As organizações têm grandes possibilidades e ganhos com a incorporação de Inteligência Artificial (IA), Aprendizado de Máquina (Machine Learning) e automação na segurança cibernética. Ainda que o ambiente de negócios seja mais complexo, com mudanças contínuas, as organizações mais preparadas economizaram mais de 150 dias, em média, na detecção e resposta a uma violação de dados. Mas além dos desafios esperados — integração, processos, treinamento, etc —, existe uma questão central: como tornar conceitos e sistemas mais acessíveis não apenas para as equipes de cibersegurança, mas para toda a organização?
A complexidade pode ser o maior inimigo da cibersegurança. À medida que mais ferramentas e tecnologias são adicionadas aos sistemas corporativos, o monitoramento e a detecção de incidentes podem se tornar mais desafiadores. Muitas empresas estão saturadas com diferentes ferramentas de segurança, o que dificulta a identificação de ameaças. Simplificar o ambiente tecnológico e consolidar ferramentas em plataformas unificadas melhora a visibilidade e a resposta a incidentes.
“Se a segurança cibernética cria fricção, se ela cria atrito, na verdade, está criando insegurança”, afirma Demetrio Carrión, Cybersecurity Leader para a EY América Latina. Segundo ele, aumentar camadas ou tornar configurações mais complexas, criando mais etapas, significa criar “um passo a mais” que pode levar à inserção de uma informação incorreta, por exemplo. “Você pode criar algo pensando em atender a um objetivo, mas, na prática, está causando um atrito e aumentando as chances de que as pessoas não saberão como utilizar a ferramenta. Então, é preciso ter responsabilidade e pensar se é possível simplificar”.
A complexidade excessiva nos sistemas de segurança cibernética representa um risco tão grande quanto as ameaças externas. Organizações que adicionam camadas e mais camadas de ferramentas de cibersegurança podem acabar criando um ambiente complicado de navegar e, consequentemente, dificultando a detecção de incidentes. Segundo o relatório “EY Global Cybersecurity Leadership Insights 2023“, a maioria das empresas enfrenta em média 44 incidentes cibernéticos significativos por ano, e a detecção e resposta a esses incidentes costumam ser lentas. Isso ocorre, em parte, devido à dificuldade de integrar e gerenciar diferentes sistemas de segurança.
A simplificação não significa redução de proteção, mas uma melhor organização dos recursos de cibersegurança. Consolidar ferramentas em uma única plataforma facilita a integração e permite que as equipes de segurança tenham maior visibilidade e controle sobre o ambiente. Um ambiente mais simples ajuda a detectar ameaças com mais rapidez, tornando a resposta mais eficiente.
As organizações que adotam as melhores práticas e possuem funções cibernéticas altamente eficazes também seguem a cartilha da simplicidade. Definidas como “Secure Creators”, essas organizações adotam a simplificação não para cortar custos, mas sim para reduzir os riscos. Essas empresas têm menos incidentes cibernéticos e uma capacidade de resposta muito mais ágil, aproximadamente metade do tempo das demais empresas.
De acordo com Richard Watson, da EY, a racionalização e a consolidação de sistemas são fundamentais para reduzir a complexidade e aumentar a efetividade da cibersegurança. Ao invés de empilhar diversas ferramentas de diferentes fornecedores, as empresas mais eficazes em cibersegurança integram suas soluções em um único sistema, facilitando o monitoramento e a resposta a incidentes.
A automação desempenha um papel muito importante na simplificação da cibersegurança. Ao automatizar processos repetitivos, como a detecção de ameaças e a resposta a incidentes, as equipes de segurança cibernética podem focar em estratégias mais complexas e deixar as tarefas operacionais para as máquinas. A integração de automação não só melhora a eficiência, mas também reduz os erros humanos.
O estudo da EY revela que as organizações estão no início de uma nova onda de implementação tecnológica, com 84% delas adicionando duas ou mais novas tecnologias aos seus sistemas de segurança. Embora essas inovações tragam avanços significativos, a complexidade crescente se torna um obstáculo. A chave para resolver essa questão está na simplificação e racionalização da tecnologia, reforça a pesquisa.
