Durante o SXSW London, Azeem Azhar, fundador da Exponential View, fez um alerta claro: não estamos apenas diante de uma nova tecnologia, estamos diante de uma nova curva de transformação. Em sua palestra “AI in 2030”, ele mostrou por que o desafio da inteligência artificial vai além dos algoritmos e entra no campo das decisões humanas, institucionais e estratégicas.
Mais do que antecipar o futuro, o chamado de Azeem é por uma mudança de mentalidade. A seguir, destaco cinco ideias centrais do que foi apresentado, sob o olhar de quem atua na fronteira entre inovação, liderança e transformação organizacional.
1. O futuro está na curva, não na linha
O desenvolvimento da IA avança em ritmo exponencial. Modelos dobram de performance e capacidade a cada poucos meses, enquanto nossas instituições, regulações e lideranças ainda seguem lógicas previsíveis e lineares. Essa defasagem cria o que Azeem chama de “gap exponencial”: um descompasso entre o potencial tecnológico e a capacidade de adaptação.
Em vez de buscar previsões estáticas, a resposta está em trajetórias adaptativas. Organizações que aprendem em tempo real, testam, erram e ajustam são as que estarão melhor preparadas para o que vem.
2. A revolução puxada pelo usuário: o efeito ChatGPT
Ao contrário de revoluções tecnológicas anteriores, que partiram das grandes empresas, o avanço atual da IA vem sendo impulsionado pelo comportamento do usuário. O uso massivo do ChatGPT revelou um novo padrão: o consumidor como protagonista da transformação digital. Até 2030, é provável que cada pessoa tenha seu próprio assistente de IA, operando localmente, de forma privada, quase como um “chefe de gabinete digital”. A curva de adoção já é a mais acelerada da história recente, com atualizações constantes que aumentam o valor percebido ao mesmo tempo que reduzem os custos operacionais. Essa combinação, valor crescente, custo decrescente e aplicação prática imediata, está mudando profundamente a forma como nos relacionamos com a tecnologia.
3. Infraestrutura em reconstrução: ciclos curtos, planejamento contínuo
Estamos entrando em uma fase de reconstrução da infraestrutura global. Três frentes estão em jogo: data centers, chips e energia. Países como Emirados Árabes e Arábia Saudita estão se posicionando como novos centros de potência computacional. A pressão por energia, longe de ser apenas um risco, pode acelerar a adoção de fontes limpas e estimular inovações em eficiência energética. A IA não será apenas uma consumidora voraz, mas também uma catalisadora de novos modelos de produção e distribuição.
4. O código importa menos do que as decisões sobre ele
IA, como a eletricidade no passado, é uma tecnologia de propósito geral. Por si só, ela não garante progresso. O impacto real depende de como empresas, governos e instituições decidem aplicá-la.
A inovação efetiva virá da capacidade de redesenhar processos, investir em talentos e alinhar incentivos. Entramos na era da inteligência aumentada, onde o diferencial será a colaboração eficaz entre humanos e máquinas, não a substituição de um pelo outro.
5. Nem utopia, nem distopia: o espaço real está no “meio maleável”
O futuro da IA não será um paraíso automatizado nem um apocalipse digital. Ele será construído no espaço entre esses extremos. o que Azhar chama de meio maleável. Esse é o terreno das decisões práticas, das regulações que estão por vir e da ética aplicada ao uso da tecnologia.
Será nesse espaço que se definirão os contornos da IA nas próximas décadas: com ganhos concretos em saúde, educação e produtividade, mas também com tensões em torno do emprego, da desigualdade e da propriedade intelectual.
Navegar a curva exige intenção. 2030 não trará uma ruptura visível do dia para a noite. A mudança será gradual, até que, de repente, tudo esteja diferente. A capacidade de adaptação contínua será o maior diferencial competitivo de empresas e lideranças.
O risco não está no que a IA será, mas no que deixarmos de fazer agora. Passividade, inércia e pensamento linear são os verdadeiros entraves. A tecnologia evolui — o que define o futuro é a intenção com que a aplicamos. E é essa intenção que precisa, urgentemente, se tornar exponencial.
* Ana Paula Zamper é conselheira da Oficina Consultoria, tech expert e diretora do curso de Inteligência Artificial para C-Levels da Exame|Saint Paul. A executiva está acompanhando a SXSW London 2025.
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