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Imagem: Canva
FINTECHS

Como o Open Finance pode melhorar a inclusão financeira em 2023?

A pergunta foi o ponto de partida para uma conversa entre pioneiros do setor financeiro no país durante o OBE Campfire, evento organizado pela Open Banking Excellence, Accenture e Consulado Britânico

Por Silvia Bassi 16/12/2022

A inclusão financeira é um dos Holly Grails do novo movimento financeiro global, e o Open Banking começa a desempenhar, globalmente, um papel importante nessa história. O Brasil é hoje líder global no Open Finance, e um dos três únicos países do mundo que escreveu explicitamente metas de inclusão financeira na legislação que regula o movimento.

No Reino Unido, um estudo sobre desbancarizados aponta que as pessoas que usam contas bancárias com recursos básicos conseguiram economizar 0,8% da sua renda em tarifas por causa do Open Banking. Para pessoas altamente endividadas e sobrecarregadas, essa economia poderia subir para 2,5%. Como tirar proveito integral dessas vantagens, em um mercado onde, em abril deste ano, a dívida das famílias atingiu quase 53% da renda familiar. O que precisa ser feito para ampliar essa prática? E o que o Brasil pode aprender com outros mercados líderes do setor?

No início de dezembro, o Open Banking Excellence (OBE), centro global de comunidade e conhecimento sobre Open Finance, promoveu um encontro online com pioneiros do setor financeiro do Brasil para discutir novas perspectivas para o desafio da inclusão financeira no país. A conversa foi mediada por Helen Child, fundadora do OBE, Julia Koch, Business Development Manager do Consulado Britânico no Brasil, e Ricardo Pandur, Business Strategy Senior Manager da Accenture.

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A The Shift teve acesso à transcrição da conversa, e destacamos os melhores trechos abaixo. A íntegra do debate você assiste em vídeo no site do OBE

Open Finance como solução para a inclusão financeira

“De acordo com uma pesquisa do Instituto Locomotiva, 34 milhões de brasileiros não têm uma conta bancária ou quase não a usam. No Reino Unido, pesquisas mostraram que, para essa mesma parcela da população, o Open Banking poderia proporcionar uma economia de 0,8% na sua renda total, reduzindo o custo de acesso ao sistema financeiro. Se essas 34 milhões de pessoas estivessem levando para casa o salário mínimo, seria uma economia total de pouco menos de R$ 4 bilhões. Portanto, quaisquer que sejam as estatísticas que você observe e qualquer que seja o ponto que esteja medindo, acho que todos podemos concordar que isso é algo que vale a pena fazer da maneira certa. Algo que todos nós podemos ter muito orgulho de mudar.” Helen Child, fundadora do Open Banking Excellence

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“Queria trazer aqui um dado do Global Findex, que também é promovido pelo Banco Mundial, que mostra que 76% da população adulta mundial têm acesso a uma conta bancária hoje. Isso são dados de 2021. E quando a gente fala de países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, essa média cai para 71%. Então, de 76% para 71%. É interessante a gente ter essa essa noção das diferentes formas com que a inclusão financeira se apresenta também a depender do contexto político, social e econômico de cada país.” Julia Koch, Business Development Manager do Consulado Britânico no Brasil

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“Quando a gente olha pra nossa sociedade e olha para essas estatísticas, se incomoda, sai da zona de conforto e usa do trilho regulatório do Open Finance para criar soluções e casos de uso aqui pra atingir e de fato mudar essas estatísticas para um cenário mais positivo para a nossa sociedade como um todo. Ao falar de aprendizados, eu os dividiria em três pilares. O primeiro é descomplicar, o segundo é organizar e o terceiro é desenvolver.

O mercado financeiro por si só já traz uma complexidade importante conceitual quando você pensa em educação financeira como um todo no nosso país. É um tema complexo e simplificar esse tema complexo em conceitos menores e mais simples que são mais atingíveis pra divergência social que a gente tem na distribuição do nosso país é o primeiro grande aprendizado. Quanto mais simples, quanto mais fácil de entender, maior a probabilidade da gente conseguir atingir o nosso interlocutor do outro lado, seja um cidadão no interior do país que não tem acesso à internet, seja alguém que vive num centro financeiro de um pólo brasileiro.

