iFood e Hering se juntaram à climate tech brasileira MOSS para neutralizar suas emissões de carbono. As compensações são feitas por meio do MCO2, um token que usa tecnologia blockchain e é lastreado em crédito de carbono. A solução auxilia as empresas a atingirem metas de preservação ambiental. A MOSS é uma das 802 startups ESG Enablers nacionais mapeadas pelo Inside ESG Tech Report #2, do Distrito em parceria com a KPMG. Segundo o relatório, esse grupo de empresas captou mais de US$ 1 bilhão em investimentos na última década.
No primeiro semestre de 2021, as startups ESG Enablers receberam investimentos na ordem de US$ 89,8 milhões por meio de 34 aportes. A quantia é apenas ⅓ dos US$ 284,7 milhões captados em todo 2020. O ano recorde de investimento no segmento é 2019, que se destaca com seus US$ 391,3 milhões investidos. A tendência é que a quantidade de startups voltadas para implementação de práticas ESG cresça no Brasil e no mundo, segundo análise da sócia-líder de ESG da KPMG, Nelmara Arbex. Daqui para a frente, o mercado também tende a se reacomodar.
“Estamos em um momento em que vemos pela primeira vez esse universo de soluções das startups. Daqui a pouco, vamos começar a perceber quais realmente têm futuro porque é preciso estar muito conectado com uma questão concreta para crescer. As startups que conseguirem ligar duas pontas que estavam desconectadas ou oferecer uma solução bem específica, devem começar a ter um crescimento mais rápido”, afirma Nelmara.
O tipo de funding recebido pelo ecossistema de startups com soluções ESG corrobora esse argumento. Existe uma predominância de rodadas Pre-seed, Seed e Series A. Em 2021, foram 12 investimentos Seed e apenas um Series C.
É preciso maior apoio por parte de grandes empresas, investidores e políticas governamentais para fomentar um crescimento mais acelerado desse mercado. O Brasil ainda está em um momento inicial do movimento das empresas de tecnologia ligadas às práticas ESG. A expectativa de Nelmara Arbex é que hubs para startups atuantes no segmento apareçam em várias regiões do país com o passar do tempo.
O Brasil tem um grande potencial para o setor, mas é preciso criar uma sinergia entre os players já atuantes no mercado. “Faltam escolas no país. Não necessariamente escolas de negócios e formação universitária, mas centros para criar gente que saiba falar de carbono, economia circular, diversidade, inclusão e discriminação. Precisamos ter mais gente preparada porque quando você está preparado e entende os problemas, começa a ter ideias para as soluções com uso tecnologia”, pontua a sócia-líder de ESG da KPMG.
Especificamente no mercado de carbono, o Brasil está atrás de outros países. Entretanto, o potencial nacional para certificação dos créditos é enorme, segundo a General Manager da MOSS, Fernanda Castilho. “É um mercado ainda muito incipiente no país. Acho que principalmente quando a gente compara com mercados regulados como o europeu, que por ser regulado tem muitas empresas e soluções que já existem há tempos. Por aqui, as oportunidades são gigantes e esse setor só tende a se desenvolver cada vez mais”.
Para a MOSS, o grande desafio é a falta de conhecimento sobre o mercado de carbono. “A gente passou boa parte do ano passado se apresentando e educando as pessoas porque é um assunto muito novo no país”, explica Fernanda.
As neutralizações de carbono da MOSS são feitas pelo Token MCO2, que foi lançado em 2020. O processo começa com a startup obtendo créditos de carbono de quatro projetos na Amazônia. Esses créditos são transformados em token com a tecnologia blockchain e, então, os ativos podem ser comprados na plataforma da climate tech ou em Crypto Exchanges nacionais e internacionais.
