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TENDÊNCIAS

Empresas também podem lucrar com a onda NFT

Seja por intermédio de campanhas de marketing ou de criação de um novo negócio, há benefícios para aquelas que forem criativas e precavidas quanto aos meandros legais

Por Cristina De Luca 20/03/2021

Tudo pode virar Non-Fungible Tokens, ou simplesmente, NFT, a sigla do momento. Uma nova forma de negociar bens na indústria criativa que já começa a chamar a atenção dos profissionais de marketing e dos homens de negócio. A França, por exemplo, está fervilhando de startups NFT, a ponto de estar se transformando no epicentro europeu dessa corrida pelo ouro virtual. A startup Arianee, que certifica a propriedade de bens de luxo virtuais, arrecadou € 9 milhões em uma rodada de Venture Capital.  Isso aconteceu apenas duas semanas depois que a plataforma de futebol Sorare levantou uma rodada de € 40 milhões, liderada por investidores internacionais como Benchmark e Accel.

Mas como a sua empresa pode surfar essa onda? Bom, olhando com atenção para o mundo da tokenização de ativos. Se eles forem digitais e exclusivos, como o fonograma de uma música, ou puderem ser transformados em algo digital, como os documentos de profissionalização de 12 jóias raras da base de um time de futebol  (o Vasco tokenizou o passe deeses jogadores e pretende vender 500 mil tokens a R$ 100 cada, totalizando R$ 50 milhões) e as animações assinadas por artistas famosos usando o seu produto, como fez a marca de papel de papel higiênico Charmin, a sua marca está em condições de entrar no jogo, seja via campanhas de marketing, seja através da criação de um novo negócio e fluxos de receita.

Anote: as regras do jogo para a sua empresa são ser phygital e ter uma comunidade de fãs apaixonados pela marca ou produtos específicos, que nem precisa ser muito grande, apenas fiel, capaz de valorizar (e muito) aquilo que a sua empresa pretende transformar em um NFT.

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Outras propriedades importantes dos NFTs que entram nessa composição de valor são:

  • Indivisíveis: os NFTs não podem ser divididos em frações, ao contrário do Crypto. Em outras palavras: você possui um NFT inteiro ou não o possui de forma alguma.
  • Verificáveis: cada NFT é único e vem com um identificador único que especifica quem o possui, quando foi comprado e de quem.
  • Indestrutíveis: os NFTs alavancam a tecnologia de blockchain e contratos inteligentes (smart contracts), o que significa que eles não podem ser destruídos, removidos ou replicados.

Na prática, um token não fungível é um identificador digital que pode ser usado para verificar a propriedade de um item virtual no blockchain. Anexar um NFT a itens únicos, com representação digital, permite que eles sejam comprados e vendidos, geralmente por meio de um leilão, ao mesmo tempo que garante a identidade do criador e dos proprietários.

Explicando melhor: os NFTs são registrados em um blockchain, assim como as criptomoedas, portanto, uma vez que a propriedade é transferida, ela não pode ser revertida. Como “tokens”, eles possuem um ID único que os distingue de outros NFTs. E como os blockchains costumam ser abertos – ou seja, qualquer pessoa pode ver o histórico das transações por conta própria – é fácil detectar negócios duvidosos e falsificações. Desse modo, os NFTs são verificáveis ​​como obras de arte históricas: eles viajam com segurança entre as partes, possuem certas qualidades que os distinguem das cópias, e qualquer pessoa que olhe pode fazer essas checagens por si mesma.

Ao verificar a exclusividade, os NFTs criam uma escassez online que está fazendo com que o valor dos itens cobiçados dispare. E isso desencadeou uma corrida de criadores, investidores e empreendedores que procuram formas de lucrar com a tendência. No ano passado, milhões de dólares fluíram para tokens não fungíveis em uma variedade de plataformas. Esse ano, o crescimento segue exponencial.

