s
Dra Jane Goodall, etóloga e conservacionista, fundadora do Jane Goodall Institute (JGI) e Mensageira da Paz da ONU Foto: Divulgação
SXSW LONDON 2025

Esperança como código: o manifesto silencioso de Jane Goodall

No SXSW London 2025, a Dra Jane Goodall emocionou ao falar sobre propósito, humanidade e esperança como forças transformadoras diante dos desafios da tecnologia.

Por Ana Paula Zamper*, especial para The Shift 04/06/2025

Enquanto o mundo se divide entre os que temem um apocalipse algorítmico e os que sonham com o paraíso tecnológico, Jane Goodall, aos 91 anos, entrou em cena com algo que parecia quase revolucionário: serenidade.

Em pleno SXSW London, num palco repleto de futurologias e dilemas éticos sobre IA, sua presença não era apenas simbólica, era profundamente significativa. Jane não veio falar de tecnologia. E, talvez por isso, tenha dito tudo.

Foi um momento de respiro. De lembrança. De pertencimento. Antes de sermos tecnólogos, executivos, conselheiros ou inovadores, somos humanos. E é a partir desse ponto que ela constrói, com escuta, humildade e propósito, uma narrativa de impacto que atravessa décadas, gerações e fronteiras.

CADASTRE-SE GRÁTIS PARA ACESSAR 5 CONTEÚDOS MENSAIS

Já recebe a newsletter? Ative seu acesso

Ao cadastrar-se você declara que está de acordo
com nossos Termos de Uso e Privacidade.

Cadastrar

A tecnologia mais poderosa ainda é a consciência

Etóloga, conservacionista e referência mundial em empatia e liderança ambiental, Jane aposta na esperança como estratégia. Não uma esperança ingênua, mas aquela que nasce da ação. Que se ancora na consistência e no compromisso diário com o planeta e com o outro.

“Todos os dias você deixa uma marca no mundo. A pergunta é: que tipo de marca você quer deixar?”

Sua fala não foi um alerta. Foi um convite. A verdadeira transformação, segundo ela, começa quando assumimos responsabilidade pelo mundo que ajudamos a criar, com ou sem inteligência artificial.

Enquanto uns debatem chips, tokens e parâmetros, Jane nos devolve a pergunta essencial: “para quem, afinal, estamos construindo o futuro?”

Esperança com Wi-Fi

Sim, ela também mencionou tecnologia. Com um pé na floresta e o outro nos dados, contou como sua equipe usa inteligência artificial para proteger ecossistemas inteiros, um app que escuta os sons da floresta e, com algoritmos de reconhecimento, detecta ameaças e identifica chimpanzés em áreas remotas.

“Eu me sinto nervosa com a Inteligência Artificial”, confessou.

“Mas, como qualquer ferramenta, tudo depende de como ela é usada”. Simples. E potente.

IA, nesse caso, não substitui, potencializa. Está a serviço da vida. Essa visão, aliás, ecoou em outras falas ao longo do SXSW London. De executivos de big techs a pesquisadores independentes, o consenso parece emergir: a tecnologia mais transformadora não é a que automatiza tudo, é a que amplia o que temos de mais humano.

Uma bússola no meio dos algoritmos

Em meio a tantas narrativas de disrupção, a fala de Jane foi um lembrete: não se trata de desacelerar o futuro, mas de lembrar “por que” o estamos criando. E, mais importante, “para quem”.

Sua vida nos ensina que não é preciso ser gigante para causar impacto. Basta ter clareza de propósito e coragem de agir. Esperança, aquela palavra quase banida do vocabulário corporativo, talvez seja o código mais potente que já escrevemos.

Jane nos lembra disso não com discursos, mas com décadas de prática. Em tempos de métricas vazias e promessas genéricas, sua mensagem ecoa como um manifesto silencioso.

A transformação começa com presença.

A tecnologia precisa de propósito.

E esperança é uma escolha.


* Ana Paula Zamper é conselheira da Oficina Consultoria, tech expert e diretora do curso de Inteligência Artificial para C-Levels da Exame|Saint Paul. A executiva está em Londres acompanhando a SXSW London 2025.

A era da impaciência: IA, cultura e o fim das desculpas

SXSW London 2025

A era da impaciência: IA, cultura e o fim das desculpas

Em um mundo acelerado, há urgência em adotar e se adaptar à IA. Euan Blair, CEO da Multiverse, e Nakul Mandan, sócio da Audacious Ventures, explicam por que a IA é um imperativo de crescimento.

Por Ana Paula Zamper e Patrícia Marins*, especial para The Shift
O escândalo dos Correios e os riscos da confiança cega na tecnologia

SXSW London 2025

O escândalo dos Correios e os riscos da confiança cega na tecnologia

Bryan Glick, editor-chefe da ComputerWeekly britânica, usa o caso do escândalo Horizon IT, do Post Office do Reino Unido, como um alerta para os novos tempos da IA: máquinas erram

Por Patrícia Marins*, especial para The Shift
A visão de Idris Elba para um futuro criativo e inclusivo

SXSW London 2025

A visão de Idris Elba para um futuro criativo e inclusivo

De ator a empreendedor de impacto. No SXSW London 2025, Idris Elba apresentou suas ideias poderosas sobre tecnologia e inclusão, de digital wallets a plataformas móveis para cinema

Por Ana Paula Zamper*, especial para The Shift
Brasil e o desafio da credibilidade climática

SXSW London 2025

Brasil e o desafio da credibilidade climática

O embaixador Antônio Patriota defendeu que o Brasil precisa unir discurso e prática para conquistar legitimidade climática. A COP30 é a oportunidade de alinhar narrativa, ação e influência global

Por Patrícia Marins*, especial para The Shift
Lobos terríveis e os limites éticos da biotecnologia

SXSW London 2025

Lobos terríveis e os limites éticos da biotecnologia

A Colossal Biosciences trouxe de volta os direwolves, extintos há 12 mil anos, com IA, bioengenharia e storytelling. Mas a biotecnologia da desextinção levanta questões éticas, ambientais e culturais sobre os limites da ciência

Por Patrícia Marins*, especial para The Shift
Esperança como código: o manifesto silencioso de Jane Goodall

SXSW London 2025

Esperança como código: o manifesto silencioso de Jane Goodall

No SXSW London 2025, a Dra Jane Goodall emocionou ao falar sobre propósito, humanidade e esperança como forças transformadoras diante dos desafios da tecnologia.

Por Ana Paula Zamper*, especial para The Shift