A saga GameStop + Reddit + Robinhood versus Wall Street e os grandes fundos de hedge, que fechou a semana passada parecendo roteiro de filme ou série, recomeçou nesta segunda-feira com a perspectiva de virar não apenas um, mas dois filmes! Um deles está sendo negociado, claro, pela Netflix. O outro, pela MGM, que já comprou os direitos de adaptar o livro, ainda não escrito, “The Antisocial Network“, do jornalista Ben Mezrich, autor de outro livro famoso (The Accidental Billionaires) sobre uma outra rede social muito famosa (Facebook), que virou o filme The Social Network (A Rede Social), que levou o Oscar em 2010.
A Netflix não comenta sobre o assunto, mas ao que parece, a ideia é que o filme seja uma reflexão sobre como a social media permite que milhões de indivíduos desafiem os guardiões do status quo, para o bem e para o mal. O roteirista do filme é o premiado Mark Boal (The Hurt Locker e Zero Dark Thirty) e a consultoria para desembaralhar esse drama épico será do polêmico Scott Galloway.
Mas como viemos parar aqui? Desde 11 de janeiro, milhões de pequenos investidores, a grande maioria empoderada pelo app de corretagem online Robinhood, e organizados em um fórum do Reddit (wallstreetbets), declararam guerra ao mercado financeiro, elevando exponencialmente o valor de ações medíocres de empresas do varejo (GameStop, AMC, Blackberry) para jogar na lona grandes fundos de hedge como Citron Capital e Melvin Capital, entre outros, que ganham muito dinheiro especulando com a queda do valor de ações de empresas em dificuldade – uma prática conhecida como short selling, ou venda a descoberto.
Contra os short sellers, milhões de redditors aplicam a tática do short squeeze, forçando a alta das ações a descoberto para gerar prejuízos milionários nos fundos, derrotados em seu próprio jogo. Como no short sell você aposta contra o preço das ações usando papéis que depois precisa recomprar, se esses papéis subirem, vertiginosamente, o prejuízo fica todo no seu colo na recompra. “É um aviso para acordar“, analisa a colunista Alexis Christoforous, do Yahoo Finance. A confusão bagunçou Wall Street e se estendeu na semana passada para os mercados de ações da Europa e Ásia.
As ações da GameStop, uma rede de lojas de videogame fundada em 1984 que acumula prejuízos há anos, saíram de US$ 19,75 no dia 11 de janeiro para US$ 325 no dia 29, alta acumulada de mais de 1.600%. Os fundos sentiram o golpe: a Melvin Capital teve perdas de 53% com a GameStop e o fundo Citron anunciou que vai parar com o short selling após 20 anos de prática. O bilionário Steve Cohen, dono do fundo Point72, fechou sua conta no Twitter, alegando ameaças à família. E o movimento colocou em alerta a SEC e Washington.
Mas quem se colocou sob os holofotes, de forma pouco confortável, foi a Robinhood, a empresa cujo slogan fala em democratizar o acesso ao mercado financeiro. O app permite que investidores de varejo negociem até frações de ações e não cobra comissão. Não está sozinha, há concorrentes que também ganharam visibilidade na semana passada, como a Webull. Na quinta-feira, 28/01, interrompeu parcialmente as negociações de 50 papéis no app, entre eles obviamente a GameStop, permitindo apenas a venda, por não ter dinheiro em caixa suficiente para cobrir eventuais prejuízos, uma regra para operar nesse segmento. Quase foi cancelada pelos próprios usuários, furiosos.
Entre quarta-feira (27/01) e segunda-feira (01/02), conseguiu levantar US$ 3,4 bilhões, dinheiro exigido para ter em caixa para bancar eventuais perdas com o frenesi de transações dos seus usuários. Agora corre o risco de ser processada. No domingo, o co-founder e CEO da Robinhood, Vlad Tenev, acabou sendo entrevistado por Elon Musk na Clubhouse, a rede social de streaming de áudio, para explicar ao paranóico Musk que não existem teorias da conspiração por trás da decisão.
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