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Crédito: Aobe

O que esperar do futuro da micromobilidade?

The Shift conversou com um dos fundadores da startup norte-americana Tortoise, que investe em patinetes elétricos compartilhados que literalmente vão ao encontro do usuário

Por Victor Santos 24/11/2020

Prever como será o futuro da micromobilidade é um desafio, mas algumas iniciativas ousadas nos ajudam a vislumbrar o caminho. Já imaginou o patinete elétrico vir até você? Sim, você leu direito: na solução da Tortoise, você não precisa abrir o app e ir atrás da scooter mais próxima – você aciona e ele simplesmente se encaminha até o local onde você está.

Fundada em 2019 em terras californianas, a startup agrega muita tecnologia para entregar valor ao consumidor. The Shift conversou por videoconferência com Dmitry Shevelenko, co-founder da Tortoise.

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Background de respeito

Dmitry não entrou nessa de micromobilidade de uma hora para a outra. “Eu passei quatro anos trabalhando na Uber, e lá, liderei a expansão da empresa para a micromobilidade”, conta o fundador da Tortoise. “Foi nesse contexto que tive muito contato com o universo das bicicletas e patinetes compartilhados, e da sua integração com o transporte público”.

Além disso, o outro co-founder da empresa, seu parceiro David Graham — que possui na bagagem experiência em gigantes como Microsoft e Samsung — trouxe para a sociedade um grande conhecimento em desenvolvimento de novas tecnologias e conceitos.

O resultado disso veio em 2019. “Vimos que havia a necessidade de soluções para algumas questões relacionadas à micromobilidade, e fundamos a Tortoise para justamente aplicar tecnologia em patinetes compartilhados, e resolver alguns desses problemas”, relembra Shevelenko.

Inovação: se você não vai até o patinete…

… o patinete vai até você? É exatamente essa a proposta ousada dos patinetes elétricos autônomos da Tortoise. “Quando fundamos a Tortoise, no meio do ano passado, identificamos que considerando um veículo elétrico leve (como os patinetes), com apenas cem dólares a mais em componentes eletrônicos era possível fazer o reposicionamento remoto desses veículos”, relata.

Segundo Dmitry Shevelenko, o caminho para a consolidação de veículos autônomos passa por esse controle realizado por operadores humanos remotamente. “Nós acreditamos que esse é o melhor caminho: começar com operadores humanos remotos e, aos poucos, quando apropriado e usando os devidos softwares e sensores nos patinetes, podemos começar a torná-los parcialmente autônomos, em modelos híbridos”.

Para o empreendedor, os patinetes elétricos teleoperados da Tortoise ajudam a resolver três grandes problemas relacionados à micromobilidade. “Em primeiro lugar, você não precisa mais se lançar a uma ‘aventura’ para encontrar o patinete compartilhado mais próximo; basta acionar ou mesmo reservar um antecipadamente, que ele vai até onde quer que você esteja, sempre comandado, a baixa velocidade, por nossos teleoperadores a partir de câmeras”, explica Shevelenko, “e assim, resolvemos o problema da disponibilidade e tornamos essa atividade muito mais conveniente – quando precisar, o patinete estará na calçada em frente à sua casa”.

O segundo problema solucionado, de acordo com o fundador da Tortoise, está totalmente relacionado à dificuldade das companhias que atuam no ramo dos patinetes elétricos em tornar essa atividade rentável. “Essas empresas estão perdendo muito dinheiro porque os patinetes acabam subutilizados. Então, a possibilidade de reposicioná-los remotamente permite conduzi-los até locais onde a demanda seja maior e a possibilidade de aluguéis mais alta”, destaca.

Ainda nessa perspectiva, Shevelenko lembra o desafio de recarregar os patinetes elétricos, agora facilitado. “Com o reposicionamento remoto, é possível, com custo muito baixo, levar o patinete até um local onde pode ser recarregado – o que colabora muito para reduzir os prejuízos financeiros”.

Por fim, como terceiro problema superado, o cofundador da Tortoise recorda um dos grandes transtornos ligados à micromobilidade. “Muitas cidades se preocupam e se tornam um pouco reticentes em relação à micromobilidade devido ao fato de muitos usuários largarem os patinetes no meio da calçada”, aponta Dmitry Shevelenko. “Com o reposicionamento remoto, é possível tirá-los do caminho dos pedestres e conduzi-los até locais apropriados de estacionamento”.

Inovação na pandemia: entregas remotas

Ainda que o foco inicial tenha sido os patinetes, o fundador da Tortoise indica que ele e seu parceiro vislumbraram as múltiplas possibilidades de suas soluções. “Desde a fundação, sempre imaginamos que teríamos diferentes verticais e aplicações dessa tecnologia”, conta.

Logo no início de 2020, a startup enfrentou um desafio gigantesco: o isolamento social trazido pela pandemia de Covid-19. Praticamente da noite para o dia, as ruas das grandes cidades norte-americanas foram esvaziadas, o que reduziu drasticamente as possibilidades relacionadas à micromobilidade.

Porém, o que poderia ser uma crise sem precedentes para a Tortoise foi, na verdade, uma mudança de foco – na verdade, um reposicionamento remoto comandado por teleoperadores humanos. “Quando a pandemia estourou, decidimos acelerar a nossa segunda vertical, focada em entregas por meio de carrinhos”.

Dmitry Shevelenko diz que que a startup a existência de um gap enorme nesse nicho de veículos autônomos. “Nós já vemos diversos carros autônomos em operação, ainda que eles estejam há muitas décadas de uma produção em escala. Vemos alguns robôs de delivery de comida também. Mas ainda não havia surgido uma solução que, por meio do reposicionamento remoto, fosse responsável por carrinhos de entrega de pequenas compras, mercadorias e encomendas”.

O empreendedor conclui a conversa destacando que a pandemia foi o estímulo que faltava para a Tortoise concentrar as suas energias nos carrinhos teleoperados.

“Nós ainda temos muitas expectativas com o mercado de patinetes elétricos”, destaca Dmitry Shevelenko, “no entanto, agora que o mundo virou de ponta-cabeça por conta da Covid-19, vemos que há uma enorme necessidade para entrega de mercadorias sem contato com humanos, e que seja acessível. A demanda já é grande, então no momento estamos realmente priorizando essa nova oportunidade”.