Idris Elba tem recusado o papel de celebridade previsível. Sim, ele é ator, produtor, DJ e figura pública global. Mas também é empreendedor social, desenvolvedor de soluções com tecnologia e, como deixou claro no SXSW London 2025, um defensor ativo da criatividade como força econômica.
No palco, Elba falou menos sobre Hollywood e mais sobre inclusão, dislexia, jovens talentos, neurodiversidade, e o que ele chama de *capital criativo invisível*. Segundo o ator, o que move o mundo não é apenas o dinheiro, mas a capacidade de imaginar o que ainda não existe, especialmente entre os jovens, entre as minorias e em lugares onde “ninguém está olhando”.
Elba foi direto: “As pessoas dizem que é o dinheiro que move o mundo. Para mim, é a imaginação.” Essa afirmação, feita com a tranquilidade de quem conhece os dois lados do sistema, o da escassez e o da fama, é o fio condutor da sua atuação atual. Ele defende que a criatividade, quando reconhecida como ativo, é capaz de transformar realidades, economias e até políticas públicas.
E é justamente por isso que vem investindo em ferramentas que democratizam o acesso à indústria criativa, como o “Talking Scripts”, uma plataforma de leitura de roteiros para pessoas com dislexia, TDAH ou que simplesmente aprendem melhor ouvindo do que lendo. Criada com o diretor Stefan Schwartz, a ferramenta traz vozes diversas, regionalidades, acessibilidade e inteligência artificial como aliada, e já está sendo utilizada em produções como “Rings of Power” e “The Boys”. Mais do que inovação tecnológica, é um projeto que coloca inclusão e diversidade cognitiva no centro do processo criativo.
Mas talvez o projeto mais ambicioso de Elba esteja em solo africano. Akuna, nome que vem do seu próprio nome do meio e significa “poder”, é uma iniciativa tecno social que conecta três pilares: criatividade, infraestrutura e autonomia financeira.
Por meio da Akuna Wallet, criadores africanos conseguem transacionar com segurança e rapidez, sem depender de sistemas bancários limitantes ou atravessadores informais. Idealizada com o apoio do Banco Central de Gana e desenvolvida com tecnologia blockchain (sem criptomoedas), a carteira digital busca resolver um problema concreto: como um DJ ganês pode receber pelo seu trabalho em Londres sem esperar semanas?
Mais do que resolver fricções financeiras, Elba quer construir um ecossistema criativo africano com dados confiáveis, estrutura de pagamento, caminhos de distribuição e visibilidade global. sem que seja necessário migrar para isso. “Quando você desperta um gigante — nas pessoas, na cultura e em lugares onde ninguém está olhando — você não apenas muda vidas, você transforma o cenário. E tudo começa acreditando que você pode.”
Com menos de 3 mil salas de cinema em todo o continente africano, Elba também lançou uma provocação: por que não criar uma nova infraestrutura de produção e exibição, centrada em dispositivos móveis, IA generativa e plataformas de distribuição nativas?
Se o Ocidente demorou décadas para digitalizar seu sistema cultural, a África pode dar o salto diretamente para o modelo híbrido: digital, móvel e distribuído. E mais: ele quer provar, com dados, que cinema ainda tem valor — que o jovem africano quer assistir a narrativas locais, que o streaming não substitui o ritual coletivo da tela grande. Mas para isso, é preciso transformar o que é hoje um talento isolado em uma cadeia criativa estruturada. Um novo “livro da indústria” para o continente.
O que Idris Elba apresenta em sua fala não é só um projeto cultural, é uma visão sistêmica sobre o futuro do trabalho, da educação e da inclusão. E esse olhar está perfeitamente alinhado com o que o World Economic Forum vem apontando em seus relatórios sobre o futuro das competências: a criatividade, a curiosidade e o lifelong learning estão entre as habilidades com maior crescimento até 2030. Em outras palavras: no mundo exponencial, quem aprende mais rápido, cria mais valor.
Quando Elba incentiva jovens a tratarem sua imaginação como riqueza, está indo além do discurso inspirador. Ele está dizendo: se você consegue imaginar algo novo, você já tem um diferencial competitivo. Se você consegue aprender de forma não tradicional — ouvindo, remixando, colaborando — você já está no jogo.
Esse é o mesmo raciocínio que move iniciativas como “Talking Scripts”: reconhecer que nem todo talento cabe num modelo único de aprendizado. Que ler um roteiro não precisa ser um obstáculo para quem é neurodivergente. Que tecnologia deve ser usada para expandir o acesso, e não apenas automatizar o que já existe. Na prática, isso é lifelong learning com propósito: aprender, criar e evoluir fora dos trilhos tradicionais.
É também um chamado para líderes, educadores e gestores: será que nossas empresas e instituições estão preparadas para reconhecer talentos que aprendem, criam e entregam valor de formas não convencionais?
Idris Elba parece já ter a resposta — e está criando o ecossistema para isso acontecer. Em todas as frentes, o recado é o mesmo: criatividade é uma ferramenta de autonomia — especialmente quando combinada com tecnologia e coragem para ser diferente. Criatividade não é apenas expressão. É estrutura. E talvez essa seja uma das provocações mais urgentes para líderes, marcas e governos: estamos tratando a imaginação como estratégia — ou ainda como um luxo?
E essas ainda vão me mover por um tempo:
* Ana Paula Zamper é conselheira da Oficina Consultoria, tech expert e diretora do curso de Inteligência Artificial para C-Levels da Exame|Saint Paul.
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