Enquanto o mundo se divide entre os que temem um apocalipse algorítmico e os que sonham com o paraíso tecnológico, Jane Goodall, aos 91 anos, entrou em cena com algo que parecia quase revolucionário: serenidade.
Em pleno SXSW London, num palco repleto de futurologias e dilemas éticos sobre IA, sua presença não era apenas simbólica, era profundamente significativa. Jane não veio falar de tecnologia. E, talvez por isso, tenha dito tudo.
Foi um momento de respiro. De lembrança. De pertencimento. Antes de sermos tecnólogos, executivos, conselheiros ou inovadores, somos humanos. E é a partir desse ponto que ela constrói, com escuta, humildade e propósito, uma narrativa de impacto que atravessa décadas, gerações e fronteiras.
Etóloga, conservacionista e referência mundial em empatia e liderança ambiental, Jane aposta na esperança como estratégia. Não uma esperança ingênua, mas aquela que nasce da ação. Que se ancora na consistência e no compromisso diário com o planeta e com o outro.
“Todos os dias você deixa uma marca no mundo. A pergunta é: que tipo de marca você quer deixar?”
Sua fala não foi um alerta. Foi um convite. A verdadeira transformação, segundo ela, começa quando assumimos responsabilidade pelo mundo que ajudamos a criar, com ou sem inteligência artificial.
Enquanto uns debatem chips, tokens e parâmetros, Jane nos devolve a pergunta essencial: “para quem, afinal, estamos construindo o futuro?”
Sim, ela também mencionou tecnologia. Com um pé na floresta e o outro nos dados, contou como sua equipe usa inteligência artificial para proteger ecossistemas inteiros, um app que escuta os sons da floresta e, com algoritmos de reconhecimento, detecta ameaças e identifica chimpanzés em áreas remotas.
“Eu me sinto nervosa com a Inteligência Artificial”, confessou.
“Mas, como qualquer ferramenta, tudo depende de como ela é usada”. Simples. E potente.
IA, nesse caso, não substitui, potencializa. Está a serviço da vida. Essa visão, aliás, ecoou em outras falas ao longo do SXSW London. De executivos de big techs a pesquisadores independentes, o consenso parece emergir: a tecnologia mais transformadora não é a que automatiza tudo, é a que amplia o que temos de mais humano.
Em meio a tantas narrativas de disrupção, a fala de Jane foi um lembrete: não se trata de desacelerar o futuro, mas de lembrar “por que” o estamos criando. E, mais importante, “para quem”.
Sua vida nos ensina que não é preciso ser gigante para causar impacto. Basta ter clareza de propósito e coragem de agir. Esperança, aquela palavra quase banida do vocabulário corporativo, talvez seja o código mais potente que já escrevemos.
Jane nos lembra disso não com discursos, mas com décadas de prática. Em tempos de métricas vazias e promessas genéricas, sua mensagem ecoa como um manifesto silencioso.
A transformação começa com presença.
A tecnologia precisa de propósito.
E esperança é uma escolha.
* Ana Paula Zamper é conselheira da Oficina Consultoria, tech expert e diretora do curso de Inteligência Artificial para C-Levels da Exame|Saint Paul. A executiva está em Londres acompanhando a SXSW London 2025.
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