Lembra do choque que foi o cancelamento de eventos por causa da pandemia, um ano e meio atrás? O desespero bateu naquele momento. Na época, dois dos quatro fundadores da Blitzar estavam focados em desenvolver sistemas de interatividade para eventos físicos. Com tudo suspenso, sem previsão de volta, estavam, ao lado de milhares de profissionais do setor, sem perspectiva de quando iriam trabalhar novamente.
Binho Dias era um deles. Hoje, como Diretor de Produto da empresa, a confiança no mercado de plataformas 3D para a realização de eventos virtuais interativos é total. A Blitzar está evoluindo alinhada ao conceito de microverso. E já estuda o metaverso.
O desafio atual da empresa é equilibrar as decisões de crescimento e potencializar a escalabilidade do negócio.
“Em um ambiente inovador e criativo, definir prioridades é primordial. Temos que segurar a ansiedade, pois são tantas as ideias e novas tecnologias que trazemos que às vezes fica difícil esperar ficar pronto”, diz ele.
Nessa entrevista exclusiva para a The Shift Binho fala sobre a oportunidade de fazer a diferença no mercado de eventos em um período complicado, as dores do crescimento e os planos para o futuro.
“No nosso mercado passar a olhar para os eventos online como uma via de mão dupla. Sair daquele formatinho de palestra no YouTube e no Zoom e começar a entregar ferramentas de interatividade e ambientes para promover a participação ativa da audiência.
As pessoas não querem só assistir e receber informações. Elas querem interagir, contribuir de alguma forma. Vamos a uma conferência ou convenção para fazer parte do evento. Conversar um a um com colegas, parceiros, clientes é um atrativo tão grande quanto a palestra. As próprias sessões tornaram-se altamente interativas, dependendo de como os apresentadores interagem com o público. Então pegamos a nossa experiência com interatividade digital em eventos físicos e levamos para os eventos corporativos online.
Criamos um omniplace para a realização de eventos, reuniões e distribuição de materiais que oferece ferramentas para potencializar negócios e trabalho, acesso a conteúdos compartilhados e recursos para estimular networking e a interatividade, tudo de uma forma intuitiva e divertida, muitas vezes simulando ambientes de jogos.
No fundo, somos uma plataforma de comunicação envelopada para eventos com uma casca 3D, uma interface mais amigável e diferentes dinâmicas para a audiência, que deixam reuniões ao vivo mais interativas.
A Blitzar é filha da Oficina Sr. Rubens, que em 2011 começou a trabalhar com projeções mapeadas. Com o tempo, a OSR passou a usar frameworks e arte computacional para desenvolver as aplicações interativas. Até que, em 2020, veio a pandemia, e os eventos presenciais acabaram. Aí veio a ideia de construir uma plataforma do zero, projetada para gerenciar eventos online, fácil de usar, sem necessidade de aplicativos ou plugins, segura, customizável e que promovesse a interação com os panelistas, com os expositores e, principalmente, entre os participantes.
Foi o projeto mais audacioso e desafiador de que já participei. Além da repentina mudança trazida pela pandemia, encaramos a tarefa de unir uma equipe de alto nível, levando em conta o senso de urgência do momento, e da opção por desenvolver um sistema desse porte sem investimento externo.
Quatro pessoas com repertórios e conhecimentos bem diferentes, porém complementares, mergulharam no projeto. Eu e a Veruska Almeida já éramos sócios na OSR Interactive. O Caio Velenosi, Interactive Developer e Creative Technologist se uniu ao time para ajudar na parte de Computação Gráfica e desenvolvimento de interatividades. O Danton Vellenich, executivo de tecnologia e empreendedor, veio para completar o time, liderando a área de IT.
Entre planejamento, pesquisa e desenvolvimento tudo foi muito rápido. Em outubro de 2020 fizemos o primeiro evento online, para a Cielo, já em 3D, com foco total na experiência dos usuários, usando pré-renderização para não sobrecarregar os computadores deles, buscando ser funcional em múltiplos dispositivos, mesmo sabendo que ainda é complicado o 3D em navegador.
O teste de fogo foi a convenção virtual da Tommy Hilfiger BR. Um grande amigo meu é diretor lá e estava com um problema seríssimo para fazer as reuniões dos franqueados e tudo mais. Aí propus testar a nossa plataforma, a preço de custo. Ele pagou a Amazon para gente, adorou e acabamos ganhando outro clientes. Fizemos todas as convenções dele de 2020 e 2021.
