Sempre digo que qualidade e Experiência do Usuário (UX) são inseparáveis. Um dado do relatório CX Trends 2023, produzido pela empresa Track.co, mostra que 64,1% das empresas têm a intenção de aumentar os investimentos em UX nos próximos dois anos. E no setor de qualidade não seria diferente. De acordo com a pesquisa World Quality Report 2022-2023, produzida pela Capgemini, 92% dos executivos de tecnologia consideram que não adotar uma estratégia de qualidade de software é um alto risco para o crescimento dos negócios.
Mas nem sempre foi assim. Um estudo divulgado há 15 anos pela companhia de testes norte-americana Original Software mostrou que cerca de 40% dos CIOs e executivos seniores de TI disseram não se importar com a qualidade de software nas suas empresas.
Entre 2008 e 2015, negócios, desenvolvimento e qualidade eram setores bem separados, gerando um desperdício enorme. Algumas empresas não tinham uma área de qualidade interna e, portanto, contratavam fábricas de testes, o que fazia com que centenas de QAs produzissem entregas ineficazes. Isso porque, o que guiava as necessidades do mercado era o setor de negócios, que olhava unicamente para vendas, enquanto os outros focavam somente na parte de desenvolvimento do software.
Em algumas empresas esse modelo persiste até hoje, mas naquela época era mais comum. E mesmo tendo fábricas contratadas, as companhias “não tinham tempo” de testar e muitas vezes colocavam os produtos para rodar mesmo sem a etapa de testes que planejaram, o que gerava um custo maior e onerava a área de desenvolvimento.
Entre 2016 e 2020, muitas companhias começaram a mudar para times ágeis, contribuindo para unificar os três departamentos citados acima. Então, existe o PO - Product Owner -, que representa a área de negócios, os desenvolvedores que escrevem o código e o QA, que assegura a qualidade em todas as etapas. Tudo isso em um único squad, de geralmente seis pessoas, com o intuito de fragmentar os obstáculos. Os problemas são divididos em pequenas frações e distribuídos para as equipes, ganhando agilidade. Portanto, nesse esquema, as três áreas passaram a pensar juntas, o que foi importantíssimo para a evolução dos negócios.
Apesar disso, algumas organizações começaram tardiamente esse processo, principalmente de 2020 para frente, por conta da pandemia. Por isso, eu classifico que estamos em outra transição. Existem empresas em momentos diferentes, que continuam no início da linha do tempo, e outras que estão começando agora com o modelo de squads.
Mas, quem já havia adotado o sistema de times ágeis em 2016, já está em outro patamar. Neste caso, as companhias estão começando a repensar o papel do QA e exigir mais dos desenvolvedores e engenheiros de software, para que esses profissionais também façam testes, o que mostra a busca por cada vez mais aceleração.
Todo esse paralelo cronológico evidencia o quanto o setor evoluiu com o passar do tempo.
Mas o que explica essa mudança de prioridades?
Acredito que a mudança de percepção e cultura tenha sido causada pela transformação nos hábitos e comportamentos do consumidor. Com o avanço da tecnologia, as pessoas ficaram cada vez mais exigentes. Se, antigamente, eu costumava ficar um bom tempo esperando a minha internet discada funcionar, hoje, se o meu 5G demora alguns segundos para carregar uma página, já quero que a companhia telefônica me traga respostas e soluções.
Além disso, a falta de qualidade começou a doer no bolso das empresas e a Black Friday é um ótimo exemplo disso. Anualmente a Sofist publica um estudo mostrando o impacto da lentidão e instabilidade nos e-commerces durante o evento. Em 2022 esses problemas causaram um prejuízo de R$ 48,4 milhões às lojas virtuais. Esse dado mostra que, se o canal digital não entrega uma ótima experiência, o consumidor não compra.
Apesar desse cenário, ainda existe um processo de convencimento muito grande para as empresas entenderem que investir em qualidade de software é fundamental. Isso porque muitas companhias não acompanharam o processo de evolução do setor ao longo dos anos e, por conta disso, estão presas a uma ideia de que olhar para essa área é perda de tempo. Por outro lado, organizações que deram a devida importância à qualidade e se aprimoraram, hoje colhem os frutos disso.
Como mencionei, estamos em um período de transição. No meu ponto de vista, isso não será nada rápido. Acredito que levará cerca de 10 anos para termos uma popularização de empresas que não possuem o papel do QA, ou pelo menos não como ele existe hoje. As companhias esperam que os QAs, com o tempo, se tornem também engenheiros de software, contribuindo com outras etapas do desenvolvimento.
A tendência é que os processos se tornem cada vez mais enxutos e existam metodologias que facilitem a comunicação entre os talentos. As empresas continuarão tendo times multidisciplinares, o que exigirá ainda mais dos desenvolvedores e engenheiros. Para isso, esses squads precisarão de lideranças locais, que disseminem a cultura e auxiliem no desempenho.
As organizações mais competitivas serão aquelas com um time de tecnologia forte, capaz de entregar produtos que realmente agreguem à experiência das pessoas. Para se manterem competitivas, essas companhias precisarão estabelecer processos que melhorem a comunicação, porque ainda vão existir profissionais que entendem de negócios, mas não sabem desenvolver softwares. Para isso, é possível oferecer treinamentos, para que esse colaborador entenda como solicitar uma demanda para o responsável pelo código, evitando assim retrabalho.
Por fim, posso dizer que foram muitas e intensas mudanças nesses últimos 15 anos e eu tenho acompanhado de perto e ativamente toda essa revolução. Em mais 15 anos, espero poder traçar uma nova linha do tempo, enfatizando as incontáveis evoluções que ainda veremos acontecer e podendo trazer um cenário ainda mais positivo: que qualidade seja, cada vez mais, uma prioridade no mundo dos negócios.
(*) Grace Libânio é head de Negócios da Sofist
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