebeu investimentos do fundo da BMW e da Bridgestone. Estamos falando de caminhões conectados que transmitem dados de seu trajeto e cargo, permitindo que empresas de gerenciamento de frotas tivessem mais flexibilidade para ajustar suas rotas e de forma mais eficiente. A redução de custos poderia chegar a 40%. Para áreas urbanas com tráfego mais intenso, o modelo de hub de transferência, em que os caminhões circulam na rodovia, mas são recolhidos por motoristas na saída, tem sido apontado como o melhor.

Aplicativos de corridas. Ainda não está muito claro como gigantes do setor, como Uber, Didi e Lyft devem adaptar seu modelo de negócio para os veículos autônomos, já que os carros hoje pertencem a motoristas terceirizados. Em compensação, essas companhias possuem uma vantagem: uma quantidade enorme de dados para navegação que poderiam ser usados a partir de uma parceria com uma empresa responsável pela frota de AVs, o que permitiria manter sua função atual de intermediários entre quem precisa de uma corrida e quem oferece um veículo.

Transporte público. Os veículos sem motorista podem baratear o preço das corridas no longo prazo, o que pode fazer muita gente deixar de lado o ônibus ou metrô. Um estudo conduzido realizado por pesquisadores da Universidade Madison de Wisconsin apontou que 31% das pessoas optariam por chamar um veículo autônomo, se tivessem a escolha. Uma grande vantagem seria a possibilidade de atender locais mais remotos, que podem estar fora das rotas de transporte público.

Healthcare. Com o potencial de reduzir acidentes de automóveis, menos visitas ao hospital e menos mortes. O Brasil registrou 27.839 indenizações pagas por acidentes de trânsito com vítimas fatais entre janeiro e outubro de 2020. Nos EUA, a diminuição de acidentes de trânsito poderia gerar uma economia anual de US$ 180 bilhões para os motoristas ede mais de US$ 20 bilhões para as instituições médicas, de acordo com a McKinsey. Do ponto de vista de negócios, veículos autônomos poderiam fazer a entrega de medicamentos de forma mais eficiente. Já existem parcerias entre companhias farmacêuticas e startups AV para transformar a entrega, como é o caso da Nuro.

Serviços de resgate e emergência. Os veículos autônomos poderiam ser usados como ambulâncias para monitorar a saúde de passageiros e direcionar as pessoas para o atendimento de emergência mais próximo ou mais indicado. O trajeto mais rápido seria determinado por dados conectados ao serviço de trânsito. Da mesma forma, os dados sobre o estado do paciente (sinais vitais) poderiam ser transmitidos diretamente para as equipes médicas antes mesmo da chegada. Em áreas de risco ou no caso de algum grande incidente, os veículos autônomos poderiam levar suprimentos ou retirar as pessoas dentro de operações de resgate. No futuro, os AVs podem até ajudar a gerenciar desastres naturais frequentes, como enchentes.

Energia e Petróleo. O impacto dos carros sem motorista no consumo de energia ainda é incerto, mas conforme o modelo, é possível que funcionem inclusive como armazenadores de energia. As estações de carregamento e toda a infraestrutura para os carros elétricos está sendo construída e pode representar grandes oportunidades de negócios. Nesse período, as empresas de óleo e gás terão algum tempo para ver como vão se encaixar no novo ecossistema de energia.

Lojas de conveniência. Estradas cheias de veículos autônomos com capacidade de dirigir até o posto e abastecer por conta própria reduziriam o fluxo de clientes em lojas fora dos centros urbanos. O valor dessas lojas também vai perder com a possibilidade de entregas feitas por carros sem motorista. A Moby Mart, na China, está desenvolvendo um espaço de varejo móvel que vai até os consumidores, que podem escanear itens da prateleira e pagar usando um aplicativo móvel – os protótipos deste veículo já estão nas ruas de Xangai.

Fast Food. Nos Estados Unidos, 70% das vendas do McDonald’s vêm do sistema drive-thru – e esse número saltou para 90% no 2º trimestre de 2020, com o início da Covid-19. Em um cenário com veículos autônomos, os consumidores dariam as coordenadas e seguiriam rumo a seu destino, reduzindo, portanto, as chances de uma parada no meio do caminho para compra por impulso. As paradas para comprar fast food seriam muito mais determinadas por escolha e qualidade e menos por conveniência.

