A incerteza define o cenário macroeconômico com que trabalhamos nos últimos anos e que cruza continentes, da estagnação do PIB do Velho Continente aos constantes alertas de uma desaceleração da economia nos Estados Unidos. Há ainda alardes econômicos na China e, com isso, a expectativa de um efeito cascata em todo planeta. E no Brasil? Bom, a instabilidade interna e suas consequências criaram um ambiente pouco favorável para os negócios no primeiro semestre.
Mas esta não é uma coluna sobre política e economia, e sim de transformação de tecnologia e de negócios. Assim, o ponto é: a incerteza, junto das especulações anunciadas pelos profetas do apocalipse, acertou em cheio os investimentos e a realização dos projetos de TI. Ao tentar enxergar o futuro e encontrar o tempo encoberto, muitas empresas tiveram dificuldades em definir quanto gastar e em quais projetos investir — o que é natural. Afinal, quando não enxergamos a estrada à nossa frente, é melhor pisar no acelerador ou seguir com um pouco mais de cautela?
Qualquer um sabe responder intuitivamente essa questão.
Momentos difíceis trazem ainda outro efeito colateral (eventualmente, mas não necessariamente, positivo): a centralização das decisões. Com um grupo mais restrito de pessoas fazendo escolhas e assumindo a liderança na empresa, o bater de cabeças diminui, enquanto as chances de seguirem todos no rumo certo aumentam. Só que, para a TI, a coisa não funciona bem assim. Em geral, a área já lida com um ambiente de pouca autonomia e, num cenário de decisões centralizadas, essa margem se reduz ainda mais.
O papel da TI, enfim, é paradoxal: por um lado, demanda-se a capacidade analítica de se ajustar a cenários desafiadores. Só que tal inteligência depende fundamentalmente da arquitetura de sistemas disponível. E esta demanda espaço no orçamento.
Qual é a hora certa de retomar os investimentos? Quando acelerar e enfrentar as incertezas que, talvez, continuem rondando o negócio por algum tempo? Afinal, quando você pisa no freio, no curto prazo, pode ganhar saúde financeira para superar o momento de instabilidade. Por outro lado, quem desacelera demais pode até perder competitividade e, eventualmente, se alijar do mercado.
Para voltar a investir, muitos líderes aguardam sinais externos: os números da economia podem começar a mostrar uma certa solidez e projetos de lei que fazem sentido podem ser aprovados, diminuindo a incerteza. A temperatura externa também pode vir de um concorrente que voltou a investir, o que nos força a decidir.
Aguardar indicadores externos não deixa de ser uma boa prática, mas não podemos nos esquecer de que a história econômica do Brasil equivale a um voo de curtíssima distância. Nos últimos 30 anos, não tivemos crescimentos consistentes e constantes, e não há sinais suficientes para contar com uma grande mudança nesse sentido. Em compensação, o Brasil, com mais de 203 milhões de pessoas (IBGE), é o quinto maior mercado do mundo. Tem empresas globais respeitadas e um mercado consumidor brutal, que se compara a poucos no mundo. Mesmo com todos os problemas, o País oferece grandes oportunidades. Além disso, é melhor sobreviver e ajustar-se ao longo do tempo do que simplesmente abdicar da luta.
A economia perde se todos resolvem adiar projetos indefinidamente. E eu observo isso, na prática. Até meados de 2022, alguns de nossos clientes de varejo tinham planos audaciosos de abrir muitas lojas. Após uma paralisação completa desses projetos, percebo que agora esses planos começam a ser retomados, talvez não na velocidade desejada anteriormente, mas numa situação intermediária. É preciso fazer alguma coisa, passo a passo, evitando grandes erros, mas também a inércia.
No meio desse imbróglio, está a TI, com necessidades de atualização tecnológica da arquitetura que sustenta as operações da empresa, pressionada para garantir a segurança das operações, gerenciando um backlog constante de demandas e melhorias, com baixo grau de autonomia para tomar decisões técnicas importantes e, nisso tudo, precisando contribuir para o esforço da empresa em reduzir custos e adiar investimentos.
Na minha visão, para minimizar as dificuldades que esse cenário traz para a TI — e, portanto, para a própria empresa – é importante que as lideranças de TI tenham a experiência, o conhecimento e a capacidade de discutir os impactos dessas decisões sobre o desempenho do negócio, em função dos eventuais gargalos tecnológicos que o não-investimento poderá causar. E não necessariamente para reverter a decisão, mas sim para fundamentá-la melhor. Para dar aos executivos a oportunidade de contextualizar a decisão de forma mais completa e efetuar os ajustes que se julgarem convenientes.
Uma TI que se omite em situações como essa será fatalmente vista como negligente ou reativa quando os efeitos do não-investimento se fizerem sentir sobre os processos do negócio.
O escritor israelense Amos Oz costumava dizer que preferia Anton Tchekhov a Shakespeare, pois no final das obras do dramaturgo inglês, todo mundo morre. Já nas de Tchekhov, os personagens estão todos tristes, sim, mas são sobreviventes.
Há tempo para tudo. Assim como é importante saber quando pisar no freio, é fundamental entender a hora certa de voltar a acelerar, mesmo que timidamente. As duas medidas podem garantir a sobrevivência de um negócio, porém, para empresas com ambição de crescer, talvez seja o momento de pesar seriamente os caminhos.
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