O segundo é organização. Quando a gente fala de inclusão financeira a gente tá falando em essência de organização de fato financeira para que esse cidadão se torne um cliente e se torne um cliente com uma vida financeira saudável, independente de onde ele esteja. E a gente falou bastante de inclusão, mas tem um pilar importante que entra dentro da organização aqui também que o Open Finance vem contribuindo, dado ao volume de dados que a gente passa a ter, que é a reinserção do cidadão dentro do ecossistema. Então a gente fala bastante de inclusão, mas aquele cliente que entrou em atraso, que teve alguma dificuldade financeira no tempo, ele encontra uma segunda dificuldade também, que é a reinserção no mercado. Então, quando eu falo de organizar, eu tô falando de incluir e de reinserir cidadãos dentro do ecossistema e o Open Finance contribui bastante para isso dado o volume de informações que a gente passa a ter.

O terceiro, que eu chamei de desenvolver, ele não está voltado necessariamente ao desenvolvimento de produto, tá? Estou falando de desenvolvimento social mesmo, de incentivo ao empreendedorismo, de incentivo à economia para que o desenvolvimento social seja também uma alavanca a impulsionar a inclusão financeira.” Ísis Galote Souza e Silva, Open Finance Group Product Manager do Itaú Unibanco


A importância da agenda regulatória

“Hoje, devido a uma agenda muito forte do Banco Central de inovação, de abertura, de desenvolvimento, um dos objetivos-chave do Banco Central é a inclusão financeira e a questão regulatória acabou sendo o propulsor de muitas dessas agendas. Então vejo benefícios de uma maneira geral pra sociedade, porque é um elemento de cidadania. Eu vejo benefícios pro cidadão, como o pessoal comentou sobre ter novos e melhores produtos, mais adequados à realidade do consumidor. E vejo possibilidades pros próprios agentes de mercado que hoje criam produtos a partir da inovação regulatória, a partir do Open Finance.” Aaron Morais, Payments Compliance Officer do Google


Oportunidades de negócio

“A gente tem uma visão bem clara aqui no BTG que os próximos 20 anos da indústria financeira vão ser bem diferentes dos últimos 20 anos. Nós vimos no Brasil se materializar uma concentração bancária importante. Isso obviamente gera ineficiências, custos mais altos e acaba gerando algumas barreiras pras pessoas entrarem no sistema financeiro. O Brasil é um país continental e naturalmente não são três, quatro bancos que vão acessar toda essa base potencial de usuários do sistema financeiro, né? Então a gente auxilia diversos players financeiros não só com capacidade técnica de ter uma infraestrutura moderna e escalável, mas com mindset correto para, de fato, suportar esse movimento.” Marcos Xavier, FX/FI/Credit/Derivatives Sales Trader no BTG Pactual

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“Eu vou citar um exemplo só pra vocês terem uma ideia do quanto esses dados podem mexer no ponteiro. 35% dos clientes que compartilharam dados com o BV tiveram algum aumento de renda. Isso é muita coisa, é muito promissor. Óbvio, ainda numa escala não muito grande, mas dá uma ideia do potencial que há para geração de valor pras duas pontos. Tanto para um cliente que precisa de crédito para realizar um sonho, fazer alguma conquista, quanto para o banco que vai poder também atender esse cliente. Então é algo que se mostra muito promissor e o BV vai investir muito nessa agenda. A gente realmente acredita que o Open Finance vai ajudar a aumentar o percentual de atendimento de crédito para a população brasileira como um todo.” Fabricio Violin, Open Finance and Innovation Executive Manager do Banco BV

O papel das fintechs na inclusão financeira

“Um diferencial das fintechs nesse papel da inclusão financeira é que normalmente elas têm um público nichado, ou pelo menos iniciam focando em um público mais específico. E conhecer o seu cliente, ser focado nele, faz toda a diferença para essas pessoas que precisam ser incluídas financeiramente. Uma coisa é um grande banco que trabalha com perfis totalmente diferentes e milhões de clientes. Hoje, temos algumas fintechs de nicho que conseguem entender e falar de uma forma que aquele público entenda e tenha coragem de investir, de pedir um crédito, de contratar um seguro. Acho que isso faz muita diferença e faz as fintechs já de cara saírem na frente nessa questão da contribuição na inclusão financeira.” Luana Soratto, Head de Produto e Casos de Uso de Open Finance no PicPay