Naturalmente, existem alguns temores de uma bolha e outros problemas típicos dos criptoativos (roubos de carteira, a possibilidade de serem usados, indiretamente, para a lavagem dinheiro, dependendo dos usos permitidos ao NFT adquirido, a durabilidade e até se são uma bolha prestes a estourar). Apesar de todos esses senãos, para aqueles que trabalham no espaço do blockchain, os NFTs são uma evolução natural que está reescrevendo a economia fundamental de como o conteúdo digital é valorizado.

De todo forma, se sua empresa estiver pensando se lançar no mundo NFT convém estudar também os aspectos legais. Principalmente em relação às regras de copyright.

Novo negócio

NFTs são escritos codificados em software (chamados de contratos inteligentes) que definem como verificar a propriedade e gerenciar sua capacidade de transferência. Portanto, a fim de oferecê-los para compra você também precisa especificar os direitos de quem compra. Esses direitos podem ser uma recompensa física, como o tênis criado pelo artista preferido do seu cliente vip, cujo projeto foi transformado em NFT, ou a propriedade intelectual do solo de guitarra daquela música que fez os fãs se apaixonarem por aquela gravação.

Como qualquer aplicativo de software, os NFTs podem ser programados além do básico de propriedade e transferibilidade para incluir também uma variedade de outros aplicativos e funcionalidades, incluindo vincular o NFT a outro ativo digital. Por exemplo, um contrato inteligente pode ser escrito para alocar automaticamente uma parte dos valores pagos por qualquer venda subsequente do NFT de volta ao proprietário original, dando assim ao proprietário a capacidade de realizar os benefícios do mercado secundário. Em outra palavras, um mesmo NFT pode ser subdividido em partes, como no caso da obra do Bleeple, que faturou milhões e pode render outros tantos milhões ao comprador, dependendo dos direitos de uso. Já pensou quanto cada um dos 5 mil pictogramas pode custar hoje?

Quer outro exemplo? O Phonogram.me, em fase de lançamento, pretende ser o primeiro stockmarket em NFT de música brasileira criado para descentralizar a indústria da música, colocando na mão dos criadores, gravadoras e investidores a chance de juntos lucrarem com a valorização e divulgação do seu asset mais importante: o copyright dos fonogramas.

Não esqueça: há três razões importantes pelas quais os NFTs oferecem uma economia fundamentalmente melhor para os produtores/criadores.

A primeira é removendo intermediários que buscam renda (caso dos artistas, sejam eles pintores, escultores, designers gráficos, músicos, fotógrafos, etc).

A segunda é habilitando a classificação granular de preços (cada parte do fonograma pode ser atribuída a um músico específico e a maior parte à gravadora, que pode ter no NFT uma nova forma de rentabilizar ativos antigos, por exemplo, sem deixar de distribuir a parcela de cada participante da obra, que por sua vez também pode negociá-la separadamente, como no caso do solo de guitarra).

A terceira e mais importante é justamente a maneira pela qual os NFTs mudam a economia do criador tornando os usuários proprietários. Entendeu?

Muitos blockchains podem ser usados ​​para gerenciar NFTs, incluindo Ethereum (com seus padrões de contrato inteligentes ERC-721 e ERC-1155 há muito estabelecidos), FLOW e Wax, mas o processo é basicamente o mesmo com cada um. Notavelmente, certos marketplaces de NFT funcionam apenas com certos blockchain e, portanto, a escolha de qual blockchain usar para um NFT pode ter implicações comerciais reais para o vendedor. Até porque os NFTs podem ter outras aplicações, além de serem usados ​​para transações de conteúdo, incluindo o gerenciamento da cadeia de suprimentos de bens físicos e a garantia das transações financeiras.  Então, convém estudar bem o mercado antes de aventurar a marca.

