Priscilla Chan, da CZI: “Nos próximos 10 anos, veremos modelos digitais auxiliando diagnósticos e tratamentos. Em 20 anos, talvez possamos prevenir doenças antes que elas apareçam” (Crédito: CZI)

A possibilidade de prever, tratar e possivelmente erradicar doenças através da Inteligência Artificial (IA) está na mira do Chan Zuckerberg Initiative (CZI), o projeto filantrópico e tecnológico encabeçado por Priscilla Chan, mulher de Mark Zuckerberg. Em sua apresentação no SXSW 2025, Priscilla falou sobre as “células virtuais”, modelos digitais que simulam o comportamento celular humano. Segundo ela, essa tecnologia promete avanços médicos sem precedentes, reduzindo o tempo e os custos de desenvolvimento de novos tratamentos.

Priscilla Chan introduziu o conceito das células virtuais como uma das inovações mais promissoras para a medicina. “E se você mostrasse a um modelo de IA imagens 3D do coração humano em um nível atômico? E se você ensinasse a ele o código molecular em todas as estruturas dentro de cada um de vocês? O que você obteria é uma simulação poderosa de como a célula humana funciona”, afirmou Priscilla. A ideia é usar essa tecnologia para antecipar o impacto de novas terapias, tornando os testes laboratoriais mais eficientes.

Atualmente, o desenvolvimento de novos medicamentos leva anos e custa bilhões de dólares. Com as células virtuais, seria possível testar milhões de moléculas em um ambiente digital antes de levá-las para experimentos reais, disse Priscilla. “Hoje, testamos moléculas uma por uma. Com IA, podemos simular um milhão de possibilidades em dias, reduzindo custos e acelerando descobertas”.

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O papel da IA na Medicina

A Medicina Personalizada é uma das grandes promessas dos pesquisadores,agora acelerada pelo uso da IA. Com modelos de células virtuais, os cientistas poderiam simular a resposta de um paciente específico a determinados medicamentos antes mesmo de administrá-los. “Sabemos que cada organismo responde de maneira única aos tratamentos. Então, por que ainda tratamos todos como se fossem iguais?”, questionou Priscilla. 

Esse avanço seria especialmente valioso para doenças raras. “Pacientes com doenças raras são frequentemente ignorados porque o mercado não considera viável pesquisar para pequenos grupos. A IA muda essa equação, permitindo testes em ambientes digitais e possibilitando mais tratamentos personalizados”.

Como copresidente da CZI, Priscila Chan explicou o papel do sistema imunológico na medicina do futuro. Ela destacou que o melhor remédio para o corpo humano é o próprio sistema imunológico. “E se pudéssemos reprogramar nossas células para detectar e combater doenças antes mesmo de apresentarmos sintomas?”, provocou.

Segundo ela, tumores são difíceis de detectar porque se “escondem” do sistema imunológico. “Mas imagine uma célula projetada para monitorar seu corpo continuamente, detectando sinais de câncer em estágios iniciais e reportando isso para que possamos intervir a tempo”, sugeriu.

Apesar do otimismo, Priscilla Chan foi clara sobre os desafios. “A IA não é infalível e comete erros. Precisamos lembrar que modelos biológicos ainda precisam ser validados em laboratório”, alertou. A tradução da pesquisa de IA para aplicações clínicas também enfrenta barreiras regulatórias e éticas.

Ela também ressaltou a necessidade de grandes volumes de dados para treinar modelos precisos. “O progresso depende de dados de qualidade. Por isso, é essencial que cientistas, médicos e instituições trabalhem juntos e compartilhem informações”, enfatizou.

De acordo com as projeções da CZI, as células virtuais estarão plenamente funcionais nas próximas décadas. “Estamos no estágio inicial, mas nos próximos dez anos veremos modelos digitais auxiliando diagnósticos e tratamentos”, previu Priscilla Chan. “Em 20 anos, talvez possamos prevenir doenças antes que elas apareçam”.

Ela comparou esse momento histórico a outras revoluções na ciência. “O microscópio permitiu que víssemos microrganismos. O sequenciamento de DNA nos deu a planta da vida. Agora, as células virtuais podem ser nossa próxima grande ferramenta para entender e prevenir doenças”.

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