Preparação e entrega de Refeições. Além de oferecer aos restaurantes a opção de tirar o elemento humano das entregas, os AVs poderiam ser equipados no futuro com a possibilidade de cozinhar alimentos durante sua rota, para que a comida chegasse fresquinha. Um veículo poderia fazer várias paradas, em vez de precisar retornar ao restaurante para cada entrega. A empresa de robótica Nuro já tem um veículo projetado especificamente para transportar alimentos frescos, com controle de temperatura e compartimentos reguláveis ​​aquecidos e refrigerados.

Notícias e Entretenimento. Em vez de se ocupar com o trânsito, seria possível aproveitar o tempo para assistir a programas, noticiários, além de trabalhar. Isso representa uma possibilidade para publicidade, com base na localização e serviços próximos. Experiências mais imersivas, com uso de Realidade Virtual (VR) vêm sendo testadas desde 2019, com Warner e Intel criando um carro-conceito permitindo um passeio virtual durante o percurso.

Levantamento e mapeamento. Os veículos autônomos terão seu software próprio, com mapas digitalizados, aplicação de Inteligência Artificial (IA), GPS e rede 5G para ler e enviar as informações com maior agilidade. Os desenvolvedores e empresas que fornecem mapas terão de desenvolver novas tecnologias para aplicar à produção desses mapas, que vão precisar de processamento computacional para que possam se integrar aos sensores, câmeras e sistemas de leituras de dados.

Dados e Infraestrutura de Internet. A necessidade de armazenar e processar grandes quantidades de dados pode impulsionar a demanda por mais centros de dados, conexões sem fio de baixa latência e redes de fibra mais robustas. A estimativa é que um carro autônomo seja capaz de gerar de 5 a 20 terabytes de dados diariamente. O gerenciamento da comunicação V2V (veículo a veículo) ainda está sendo discutido, mas seja qual for a configuração, os serviços de internet terão de se adaptar ao novo mercado.

Cibersegurança. Antes mesmo dos recentes ataques de ransomware, já havia uma preocupação com a possibilidade de que veículos autônomos pudesse ser hackeados. Algumas startups vêm trabalhando para reduzir os riscos de segurança cibernética em AVs, como a Karamba Security, que tem uma solução que protege os componentes conectados a Bluetooth e WiFi, identificando e bloqueando tentativas de ataque.

Planejamento urbano e imobiliário. Os grandes centros urbanos cresceram ao redor do movimento e das necessidades dos carros. A entrada de veículos autônomos nesse contexto pode levar a um redesenho do fluxo das cidades, com sinais de trânsito reprojetados e eliminados em muitos pontos, já que os AVs seriam capazes de se mover pelos cruzamentos, sem ter que parar. O êxodo das cidades para o interior ou áreas menos densamente povoadas que veio na esteira da pandemia é um bom exemplo de como esse redesenho pode alterar o fluxo urbano e imobiliário.

Garagens e estacionamentos. Como os carros sem motorista prescindem da presença humana, eles podem ajudar a poupar espaço quando não estiverem em uso. Não é preciso deixar espaço dos dois lados, eles podem simplesmente entrar e sair de uma área muito menor. Em um estacionamento quadrado, seria possível abrir espaço para até 87% mais veículos quando os veículos autônomos estacionam sozinhos, de acordo com pesquisa da Universidade de Toronto. Fazer o reaproveitamento desses espaços nas cidades pode representar grandes oportunidades imobiliárias.

Varejo físico. Com as entregas passando para drones e carros sem motorista, a localização de uma loja física pode se tornar menos importante. Um único veículo poderia cumprir várias tarefas, como um pedido em supermercado, farmácia e uma pizza, tudo em uma única viagem. Dessa forma, as lojas teriam menos tráfego incidental de pessoas, o que levaria a uma revisão de operações e custos no varejo tradicional. Existe a possibilidade, porém, de que a dispensa de estar ao volante leve as pessoas a passeios mais longos, como visitar lojas e restaurantes em bairros ou regiões que antes tomariam muito tempo.