Por exemplo, quando a plataforma YellowHeart  facilitou a venda de um novo álbum de Kings of Leon como um NFT , os termos de serviço da plataforma incluíram alguns elementos da Licença NFT, mas com modificações significativas. O texto do Termos de Serviço do YellowHeart declara que a aquisição do NFT dá ao comprador o direito de exibir a arte (definida como a arte do álbum e imagens) e a mercadoria incluída (definida para incluir os arquivos de música) associada ao NFT, enquanto o comprador possuir o NFT e apenas para fins pessoais. O elemento de licença comercial da Licença NFT não foi incluído, e os termos do YellowHeart incluem uma série de cláusulas que restringem a atividade comercial relacionada aos trabalhos criativos por trás do NFT, como proibir o uso da arte relacionada ou mercadoria incluída em produtos de terceiros ou em filmes ou em outras mídias.

Participantes do mercado afirmam que os NFTs podem ser usados ​​para provar a autenticidade. Na verdade, os NFTs podem autenticar a propriedade de um token em si, bem como a história única de como tal token foi desenvolvido e vinculado a um trabalho criativo. No entanto, um simples NFT por si só não pode ajudar a associar o criador ou proprietário de um NFT a uma pessoa real no mundo físico, nem valida que o criador do NFT tenha os direitos subjacentes de vincular esse NFT a qualquer trabalho criativo específico. O que, forçosamente, levará a sua empresa a ter que se preocupar com algumas questões jurídicas.

Saber o número de série exclusivo de um determinado relógio Rolex não significa necessariamente que estou de posse do referido Rolex. Se eu comprar um NFT de uma obra de arte digital, nem sempre recebo o arquivo original da referida arte, que ainda pode pertencer ao seu criador. No entanto, existem ativos digitais que agora estão sendo criados em plataforma blockchain como as mencionadas acima, o que significa que seus NFTs são mais como arquivos criptografados dos próprios ativos que vivem nativamente no blockchain. As pessoas não podem acessá-los sem usar um dapp, porque os ativos em si não existem fora do blockchain, ao contrário de uma peça tradicional de ativo digital.

Desnecessário dizer que as leis e regulamentações atuais não foram atualizadas para reforçar a transação de itens abstratos como tempo ou receita futura, e as vendas são puramente baseadas na boa vontade das partes envolvidas. Afinal, propriedade é uma construção social que só funciona quando todos os envolvidos concordam com isso. No mundo real, temos leis e atos para provar e proteger a propriedade de ativos valiosos; no mundo virtual, agora temos NFTs. Como a maioria dos objetos feitos pelo homem, o valor dos NFTs, em última análise, deriva do número de pessoas que acredita em seu valor e concorda em mantê-lo.

Como o mercado ainda é relativamente novo, a utilidade dos NFTs aumentará conforme as experiências digitais forem construídas em torno deles, incluindo mercados, redes sociais, vitrines, jogos e mundos virtuais. Também é provável que surjam outros produtos criptográficos voltados para o consumidor, emparelhados com NFTs. Os videogames modernos como Fortnite contêm economias sofisticadas que misturam tokens fungíveis como V-Bucks com NFTs/bens virtuais como skins. Algum dia, cada comunidade da Internet poderá ter sua própria microeconomia, incluindo NFTs e tokens fungíveis que os usuários podem usar, possuir e coletar. Já pensou em transformar fãs da marca em sócios da loja virtual no Roblox?

No Marketing

Os NFTs costumam ser criados para representar arquivos de imagem em vários formatos (jpeg, gif etc.), embora também possam ser anexados a tweets, MP3s ou qualquer outro tipo de arquivo digital. O que eles trazem para a mesa é a capacidade de tornar ativos digitais de marca tanto remixáveis, ​​quanto não fungíveis.

Para os profissionais de marketing de marca, a ascensão dos NFTs traz novas possibilidades empolgantes nos domínios dos produtos digitais, distribuição de mídia digital e gerenciamento de acesso. Em um mundo digital de abundância, onde cópias são facilmente criadas e distribuídas, os NFTs tornam possível criar escassez digital. E a escassez, segundo o princípio econômico, cria valor.

No início desta semana, por exemplo, a Microsoft lançou um jogo que celebra as mulheres na ciência e recompensa os jogadores com NFTs que desbloqueiam jogos secretos dentro do Minecraft. Já um token social emitido pelo artista de gravação RAC, concede ao seu proprietário acesso a um grupo Discord privado e a itens de merchandising.

