“O hype está à frente da realidade.” A frase dita por Nakul Mandan no SXSW London 2025 resume com precisão o momento atual da inteligência artificial. A IA virou protagonista antes mesmo de entregar tudo o que promete. Mas essa assimetria não é apenas tecnológica. É comportamental. Vivemos a era da impaciência, e ela pressiona todos os níveis da organização.
Nakul Mandan é sócio da Audacious Ventures, investidor em empresas como Notion e Multiverse. Ao seu lado no palco estava Euan Blair, fundador e CEO da Multiverse, plataforma de formação técnica voltada à força de trabalho do futuro, que treina profissionais de empresas como Google, McKinsey, NHS e JPMorgan em IA aplicada. Ambos abordaram um tema crucial: o abismo entre a velocidade da inovação e a capacidade real das empresas de acompanhá-la.
Enquanto bilhões são investidos no desenvolvimento de aplicações e modelos, o gargalo está na adoção. Segundo Euan Blair, há um número crescente de empresas com acesso técnico à IA, mas sem fluência organizacional para implementá-la com profundidade. A maioria limita seu uso a tarefas periféricas, como pesquisa e geração de conteúdo, quando deveria estar redesenhando fluxos, papéis e entregas.
A IA não falha em prometer. Ela falha em ser compreendida. O desafio é estrutural. Blair citou o caso de empresas que compraram licenças de ferramentas como ChatGPT Enterprise, mas não conseguiram transformar o investimento em impacto. As razões são conhecidas. Barreiras culturais. Políticas internas. Silos técnicos. Lideranças avessas ao risco. Equipes sem preparo para delegar tarefas à máquina com responsabilidade e discernimento.
É exatamente aí que entra o paradoxo. A eletricidade levou quatro décadas para se disseminar. A internet, cerca de quinze anos. A IA deve levar três. E não vai esperar ninguém se organizar. Segundo o Gartner Hype Cycle, a IA Generativa já ultrapassou o pico das expectativas infladas e mergulhou no Vale da Desilusão. É o momento em que o discurso perde brilho e o mercado começa a cobrar entrega. É quando se separam os que usavam IA em painéis de slides dos que estão usando para reestruturar trabalho, produto e valor.
A Shopify entendeu o momento. Em memorando recente, o CEO foi direto ao ponto. IA não é mais um diferencial competitivo. É pré-requisito. E estagnação é fracasso em câmera lenta. Crescer na empresa, hoje, exige dominar IA, propor melhorias com ela, e tratá-la como parte da operação, não como uma camada de inovação simbólica. Prompt engineering é alfabetização digital. Aprendizado contínuo é entrega. Cultura digital não é um plano de transformação. É comportamento diário.
Para Nakul Mandan, a divisão que se desenha não será entre os que têm IA e os que não têm. Será entre os que sabem usá-la de forma decisiva e os que seguem esperando maturidade, estabilidade ou consenso. A IA exige execução antes de conforto. E a vantagem está nos que conseguem experimentar, ajustar e escalar antes que os concorrentes acordem.
Ser AI-first é menos sobre tecnologia e mais sobre tomada de decisão. Trata-se de reimaginar trabalho, produto e gestão com base em uma nova lógica operacional. As empresas que esperarem segurança regulatória, padrões definitivos ou garantias absolutas para agir perderão a janela. O momento é agora. E o preço da hesitação será cobrado em relevância, eficiência e valor de mercado.
A virada de 2025 não será provar que a IA funciona. Isso já está claro. Será demonstrar que sua cultura está preparada para ela. Em ciclos anteriores, as empresas se transformaram por necessidade. Agora, serão julgadas pela velocidade com que agem quando o futuro já está em andamento. E neste ciclo, quem espera demais nem entra no jogo.
* Ana Paula Zamper é conselheira da Oficina Consultoria, tech expert e diretora do curso de Inteligência Artificial para C-Levels da Exame|Saint Paul.
* Patricia Marins é fundadora da Oficina Consultoria, especializada em alto impacto em reputação e influência. Autora do livro “Muito além do media training – o porta-voz na era da hiperconexão”.
Em um mundo acelerado, há urgência em adotar e se adaptar à IA. Euan Blair, CEO da Multiverse, e Nakul Mandan, sócio da Audacious Ventures, explicam por que a IA é um imperativo de crescimento.
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