Quem é empreendedor sabe que gerir uma startup é sinônimo de enfrentar desafios constantes. Mas e se for possível contar com um executivo mais experiente para ajudar a empresa a crescer? Essa é a ideia da Chiefs.Group ao criar o Chief as a Service, um serviço no qual um C-Level do mercado fica disponível por 4h a 6h semanais para apoiar os fundadores de uma startup por cerca de 6 meses. Como pagamento, os executivos podem receber um valor em dinheiro ou uma participação societária na empresa — nesse último caso, o formato ganha o nome de Chief as a Partner. O qualifying para o programa está aberto até o próximo sábado (20/11).
O objetivo é ajudar as startups a solucionarem suas dores com o apoio de executivos de alto nível sem comprometer o orçamento com o pagamento de salários altos e também permitir que os C-levels tenham um maior contato com o ecossistema de inovação. Criada em 2020 após o começo da pandemia, a Chiefs.Group atendeu sua primeira empresa em novembro do ano passado. Atualmente, a companhia atende 13 startups e possui mais de 280 executivos cadastrados.
O programa parte da compreensão de que as startups têm dores diferentes de acordo com cada estágio de amadurecimento. Então, é feito um match entre o que a empresa precisa resolver e o executivo mais bem habilitado para solucionar o problema. Antes de participar do Chief as a Service, a empresa de tecnologia deve ser habilitada. Parte da importância desse passo é o fato dos C-levels e a própria Chiefs.Group poderem ser pagos com uma fatia da companhia. Em alguns casos, mais de um executivo pode ser designado para uma startup.
“Existe uma etapa de diagnóstico, em que discutimos com a startup a dor que deve ser atacada pelo executivo. É bem normal que a percepção da startup seja diferente do que a gente conclui depois do nosso trabalho em conjunto. Depois de acordar com os fundadores qual é o perfil comportamental e técnico necessário para o executivo atuar na empresa, procuramos uma pessoa na nossa rede”, explica Cristiane Mendes, CEO e fundadora da Chiefs.Group.
No caso da Um Bom App, que vende o excedente de alimentos de estabelecimentos comerciais com descontos de até 80%, o escolhido foi Felipe Feldens, Estrategista Corporativo da Renner S.A e com passagens pela 99, Sky e Hortifrutti. A parceria deu resultado e a startup passou a registrar um crescimento mensal de 50%. Ao lado do executivo, a empresa tirou do papel novos serviços para o aplicativo, como entregas e vitrine virtual.
“O empreendedor precisa de pessoas com maior experiência e que já passaram por processos que a gente está passando ainda. Com o executivo, a empresa vai para um outro patamar de refinamento das decisões. A gente chega com um problema bruto para Felipe e ele refina, indica as direções certas. Às vezes, o Chief traz uma informação pequena, mas que faz toda a diferença para a empresa”, relata o CEO e fundador do Um Bom App, Pedro Siniscalchi.
Além de ser um guia, o executivo ainda abre portas para oportunidades de investimento, aceleração e expansão da startup. O Um Bom App passou a atender um grande varejista do setor alimentício graças aos contatos de Feldens. Ainda existe a possibilidade dos executivos se tornarem investidores na empresa.
“No desenho da Chiefs.Group, a gente avança por um cenário em que os executivos também poderão investir dinheiro nas startups, não só dedicação. Isso deve acontecer no momento em que eles passarem a confiar que essas startups foram validadas por esse processo. Não há no mercado uma forma melhor de entender se uma startup realmente tem potencial de crescimento do que interagindo com a empresa”, pontua Mendes.
A Chiefs.Group acredita que o programa é melhor aproveitado por startups em um momento de rodadas seed ou pre-seed porque é nessa etapa que as empresas ganham um pacote básico de conhecimento importante para o desenvolvimento. Então, é nesse momento que algumas dúvidas devem ser sanadas. Se a ideia der certo, outras dores devem aparecer e os executivos podem ser convocados novamente para apoiar os fundadores.
“Contar com as pessoas certas no momento certo faz o sucesso da empresa. Se a gente coloca pessoas muito caras, com muita experiência ou com um background de empresas muito grandes no momento da criação da startup, elas basicamente matam a startup. Não porque desejam, mas porque a visão deles do negócio é muito ‘pesadona’”, explica a CEO da Chiefs.Group. “A gente entende que a startup já tem que estar rodando para aproveitar a senioridade do executivo. Também é preciso ter um time vencedor”.
O projeto também é positivo para os executivos, já que o contato com o ecossistema de inovação é uma forma de oxigenar as grandes empresas. “O que eu ofereço é a minha experiência mais variada de ter feito parte tanto de grandes empresas e ter tido startup. Já eles me dão a oportunidade de estar próximo de fundadores e empreendedores muito focados no negócio, que têm compromisso não só com as próprias carreiras ou com a parte financeira, mas também com a sustentabilidade, a economia circular e querem genuinamente que o mundo seja melhor através do aplicativo deles. Estar perto de pessoas conectadas a um propósito maior é um grande aprendizado pra mim”, pondera Feldens.
Na visão de Mendes, a carreira também tem mudado e os executivos trabalham cada vez mais com projetos e investimentos profissionais simultâneos. Como um todo, as atividades somam o portfólio de investimento e carreira do executivo. “Alguns desses investimentos vão ser de curto prazo, que são aqueles que pagam salário. Outros vão ser apostas mais ousadas e isso vai fazer com que a carreira do executivo seja mais interessante, pode trazer mais conhecimento. Com isso, ele vai ser mais valorizado no trabalho e terá um pouco mais de liberdade, o que a gente chama de liquidez profissional”, ressalta.