Além do já complexo desafio de implementar IA, algumas empresas começaram a analisar os possíveis benefícios de construir Organizações Autônomas Descentralizadas de IA (AI DAOs). Traduzindo, organizações orientadas por dados e totalmente automatizadas desde já consideradas por alguns estudiosos como uma grande ameaça para a maioria das organizações tradicionais nos próximos anos. Uma ideia antiga, que parece pronta para decolar.
Uma DAO é, na prática, um algoritmo que implementa direitos de propriedade de token, obrigações contratuais e regras de lógica de negócios. Quando todas essas coisas são combinadas, obtemos uma empresa autônoma, orientada por dados e transparente, administrada por meio de contratos inteligentes que distribuem valor entre seus acionistas virtuais. Uma organização na qual suas regras, sua estrutura de gestão e até mesmo suas funções básicas são determinadas por código imutável – protegidas pela tecnologia blockchain.
Em teoria, qualquer interação entre humanos e organizações pode ser expressa como um contrato. Contratos inteligentes (transmissão de informações e execução de contratos) construídos na tecnologia blockchain nos permitem construir esses tipos de organizações com base na nuvem. O objetivo é poder automatizar todas as funções de gestão e administrativas. O aspecto IA, de uma AI DAO, está relacionado a agentes independentes que tomam decisões de forma autônoma. Algo que tem encontrado eco nas finanças e no varejo.
Os entusiastas dizem que a IA é o Santo Graal das verdadeiras DAOs. E que surgimento das AI DAOs transformará a forma como as pessoas administrarão não só empresas, como comunidades em geral, a Internet, a Web e, eventualmente, a sociedade. Criará não apenas novos modelos de negócios, mas também novos tipos de organizações. Razão pela qual consideram fundamental para as grandes corporações começarem a antecipar o impacto das DAOs. “Esta potencial economia entre IAs representa uma grande ameaça aos nossos modelos de negócios existentes”, afirma Alexandre Gonfalonieri, consultor de IA da Philips.
Também esperam ver um número crescente de pequenas DAOs independentes nas quais todos possam investir facilmente. Por esse motivo, defendem que a criação de AI DAOs pode ser estratégica, assim como o compartilhamento da sua propriedade com os clientes, iniciativa que pode provocar grandes mudanças na forma como clientes e associações interagem entre si. Por exemplo, o DAOstack visa criar negócios em que uma única entrada externa é o cliente.
Em resumo, na convergência de blockchain e IA estará um tipo radicalmente novo de empresa – sem funcionários, sem patrões e com produção ininterrupta. Um conjunto de regras pré-programadas determinará como a empresa deverá operar e os computadores farão o resto. Uma frota de táxis autônomos, por exemplo, com uma camada de contratos inteligentes apoiada por blockchain, poderia funcionar 24 horas por dia, 7 dias por semana, incluindo dirigir até a oficina para manutenção, sem qualquer envolvimento humano.
Mas questões complicadas precisam ser resolvidas antes de atingirmos as verdadeiras DAOs, pontuam os críticos. A maioria delas deriva das dificuldades crescente de criação de mecanismos de governança e incentivo para projetos cada vez mais complexos. Por exemplo:
A IA coletiva e coordenada pode ser uma ferramenta importante para superar essas barreiras. Em vez de votar em cada ação, os atores podem simplesmente retransmitir suas preferências para o agente de IA. Esses milhões de micro-decisões podem então ser tratados de forma autônoma pelos agentes de IA da rede. Ao se terceirizar a variedade de ações da rede para uma coleção de agentes de IA, os mecanismos de governança podem ser amplamente simplificados e otimizados.
Por exemplo, digamos que uma rede precise de um upgrade porque há uma ineficiência em seu sistema de pagamento. Em vez de depender da rede para determinar qual atualização fazer (junto com a decisão de quem a constrói e quanto pagar), o agente de IA automatiza essa atualização.
Com agentes de IA coordenados e autorizados, as organizações podem terceirizar uma quantidade significativa de decisões de rede, incluindo problemas com governança, votação, segurança, sistemas de reputação, capacidade de atualização, etc. Isso pode levar anos fora do cronograma de desenvolvimento necessário para introduzir organizações totalmente descentralizadas e autônomas justas.
Para encurtar a história, se fôssemos capazes de aplicar IA com sucesso aos DAOs, poderíamos estar criando a primeira empresa autônoma e descentralizada gerenciada por IA. O que isso significa de uma perspectiva interna e externa de como as empresas são administradas?
Idealmente, estaríamos criando o que poderíamos chamar de AI C-Level: diferentes IAs gerindo diferentes parâmetros (por exemplo, economia, marca, recursos humanos, etc.), tomando as melhores decisões possíveis tanto para os funcionários quanto para os acionistas.
O caminho está aberto. Falta pavimentá-lo.
“A meu ver, os DAOs estão em um estado de evolução amorfa. Ainda não sabemos qual impacto terão na sociedade”, escreveu o colaborador da Web3, Yalor Mewn, no DAO Report, da Gitcoin.
Há até quem já defenda disntinguir bem os termos centralizado e distribuído em relação às organizações e o uso da IA. Será que ajudaria?
“Como investidor em IA, parece que a maioria dos VCs com quem falo são loucos por blockchain e acham que é a tecnologia mais disruptiva que existe, enquanto me dizem que IA é apenas Ciência de Dados básica com um novo nom. Eu discordo 100%”, afirma Rob May, venture partner da PJC e cofundador e CTO da Dianthus. “A IA, não Blockchain, será a chave para DAOs de sucesso”, completa.
Quer entender melhor como a combinação de DAOs e IA está ajudando o futuro das organizações? Trent McConaghy, da Open Lunar, tem algumas respostas para isso. Vale tirar um tempinho para ouví-lo.
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