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Da esquerda para a direita: Eben Hupton (Raspberry Pi); Kate Goodlad (OTAN); Lucy Guo (Passes); Chris Ballance (Oxford Ionics) e Tom Standage (The Economist)
SXSW LONDON 2025

Cinco vozes, um futuro: o que esperar de 2050?

Na SXSW London 2025, cinco especialistas jogam luz sobre o que nos espera. Da computação quântica à IA autônoma, da guerra em rede à cidade descentralizada, o recado foi direto: o futuro não está escrito, ele será disputado.

Por Ana Paula Zamper*, especial para The Shift 03/06/2025

Imagine acordar em 2050. Você não lembra a última vez que digitou uma senha. Seu carro autônomo já saiu com destino certo. Sua assistente de IA organiza sua agenda, negocia compromissos e redige relatórios no seu tom de voz. Ficção científica? Não. É apenas o ponto de chegada de uma transformação que já começou. Nos próximos 25 anos, a tecnologia deixará de ser apenas um novo capítulo da história, ela será o idioma pelo qual o mundo se comunica, se organiza e se reinventa. Mas atenção: tecnologia não atua sozinha. Seu impacto será moldado por forças como geopolítica, economia, cultura e demografia.

No painel The View from 2050, no SXSW London, cinco especialistas colocaram luz sobre o que nos espera. Mais do que prever tendências, eles escancararam dilemas, paradoxos e decisões inadiáveis. Da computação quântica à IA autônoma, da guerra em rede à cidade descentralizada, o recado foi direto: o futuro não está escrito, ele será disputado.

Tom Standage (editor da The Economist): O futuro não é tecnológico. É social.

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O editor da The Economist abriu o painel com uma provocação que tirou a tecnologia do pedestal: “Não acredito em determinismo tecnológico. O futuro será definido pela interação entre tecnologia e outras forças sociais: política, economia, demografia, clima.” Para ele, a tecnologia não é roteiro, é ferramenta. Pode empoderar ou excluir. Conectar ou polarizar. Tudo depende de quem segura o leme.

Chris Ballance (co-fundador e CEO, Oxford Ionics): Computação Quântica, o novo paradigma

Ballance foi categórico: a computação quântica está para o século XXI como a aviação esteve para o XX. Problemas que hoje levariam milhões de anos para serem resolvidos, poderão ser solucionados em minutos. As aplicações imediatas estão em novos materiais, medicamentos e simulações. Mas seu real impacto está na reinvenção da segurança digital e na soberania dos dados. “Não é evolução. É outro paradigma.” Ele também fez um alerta estratégico: “As pessoas querem adotar essa tecnologia, mas estamos desconectados de quem controla os orçamentos. Ouvimos: ‘Sim, precisamos fazer isso. Mas o orçamento já está comprometido pelos próximos dois anos.’ O timing da inovação não espera cinco anos para ser aprovado.”

Kate Goodlad (Chief of Staff to the Supervisory Board, NATO Innovation Fund): defesa é inovação acelerada

Para Goodlad, a linha entre segurança e inovação desapareceu. Como diretora do fundo de inovação da OTAN, ela investe em startups capazes de garantir soberania tecnológica. “Drones, IA e computação quântica já estão sendo usados no front, não são mais experimentos de laboratório.” Ela contesta o modelo clássico de defesa: “O erro é achar que precisamos apenas de grandes plataformas como porta-aviões. A guerra moderna é digital, descentralizada, acessível até a pequenas nações, desde que ágeis. O problema? Muitos que contratam defesa não entendem a tecnologia que compram. Isso precisa mudar.”

Lucy Guo (Founder s CEO of Passes): IA como copiloto e não piloto

Fundadora da Scale AI, Lucy trouxe o tema para o presente: a IA já automatiza tarefas, gera conteúdo, escreve código, sugere diagnósticos. O futuro? Agentes autônomos que tomam decisões, sem pedir permissão. “O papel humano será curadoria, empatia, julgamento ético. As profissões que combinam tudo isso não serão substituídas — serão amplificadas.” E soltou uma provocação geopolítica: “Nos EUA, tememos a IA. Na Ásia, ela é vista como motor de prosperidade.”

Eben Upton (Fundador da Raspberry Pi): computação invisível, cidades reinventadas

Upton enxerga um mundo onde a tecnologia desaparece porque está em tudo. Da roupa ao semáforo. Do asfalto ao fogão. A robótica avança para todos os lados, carros que dirigem sozinhos, enfermeiros digitais, chefs automatizados. “O que antes era fricção, vira fluidez. A pergunta será: o que faremos com o tempo que ganhamos?” Mas o impacto vai além do cotidiano: “Com veículos autônomos, morar longe dos centros urbanos será trivial. Seu carro pode gerar renda enquanto você dorme. Ou te permitir trabalhar no trajeto. Cidades serão redesenhadas, mais descentralizadas, mais conectadas, mais inteligentes.”

Entre Dados e Decisões, o futuro ainda é nosso. O que une essas cinco vozes? A certeza de que o amanhã não será obra dos algoritmos, mas das escolhas humanas. A tecnologia não é o destino. É o meio.


* Ana Paula Zamper é conselheira da Oficina Consultoria, tech expert e diretora do curso de Inteligência Artificial para C-Levels da Exame|Saint Paul. A executiva está em Londres acompanhando a SXSW London 2025.

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