Então, além da oportunidade de fazer a diferença no mercado de eventos em um período complicado, a Blitzar surgiu como uma grande chance de proporcionarmos uma nova experiência para clientes e audiência, por meio de tecnologia avançada e descomplicada, totalmente proprietária.
A cada evento a plataforma evolui. Sempre tendo em mente que as milhares de pessoas que participarão do evento online devem ser sentir imersas no ambiente do evento, por meio de cenários realistas e atividades interativas.
Para o FNESP, maior fórum do ensino superior da América Latina realizado anualmente pelo Semesp, por exemplo, construímos dois lounges 3D em 360 graus, que permitiam a navegação em primeira pessoa. Um deles simulava um campus universitário e dava acesso às atividades e conteúdos, enquanto o segundo simulava uma biblioteca hiper realista e dava acesso a materiais de apoio, como vídeos e livros.
Investimos na personalização da agenda, criando um roteiro individual dentro do próprio ambiente do evento, dando a possibilidade de seleção de conteúdos favoritos, como vídeos e PDFs que ficavam disponíveis para consulta posterior, e até em gamificação. Para incentivar os participantes a explorarem todos os ambientes e atividades e interagir entre si e com patrocinadores, foram criados mecanismos e regras de jogo de acordo com as necessidades e prioridades dos organizadores do fórum.
O objetivo ali foi mostrar que um evento virtual pode ir muito além de filmar uma palestra presencial e transmitir para o público que está em casa. O conceito, na verdade, tem a ver com integrar e quebrar barreiras entre o ambiente físico e online.
Em eventos online oferecer conteúdo de altíssima qualidade é o básico. O diferencial fica por conta de recursos que surpreendam a audiência. A Blitzar tem isso em mente ao desenvolver cada ambientes e solução de interatividade.
Estudamos muitas plataformas internacionais, que serviram como referência. Percebemos que, aqui, as agências preferem contar com um único fornecedor proporcionando tudo, inclusive a plataforma de streaming. Mas a gente chegou à conclusão que não dava para fazer tudo. Ou a gente investia o tempo e dinheiro criando a Blitzar ou a gente investia na plataforma de streaming. Então decidimos focar uma plataforma de eventos que tornasse o streaming seguro para as informações de uma empresa e, ao mesmo tempo, proporciona interações mais efetivas e métricas reais para os contratantes. E deu super certo.
Hoje somos uma plataforma que combina ferramentas próprias e de terceiros.
Fizemos mais de 30 eventos para marcas como Pepsico, Siemens, Sherwin-Williams, Heringer, Adidas, Aché e por aí vai. Tem gente que pode achar pouco. A gente acha ótimo porque temos um foco mais tailor-made, voltado para grandes eventos, customizados, com integrações muito específicas.
Imagina pegar, sei lá, vinte patrocinadores, vinte estandes, vinte materiais… E o material é aquela coisa, né? Vem PDF, vem vídeo, vem imagem, e aí o PDF está muito pesado. Aí tem que explicar que para o usuário isso vai ser péssimo… É bem complicado. A gente dá uma espécie de consultoria para quem está fazendo o evento também.
Um evento online pode ter o tamanho de uma produção digna de cinema. Por isso, é importante entender e definir muito bem o papel de cada um dos fornecedores contratados, desde a plataforma, que é onde a experiência vai acontecer, até a cenografia, a estrutura tecnológica, os equipamentos de audio e vídeo e a operação dos mesmos, a criação das vinhetas e outros conteúdos promocionais, artísticos e informativos, a seleção das atrações. Tudo importa.
A gente prefere fazer poucos e bons e busca ter um faturamento justo. Funciona. Tanto que chegamos até aqui no bootstrap.
E sempre sentimos o mercado receptivo. Não sei se porque demos a sorte de pegar uma Cielo logo de cara, depois uma Comic-Con. Isso agregou para gente. Na sequência pegamos o Grupo Ageu, Valtra e Massey Ferguson. Eventos tão grandes e marcas tão fortes que eu acho que deram um peso especial, né? Viraram cartão de visita.
Agora chegamos em um estágio no qual estamos pensando em mudar um pouco esse modelo negócio. Estamos fazendo vários estudos e avaliando se vale a pena massificar ou não. Alguns dos sócios imaginam a Blitzar como uma comunidade, com múltiplos eventos de todos os tipos sendo organizados pelos usuários.
Isso porque construímos uma estrutura bastante flexível. Construímos módulos funcionais que vamos incluindo no evento, de acordo com as necessidade dos clientes. E que podem ser facilmente customizados para cada marca. Hoje a gente consegue colocar um evento no ar em poucos dias, dependendo do briefing. E isso contando com a eventualidade de um atraso por parte dos clientes.