Ferramentas como o SOAR (Security Orchestration, Automation, and Response) têm sido adotadas por empresas que buscam integrar e simplificar suas operações de segurança. O SOAR permite que diferentes ferramentas de cibersegurança sejam orquestradas de forma automática, proporcionando uma visão holística do ambiente de segurança e facilitando a resposta a incidentes.
Empresas que adotam automação e integração de sistemas conseguem reduzir significativamente o tempo de resposta a incidentes e aumentar a visibilidade dos eventos. Além disso, as ferramentas de automação, como o DevSecOps, também são uma solução para garantir que a cibersegurança esteja integrada desde o desenvolvimento até a operação, sem adicionar complexidade.
Além de orquestrar a segurança, a automação pode ser usada para lidar com processos repetitivos, como o gerenciamento de patches, atualizações de software e a verificação de conformidade. Ao automatizar essas tarefas, as equipes de segurança podem garantir que seus sistemas estejam sempre atualizados e protegidos sem precisar dedicar uma quantidade excessiva de tempo a esses processos.
A integração de ferramentas de Inteligência Artificial e recursos de Aprendizado de Máquina (ML) contribui para a simplificação de sistemas de cibersegurança. Essas tecnologias podem analisar grandes volumes de dados em tempo real, detectar padrões anômalos e alertar automaticamente as equipes de segurança.
As organizações que implementam IA e ML conseguem detectar ameaças com muito mais rapidez e precisão. Essas tecnologias conseguem aprender continuamente e se adaptar às novas ameaças, tornando sua aplicação fundamental para a segurança em ambientes dinâmicos, como a nuvem e IoT (Internet das Coisas). Segundo o estudo da EY, empresas que adotaram IA e ML em seus sistemas de cibersegurança relataram uma maior adaptabilidade e resiliência frente às ameaças.
A IA Generativa pode atuar como um copiloto para agilizar e simplificar processos, ao fazer resumos e responder a perguntas. Com isso, os profissionais conseguem “distinguir rapidamente entre uma ameaça real e um falso positivo”, segundo o estudo da EY. Isso também pode ajudar a melhorar a explicabilidade — um desafio fundamental para muitas ferramentas cibernéticas orientadas por IA.
A IA ajuda as equipes cibernéticas a serem mais eficazes com os mesmos ou menos recursos. As primeiras análises da EY apontam para ganhos de eficiência com o uso da IA na defesa cibernética que podem variar de 15% a 40%.
Os Chief Information Security Officers (CISOs) desempenham um papel central na implementação de estratégias de cibersegurança simplificadas. Para as novas tecnologias serem adotadas de forma eficaz, é fundamental que os CISOs desenvolvam uma visão holística da segurança, capaz de integrar todos os níveis da organização — dos C-levels até a equipe de segurança e a força de trabalho como um todo.
Os CISOs precisam comunicar claramente as necessidades da organização e os impactos da integração de novas tecnologias ao board e aos demais C-levels. Traduzir do “tequiniquês” os riscos técnicos e apresentar os ganhos que os negócios e as várias áreas terão com essa adoção é uma boa maneira de formar alianças. Dessa forma, os CISOs podem evitar a desconexão com outros C-levels no que diz respeito à percepção da eficácia das medidas de segurança.
Por fim, agir em nome da simplificação é reduzir os riscos em relação à força de trabalho da companhia. Os CISOs podem garantir que todos os colaboradores possam adotar práticas seguras no dia a dia. O treinamento contínuo e incremental, aliado a ferramentas de automação e prevenção, ajuda a integrar a cibersegurança no DNA da organização, tornando as práticas de segurança uma segunda natureza para os funcionários.
SOBRE ESTE CONTEÚDO: A série Ciberinteligência é um projeto conjunto da divisão de cibersegurança da EY em parceria com a The Shift. Com atuação em Assurance, Consulting, Strategy, Tax e Transactions, a EY existe para construir um mundo de negócios melhor, ajudando a criar valor no longo prazo para seus clientes, pessoas e sociedade e gerando confiança nos mercados de capitais. Tendo dados e tecnologia como viabilizadores, equipes diversas da EY em mais de 150 países contribuem para o crescimento, transformação e operação de seus clientes. Saiba mais sobre como geramos valor as empresas por meio da tecnologia.
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