Os profissionais que usam Inteligência Artificial (IA) em seu trabalho estão economizando uma média de quatro horas ou mais de trabalho na semana. Acha pouco? Até 2029, a Inteligência Artificial (IA) deverá economizar 12 horas por semana, o que equivale a colocar mais um colega para cada 10 membros da equipe, segundo um levantamento da Thomson Reuters.
Para funções técnicas, como programação, os ganhos são ainda maiores: uma pesquisa conjunta da MIT Sloan, Microsoft Research e GitHub apontou uma redução de até 56% no tempo de codificação.
Mas aí vem a pergunta: o que fazer com esse “tempo extra”? Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Lausanne em 2024, com 302 usuários de IA e 57 gestores de diferentes países, revelou um dado preocupante: embora 82% dos gestores relatem que a IA os ajuda a realizar tarefas mais rapidamente, 36% admitem desperdiçar mais da metade do tempo poupado. Entre os demais usuários de IA, 83% afirmam desperdiçar pelo menos um quarto desse tempo.
A razão por trás desse desperdício é simples: a maioria das pessoas não percebe, mede ou planeja como realocar o tempo salvo. Como destaca Isabelle Engeler, autora principal do estudo e professora da Universidade de Lausanne, é preciso rastrear e compreender os ganhos de tempo para usá-los de forma intencional. Sem esse planejamento, o tempo se esvai em tarefas repetitivas, distrações ou simplesmente “se perde”.
Como utilizar bem o tempo que a IA economizou?
Empresas e profissionais podem seguir algumas recomendações práticas para transformar esses ganhos de produtividade em valor real:
1. Acompanhe o tempo economizado
Utilize ferramentas como Harvest ou ActivTrak para medir com precisão quanto tempo está sendo poupado com o uso da IA. A autorreflexão também funciona: anote quanto tempo você levava para realizar uma tarefa antes da IA e quanto tempo leva agora. Só assim será possível dimensionar o “bônus” de tempo disponível.
2. Planeje com antecedência como reinvestir o tempo
William Zhang, especialista em IA, sugere tratar o tempo economizado como um recurso valioso, com destino definido. Ele propõe quatro áreas para reinvestimento:
- Desenvolvimento de habilidades – como aprendizado de novas ferramentas ou idiomas
- Inovação – testar ideias e propor melhorias
- Relacionamento interpessoal – colaborar com colegas e clientes
- Bem-estar (pausas planejadas para descanso e saúde mental
3. Implemente planos de ação concretos
O tempo pode ser usado para entender melhor os clientes e desenvolver novas soluções de forma ágil. Um dos analistas do GoDaddy criou um sistema de roteamento inteligente de chamadas com IA, melhorando a experiência do usuário e inspirando outros a fazerem o mesmo.
4. Evite simplesmente fazer “mais do mesmo”
Mais da metade dos gestores entrevistados disse ter usado o tempo poupado apenas para fazer mais do trabalho que já faziam, o que limita os benefícios da IA. Em vez disso, esse tempo pode ser usado para:
- Participar de projetos estratégicos
- Atualizar-se sobre tendências do setor
- Organizar workshops internos
- Melhorar processos internos
5. Encoraje a experimentação e o aprendizado contínuo
Profissionais que usam IA com frequência relataram que o tempo economizado lhes permitiu explorar novas formas de trabalhar. O jornalista David Gewirtz, da ZDNet, mostrou como aplicou IA em tarefas como depuração de código, análise de sentimento de clientes, geração de imagens e até transcrição de ideias captadas pelo relógio inteligente enquanto cozinhava.
O tempo poupado com IA não deve ser visto apenas como oportunidade de “fazer mais”, mas sim como um convite para “fazer melhor”. Segundo o economista e Prêmio Nobel Christopher Pissarides, devemos usar esse tempo para melhorar nosso bem-estar e, quem sabe, migrar para jornadas mais curtas de trabalho, como a semana de quatro dias.