Concessionárias de automóveis. O modelo tradicional de propriedade já está send revisto: startups trabalham com modelos de assinatura, que poderiam ser transferidos tranquilamente para veículos autônomos. A Tesla já anunciou uma assinatura Full Self-Driving este ano para motoristas que querem um modelo pré-pago.

Oficinas de troca de óleo e lava-rápido. À medida que a propriedade e a manutenção dos veículos passam para companhias que vão gerenciar frotas de AVs, postos de combustível, lava-rápidos e até mesmo lojas de aluguel podem desaparecer, dando lugar a instalações próprias das companhias. Além disso, os sistemas de lavagem teriam de se sofisticar para não danificar os sensores que ajudam a guiar o carro.

Design e produção de interiores. O veículo autônomo é baseado nas necessidades do passageiro, portanto seu interior deve oferecer tempo e espaço para as pessoas possam ser produtivas ou se entreter até chegar a seus destinos. Dessa forma, o setor de design de interiores tem a oportunidade de criar espaços confortáveis e que possam oferecer essa experiência.

Fiscalização de trânsito. Com o fluxo de tráfego mais eficiente e menos propenso a acidentes, as cidades vão reduzir sua necessidade de profissionais para orientar as vias. Da mesma forma, é de esperar que o volume de multas caia drasticamente. Nos EUA, as receitas de multas por excesso de velocidade representam US$ 6,2 bilhões a cada ano. Com uma rede conectada, cada veículo teoricamente “saberia” de acidentes, obstruções e bloqueios da polícia ou serviços de emergência, e seria redirecionado para uma nova rota.

Fitness. Em teoria, um carro sem motorista pode se transformar em um espaço para uma reunião, festa ou ginástica, por que não? Os veículos poderiam conter equipamentos para exercícios, enquanto o passageiro estiver em trânsito. Há treinadores, inclusive, que já estão pensando em que tipos de exercícios poderiam ser feitos dentro de um carro sem motorista.

Creche e cuidado de idosos. Os veículos autônomos poderiam ser uma grande oportunidade para aumentar a mobilidade de idosos, fazendo com que continuassem socialmente ativos, pudessem ir a consultas médicas (se não quiserem fazê-las via vídeo). Em relação ao leva-e-traz de crianças pequenas ou adolescentes, sua existência deve impactar mais de 570 mil funcionários de creches e 1,4 milhão de cuidadores e acompanhantes de idosos.

Reforma e arquitetura. Com a necessidade de garagens diminuindo em condomínios e casas, esse espaço pode ser usado para outros fins. Um home office, que tal? Ou uma sala de leitura. Ou mesmo um quarto extra que pode ser alugado via Airbnb. Isso também criará oportunidades para designers e empreiteiros focados na reforma de vagas de garagem.

Litígio. Atualmente, 94-96% dos acidentes podem estar relacionados a erro humano. A automação reduziria drasticamente os acidentes, o que levaria à diminuição de casos na justiça sobre quem foi o culpado na batida. Além disso, quando ocorrem acidentes, os carros conectados podem fornecer dados mais precisos sobre os acidentes. A questão, quando acontecer, é de quem é a culpa: do fabricante do software ou da empresa que gerencia a frota de VAs? Grande oportunidade para expansão no campo legal.

Operações militares. Veículos autônomos poderiam ajudar a salvar mais da metade de vítimas em zonas de conflito, entregando combustível, alimentos e suprimentos em geral. Também poderiam funcionar como ambulâncias para feridos. As Forças Armadas dos EUA já fazem testes com tanques e aeronaves sem piloto.

Iniciativas globais sem fins lucrativos. Os veículos autônomos poderiam fornecer suprimentos, medicamentos e itens de primeira necessidade em áreas remotas, com poucos recursos. Cada unidade também poderia ser equipada com satélite e celular para levar conectividade a locais de desastres naturais. Isso permitiria realocar voluntários e profissionais para outros trabalhos, que não dirigir para fazer entregas.

 

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