s
Demis Hassabis, CEO do Google DeepMind
SXSW LONDON 2025

O código da inteligência: uma conversa com Demis Hassabis

“Nos próximos cinco a dez anos, a IA vai turbinar quem tiver preparo técnico e souber combinar tecnologia com criatividade, julgamento e empatia. Esses profissionais alcançarão resultados quase sobre- humanos", diz o CEO do Google DeepMind

Por Ana Paula Zamper*, especial para The Shift 03/06/2025

Bem antes da DeepMind se tornar sinônimo de inteligência artificial de ponta, Demis Hassabis já tinha uma obsessão: os grandes mistérios da existência. “Acho que li ficção científica demais quando criança”, brinca o CEO do Google DeepMind. Mas seu fascínio era sério, o propósito da vida, a natureza da consciência, os limites da realidade. Seu caminho natural seria estudar física, sua matéria preferida na escola.

Mas ele foi além: percebeu que precisava de uma ferramenta, ou melhor, de um aliado tecnológico para responder essas questões. E aí entrou a inteligência artificial. “Desde o início, nossa missão era simples, pelo menos no papel: passo 1, resolver a inteligência; passo 2, usá-la para resolver o resto.” Parece pretensioso? Talvez. Mas o cérebro humano, nosso maior caso de sucesso em inteligência, prova que é possível. É por isso que Hassabis estudou neurociência: porque acredita que entender a mente é o primeiro passo para reproduzi-la.

O que falta para a revolução da IA?

Hoje, os sistemas de IA já impressionam. Mas ainda faltam peças-chave: raciocínio real, criatividade profunda, senso de contexto. Se conseguirmos construir isso, estaremos diante de uma transformação sem precedentes. Na utopia da IA, se conseguirmos desenvolver uma inteligência artificial geral, poderemos usá-la para resolver o que Hassabis chama de “problemas raiz” da ciência, desafios que, uma vez superados, destravam campos inteiros de descoberta e aplicações antes inimagináveis.

CADASTRE-SE GRÁTIS PARA ACESSAR 5 CONTEÚDOS MENSAIS

Já recebe a newsletter? Ative seu acesso

Ao cadastrar-se você declara que está de acordo
com nossos Termos de Uso e Privacidade.

Cadastrar

E, se tudo der certo, esse avanço pode nos levar a um cenário de abundância radical. Pense em soluções energéticas disruptivas: baterias otimizadas, novos materiais solares ou até a viabilização da fusão nuclear. Um novo ponto de partida para o florescimento máximo da humanidade.

Cooperação internacional: a regra de ouro

Mas nem só de avanços se constrói o futuro. Hassabis tocou em um dos maiores impasses da atualidade: a governança da IA. Em um mundo polarizado, como estabelecer regras globais para uma tecnologia que não respeita fronteiras? “Precisamos de uma regulação inteligente e adaptável, que evolua com a tecnologia e com os problemas que ela gerar. Cooperação global não é idealismo, é necessidade.” O CEO da DeepMind reconhece que falar de regulação em um cenário geopolítico fragmentado é difícil. Mas adiar esse debate é ainda mais perigoso. Estamos diante de uma tecnologia que pode amplificar tudo: conhecimento, produtividade, desigualdade, e os erros.

Cautela em movimento

Hassabis também fez um contraponto direto à filosofia do “move fast and break things”. Para ele, a IA é uma tecnologia fundamental demais para ser tratada com improviso. “É essencial tentar antecipar o máximo possível. Nem tudo pode ser previsto, claro, algumas coisas só entendemos quando estão no mundo real. Mas justamente por isso, precisamos ser o mais intencionais e cuidadosos possível.”

Superpoderes para quem souber usar

“Nos próximos cinco a dez anos, a IA vai turbinar quem tiver preparo técnico e souber combinar tecnologia com criatividade, julgamento e empatia. Esses profissionais alcançarão resultados quase sobre- humanos.” Na visão de Hassabis, as crianças de hoje crescerão nativas em IA, como a geração anterior cresceu nativa da internet. E isso muda tudo.

Ainda assim, ele aconselha: estude STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), compreenda os fundamentos e, acima de tudo, experimente. “Se eu fosse estudante hoje, continuaria em STEM. Mas também estaria hackeando, brincando com as ferramentas de IA descobrindo como usá-las de formas novas e úteis. Esse é o caminho.”

Conclusão: a inteligência (ainda) é humana

Hassabis não fala como quem teme o futuro. Fala como quem está ajudando a construí-lo.
Para ele, a inteligência artificial não é o fim da história humana, é seu novo capítulo. Mas esse capítulo não será escrito apenas com algoritmos. Será escrito com escolhas, éticas, políticas, sociais.
A pergunta que fica não é o que a IA pode fazer. É o que nós faremos com ela.


* Ana Paula Zamper é conselheira da Oficina Consultoria, tech expert e diretora do curso de Inteligência Artificial para C-Levels da Exame|Saint Paul. A executiva está em Londres acompanhando a SXSW London 2025.

A era da impaciência: IA, cultura e o fim das desculpas

SXSW London 2025

A era da impaciência: IA, cultura e o fim das desculpas

Em um mundo acelerado, há urgência em adotar e se adaptar à IA. Euan Blair, CEO da Multiverse, e Nakul Mandan, sócio da Audacious Ventures, explicam por que a IA é um imperativo de crescimento.

Por Ana Paula Zamper e Patrícia Marins*, especial para The Shift
O escândalo dos Correios e os riscos da confiança cega na tecnologia

SXSW London 2025

O escândalo dos Correios e os riscos da confiança cega na tecnologia

Bryan Glick, editor-chefe da ComputerWeekly britânica, usa o caso do escândalo Horizon IT, do Post Office do Reino Unido, como um alerta para os novos tempos da IA: máquinas erram

Por Patrícia Marins*, especial para The Shift
A visão de Idris Elba para um futuro criativo e inclusivo

SXSW London 2025

A visão de Idris Elba para um futuro criativo e inclusivo

De ator a empreendedor de impacto. No SXSW London 2025, Idris Elba apresentou suas ideias poderosas sobre tecnologia e inclusão, de digital wallets a plataformas móveis para cinema

Por Ana Paula Zamper*, especial para The Shift
Brasil e o desafio da credibilidade climática

SXSW London 2025

Brasil e o desafio da credibilidade climática

O embaixador Antônio Patriota defendeu que o Brasil precisa unir discurso e prática para conquistar legitimidade climática. A COP30 é a oportunidade de alinhar narrativa, ação e influência global

Por Patrícia Marins*, especial para The Shift
Lobos terríveis e os limites éticos da biotecnologia

SXSW London 2025

Lobos terríveis e os limites éticos da biotecnologia

A Colossal Biosciences trouxe de volta os direwolves, extintos há 12 mil anos, com IA, bioengenharia e storytelling. Mas a biotecnologia da desextinção levanta questões éticas, ambientais e culturais sobre os limites da ciência

Por Patrícia Marins*, especial para The Shift
Esperança como código: o manifesto silencioso de Jane Goodall

SXSW London 2025

Esperança como código: o manifesto silencioso de Jane Goodall

No SXSW London 2025, a Dra Jane Goodall emocionou ao falar sobre propósito, humanidade e esperança como forças transformadoras diante dos desafios da tecnologia.

Por Ana Paula Zamper*, especial para The Shift