Quem vai fazer as “perguntas incômodas” que vão garantir a sobrevivência das empresas na economia digital? A falta de competências digitais na suíte executiva já era um problema antes da pandemia. De março de 2020 em diante, não saber reagir digitalmente ao novo cenário tornou-se ferida mortal para empresas de todos os tamanhos. E as pesquisas globais mostram que o cenário é muito pobre.
Não precisa ser geek, nerd ou ninja em tecnologia para liderar a transformação digital, mas “as empresas não podem mais se dar ao luxo de ter um executivo que confunda discussões sobre a nuvem com conversa fiada sobre previsão do tempo”, aponta um artigo publicado na Harvard Business Review pelos pesquisadores J. Yo-Jud Cheng (Derden), Cassandra Frangos (Spenser Stuart) e Boris Groysberg (HBS).
O X da questão, segundo eles, está nos processos de seleção de pessoas para os cargos de diretoria e cadeiras no board. Ao analisar centenas de ofertas de emprego recentes das empresas da Fortune 1000, descobriram que 59% delas pediam habilidades tecnológicas e/ou digitais, mas isso não era igualmente distribuído entre os cargos: 100% das especificações para CIOs, CMOs e CTOs exigiam tais habilidades, mas menos de um terço das especificações para diretores de recursos humanos e finanças faziam o mesmo, e só 40-60% das buscas por CEOs, diretores de board e de finanças pediam conhecimento técnico.
Um estudo da Accenture sobre o expertise tecnológico nos conselhos e no nível C-Level dos bancos descobriu que apenas 1 em cada 10 pessoas que integram a diretoria dessas instituições conhece o suficiente de tecnologia para fazer as perguntas certas que vão direcionar a transformação digital. O percentual de 2021 representa um avanço de ridículos 6% sobre o resultado da mesma pesquisa, feita em 2015.
Na Austrália, o estudo “Driving Innovation: the boardroom gap“, feito antes da pandemia, descobriu que apenas 3% das pessoas com cargos de diretoria nas empresas do país tinham algum background em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). O cenário revela que, na hora de priorizar investimentos e avaliar riscos, a maioria vai olhar para problemas tradicionais e deixar escapar as perguntas chatas que cobram mais inovação, simplesmente porque falta voz ativa na mesa.
A ausência de habilidades digitais no topo da “cadeia alimentar corporativa” é um luxo ao qual as empresas não podem mais se dar. E estamos falando de ter, pelo menos, metade da diretoria sabendo a diferença entre IA e IoT. Um artigo da MITSloan levanta a lebre: “grandes empresas com equipes executivas com experiência digital superaram o desempenho de empresas comparáveis sem essas equipes em mais de 48%, com base no crescimento da receita e na avaliação”.
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