Daniel Kim, fundador da MerchLabs, tem trabalhado com celebridades e influenciadores para vender camisetas de marca, downloads digitais e sites de membros. Nos últimos 10 anos, eles registraram US$ 20 milhões em comércio. Ele desenvolveu o MerchNFT.com para ajudar influenciadores sociais e criadores digitais a transformar seu conteúdo em um NFT colecionável que eles podem vender para seus fãs.

Na indústria da moda, por exemplo, em que o valor da exclusividade é historicamente aplicado, o NFT é uma forma de fazer com que ele seja aplicável também no digital. Imagine colocar à venda um avatar desenhado por Donatella Versace ou Stella McCartney? Lançar peças icônicas de edição limitada com uma assinatura de design pela qual uma marca é conhecida e reconhecida, é uma das formas de de aproveitar a escassez e impulsionar a demanda também no digital.

A Nike patenteou sapatos como NFTs chamados CryptoKicks em dezembro de 2020, o que permite aos usuários “criar” tênis personalizados que podem então ser fabricados no mundo real. Essa implementação de NFTs de maneira inteligente confunde a linha entre o físico e o virtual, de quebra capitalizando as oportunidades de monetização em ambos. A empresa ainda não lançou oficialmente nenhum tênis CryptoKicks, mas a patente está lá, quando eles estiverem prontos.

O mesmo princípio pode ser aplicado também em outros mercados. A Taco Bell vendeu 25 GIFs e imagens com o tema taco em um mercado NFT em 30 minutos.

Imóveis, ingressos para eventos, licenciamento de marca e até mesmo tokens de ativos do mundo real também são casos de uso possíveis que estão sendo explorados.

Normalmente, os ingressos digitais são facilmente transferíveis e intercambiáveis, uma vez que todos desempenham a mesma função de autenticação de acesso a experiências e eventos exclusivos, tanto online quanto offline. O que os NFTs acrescentam à equação é que tornam cada ingresso individual único em si mesmo, além de seu valor funcional, como um canhoto de ingresso autografado por uma celebridade. Portanto, o próprio acesso torna-se tokenizado e mercantilizado, livre para ser comprado e vendido sem a necessidade de terceiros para intermediar.

Além de bens digitais e acesso tokenizado, novos casos de uso de NFTs também estão surgindo na forma de “tokens sociais” que buscam tokenizar conceitos mais abstratos do que bens digitais. Reuben Bramanathan, que anteriormente trabalhou na Coinbase, tokenizou seu tempo. O armador principal do Brooklyn Nets, Spencer Dinwiddie, planeja lançar um token digital para outros investirem em seu contrato, essencialmente criando NFTs para sua renda futura.

Na opinião dos especialistas, há uma vantagem para pioneiros agora, pois há tão poucos NFTs de marcas no mercado (veja o levantamento abaixo, feito pela NonFungible.com), então o primeiro e maior conselho é experimentar. Pular cedo para este mercado nascente dará maior exposição na mídia/social e, potencialmente, trará novos públicos para a marca.

Onde exibir o NFT da marca?

Alguns dos mercados NFT mais comuns incluem OpenSea, Mintable, Nifty Gateway e Rarible. Também existem mercados de nicho para tipos mais específicos de NFTs, como NBA Top Shot para destaques de vídeo de basquete ou Valuables para leilão de tweets.

Você basicamente fará upload de seu conteúdo para um mercado e, em seguida, seguirá as instruções para transformá-lo em um NFT. A maioria é adquirida usando Ether, a moeda do Ethereum, mas também podem ser comprados com outros tokens ERC-20, como WAX e Flow. E, em alguns mercados, até em dólar.

Estude bem cada um deles, já que o uso do NFT pode mudar modelos de negócios inteiros, e resolver algumas das desigualdades e vulnerabilidades da web atual.

 

 

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