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“A gente acredita muito nesse diferencial de quem de fato tem essa relação com o cliente, que sabe explorar ali, que tem o hábito do cliente. Então é por isso que a gente, além do cliente B2C BTG, a gente tem o business de Banking as a Service, pois acreditamos muito que as fintechs de maneira geral que são focadas em nichos específicos já fizeram um grande trabalho de inclusão. Algumas delas já iniciaram uma jornada de crédito, para de fato começar a monetizar esse cliente. A gente sabe que o mundo de pagamentos costuma ser muito mais custoso em termos de receita para esses players, então o crédito acaba sendo a primeira iniciativa para monetização. Mas a gente acredita muito que essa oferta “embedada”, dentro de um um contexto específico, abre espaço para eventuais modelos de monetização. Então a partir do momento que você tem a abertura do mercado, ofertas de serviços financeiros sem tarifas, contas sem tarifas, o que é importante aqui para a inclusão dos indivíduos no sistema, a gente acredita que uma oferta mais sofisticada do ponto de vista de um profundo entendimento do cliente, aí não só pelo fato de ser esse esse touchpoint aqui com o cliente, de ter essa relação já por conta do seu core business, mas também pela alavanca que o Open Finance traz em termos de obtenção de dados.” Marcos Xavier, FX/FI/Credit/Derivatives Sales Trader no BTG Pactual


Expectativas para 2023

“Eu gostaria que o Open Finance em 2023 crescesse em relação aos casos de uso, não só em inclusão financeira como um todo, mas principalmente que a gente chegasse como o maior mercado de Open Finance do mundo. Para mostrar o potencial que o Brasil tem em relação à inclusão financeira, em relação ao mercado financeiro, e a gente continuar sendo uma referência pra esse mercado.” Ricardo Pandur, Business Strategy Senior Manager da Accenture

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“Acho que a estrutura está montada, as regras estão estão colocadas e um terceiro passo que eu acho que é fundamental pra gente ter em 2023 é esse sentimento de que o Open Finance faz parte da vida das pessoas. Tivemos pesquisas perguntando pras pessoas o que significava Open Banking e os resultados foram bastante complicados, mostraram um um desconhecimento mesmo, então eu espero que em 2023 a gente veja o Open Finance na prática, a gente veja o Open Finance no dia a dia da das pessoas, assim como o Pix é hoje” Aaron Morais, Payments Compliance Officer do Google

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“Gostaria que a gente expandisse essa agenda para outros setores além do financeiro. A gente está experimentando o potencial dentro do mercado financeiro, tem muito potencial pra Open Data como um todo e indo além também do mercado financeiro, a gente vai falar de saúde, de telecom, então tem bastante coisa legal pra construir. Eu acredito muito nessa agenda e acho que quando a gente expande para outros setores o potencial é exponencial.” Ísis Galote Souza e Silva, Open Finance Group Product Manager do Itaú Unibanco

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“Acho que a manutenção desse ritmo de novas iniciativas e esse mindset de aumento de competição e de fato redução de custo pras empresas, pras pessoas, eu acho que é acho que é incrível o trabalho que foi feito nos últimos anos e a manutenção disso acho que é muito importante, acho que tem muito espaço ainda.” Marcos Xavier, FX/FI/Credit/Derivatives Sales Trader no BTG Pactual

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“Eu gostaria muito de ver os pagamentos recorrentes variáveis funcionando em 2023. É algo que puxa muitas ideias bacanas, muitos casos de uso que a gente poderia pôr de pé. Todo mundo aqui na sala está cheio de ideias pra usar isso quando ele tiver disponível e acho que vai ser mais um passo rumo aos integradores. Então, vai ser algo que vai simplificar a vida de muitos clientes.” Fabricio Violin, Open Finance and Innovation Executive Manager do Banco BV

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