“O mercado de crédito carbono era bem analógico e a gente trouxe a tecnologia. Com os ativos, a gente também possibilitou o fracionamento e isso é interessante porque um crédito de carbono equivale a uma tonelada de CO2. Isso é muita coisa. Ao fracionar, a gente abriu a porta para diversas soluções para empresas e pessoas físicas compensassem as suas pegadas”, explica Fernanda Castilho.
Qualquer pessoa pode usar o Token MCO2 para compensar suas emissões. O site da empresa possui uma calculadora que analisa a rotina de cada indivíduo e aponta o valor que deve ser desembolsado para reduzir a pegada de carbono. Na visão da General Manager da MOSS, o interesse das pessoas físicas pela compra de créditos de carbono é crescente no Brasil, especialmente entre os mais jovens.
A sócia-líder de ESG da KPMG concorda que a preocupação com os critérios ESG é mais efervescente entre os Millennials e a Geração Z, mas ela percebe que também existe uma penetração dessa agenda entre pessoas mais velhas. Essa atenção com a governança, o meio ambiente e a sociedade interfere nas escolhas individuais de consumo e investimento.
“Não se pode dizer que é um movimento só de jovens. Acho que a gente está em um momento muito interessante. Os jovens estão dando um puxão único, mas não são só eles. Temos esse tipo de tendência em vários grupos sociais e diferentes faixas etárias”, explica Nelmara Arbex.
Apesar de oferecer uma solução para pessoas físicas, as empresas ainda são o grande foco da MOSS. No ano passado, a startup viu a demanda empresarial pelas suas soluções aumentar. Castilho credita o movimento à pandemia e a pressão social.
“É uma pressão que as empresas já vinham sofrendo e a pandemia só acelerou. As pessoas perceberam que essa questão das mudanças climáticas não dá mais para ser ignorada, soluções precisam ser criadas e as pessoas precisam de fato começar a se preocupar com isso”, pontua.
A crise climática também é ruim para os negócios. Um estudo divulgado pela resseguradora Swiss Re aponta que o mundo pode perder até 18% da produção econômica até 2050 se nenhuma ação for tomada para barrar mudanças climáticas. Já se a temperatura global ficar dentro dos 2ºC determinados pelo Acordo de Paris, o PIB global deve reduzir em apenas 4%. Sendo assim, é natural que os investidores também estejam preocupados com os critérios de sustentabilidade.
Quando se trata da construção de mudança climática, a tecnologia é uma grande aliada. Por isso, também é importante que as startups do setor recebam apoio. “No momento que estamos, para encontrar as soluções na velocidade que precisamos, temos que combinar o entendimento de que estamos intrinsecamente ligados ao meio ambiente com soluções tecnológicas”, afirma Arbex.
A própria criação da MOSS segue o mesmo princípio de que a tecnologia é fundamental para atingir as metas de redução das emissões. “Para reduzir as emissões, é preciso investir em novas tecnologias e processos, isso leva tempo e dinheiro. As empresas não conseguem fazer isso de uma hora pra outra. Em compensação, elas podem compensar as suas pegadas com crédito de carbono. Então, a gente viu aí uma oportunidade gigante de contribuir de fato para essa questão da redução das emissões”, explica Fernanda Castilho.
As startups ESG Enablers são bem divididas entre as categorias. O destaque vai para o setor ambiental, com 289 empresas ou 35,99% do total. Outras 272 companhias de tecnologia oferecem soluções sociais e 241 focam na governança corporativa.
Em termos de investimento, a categoria social sai na frente por ter abocanhado US$ 710,4 milhões nos últimos dez anos. As startups do setor de governança corporativa captaram US$ 156,6 milhões no período. Com apenas 14,68% dos aportes, o segmento ambiental recebeu apenas US$ 149,1 milhões entre 2011 e 2021.
Ao todo, 30 setores possuem startups com soluções em ESG. A maior parte delas está aglomerada no segmento de “água e energia”, que possui 144 empresas. Neste grupo, as soluções variam de gestão e otimização de energia ou água até a geração de energia limpa.
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