O desafio atual da empresa é equilibrar as decisões de crescimento e potencializar a escalabilidade do negócio. Em um ambiente inovador e criativo, definir prioridades é primordial. Temos que segurar a ansiedade, pois são tantas as ideias e novas tecnologias que trazemos que às vezes fica difícil esperar ficar pronto.
Ter escala também significa ter um outro tipo de estrutura, inclusive de suporte. Por outro lado, ajuda a atrair um investidor. Mas aí você perde o controle que você tem, né? Então pode ser bem complicado. Será que vale a pena? Que já é hora de dar esse passo? De aumentar o número de eventos que a gente faz?
O mercado de eventos não é um mercado constante. Mesmo evento físico né? Você tem uma inconstância muito grande. É muito sazonal.
Começamos focados nos eventos corporativos, mas há o desejo de ir para a área cultural também. Tivemos uma experiência muito legal com o Omelete, para a segunda edição da CCXP. E esse anos queremos pegar algum evento de conteúdo. Ainda não fizemos nenhum. Às vezes você tem dois, três eventos num dia e passa um mês sem ter evento nenhum.
Mas, pensando em escala, estamos olhando muito para a demanda por microversos que mimetizam o escritório da marca e atendam a demanda por escritórios virtuais. Possibilitem a criação de um duplo digital do escritório virtual.
Esse mesmo conceito vale para lojas também. Um espaço 3D onde é possível manter uma unidade na comunicação da marca… Estamos falando de presença e de percepção, dois pontos muito importe para as empresas de varejo, né?
Tivemos muitos pedidos no ano passado de clientes que queriam manter algumas experiências construídas para os eventos, vivas. Faz sentido. Ter um universo mais controlado para receber quem está lidando com marca.
Esses microversos, até para eventos menores, também são uma boa forma de vencer a resistência. Como a pessoa não tem muita experiência então começa com eventos menores e a coisa vai crescendo. É bem comum. As pessoas tem bastante resistência e medo do que é novo.
E, sim, estamos estudando o Metaverso. Instalamos um servidor para ser uma espécie de laboratório e entender como funciona. Eu vejo como o futuro. Não dá pra escapar disso e não tem porquê escapar disso. E é interessante. Pode se tornar uma experiência de virtualização do mundo real, em que você tem um avatar, se move, pode ir até um estande, pode ver outros avatares que estão lá e conversar, trocar uma ideia… Faz todo sentido. É uma nova forma de socializar.
A ideia é continuar desenvolvendo novos recursos de interatividade para manter as experiências de eventos online cada vez mais relevantes e atrativas. Porém, olhando para o futuro, vemos Blitzar como um ambiente expandido, que comporte todo tipo de comunicação física e digital. Eu realmente acredito que o híbrido será o caminho. As marcas que experimentaram os eventos vitrais descobriram vantagens neles. Quais? Maior alcance, maior engajamento e menor custo.
A economia, no caso dos eventos corporativos, é muito grande. Um evento online sofisticado custa 10 vezes menos que um evento presencial. Elas vão continuar fazendo.
No formato híbrido você amplifica a sua audiência extrapolando limites geográficos e mesmo de espaço, porque auditórios têm limites de pessoas. Todo mundo tem um celular no bolso, então ter acesso às interatividades é ampliar a a experiência para quem está e quem não está lá. E você ainda pode contar com uma jornada gamificada. E ainda pode unir os dois públicos através de ferramentas de networking.
Mas os planos de expansão vão além da quebra de barreiras entre online e presencial e têm como base a filosofia open source, em seu espírito de ouvir a comunidade e trabalhar juntos na evolução de um produto cada vez melhor, que faz parte dos princípios da empresa.
Somos uma equipe fixa de dez pessoas, que ganha agregados a cada evento. Dependendo do evento, podemos estar falando de 20 a 30 pessoas.
São duas equipes fixas focadas em servidor, uma que é que é infraestrutura efetivamente, uma que é só a parte de comunicação, porque temos uma série de ferramentas de comunicação pra viabilizar uma experiência interessante no evento. Outra equipe focada no front-end, no 3D real. A equipe de produção e a de vendas.
Mais do que profissionais que trabalham juntos, somos pessoas em uma rede de apoio, que une competência, comprometimento, cuidado e leveza na mesma medida. A gente traz pra empresa o formato de trabalho colaborativo que gostamos e acreditamos.
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Há apostas nessa direção, embora apenas 30% das pessoas saibam realmente do que se trata. Mas toda disrupção começa assim, nas beiradas, certo?
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