“Você não pode ligar os pontos olhando para frente; você só pode conectá-los olhando para trás. Então você tem que confiar que os pontos de alguma forma se conectarão no seu futuro. Você tem que confiar em algo – seu instinto, destino, vida, carma, seja lá o que for. Essa abordagem nunca me decepcionou, e fez toda a diferença na minha vida.” (Steve Jobs).
Liderar uma empresa para o futuro é um ato de fé bem informado, combinado com a certeza de que você só chega lá se começar a andar e lidar com os desafios do caminho. A jornada, e as decisões que você toma, contam muito mais que o fim. Quando criou a Apple em 1976, na garagem de casa, Steve Jobs não podia prever, na jornada para mudar o jeito como as pessoas lidavam com computadores, que criaria a NeXT e a Pixar no meio do caminho, nem que transformaria a indústria da música e da comunicação, com o iPod e o iPhone. O “drive” do founder fez a diferença.
Da mesma forma, o cientista da computação Sanjiva Weerawarana, figura importante na comunidade global de código aberto, não antevia todos os pontos que levariam a sua saída da IBM, para empreender e lançar em 2005 a startup WSO2, com os amigos Paul Fremantle e Davanum Srinivas, até colocar a cidade de Colombo, na pequena ilha do Sri Lanka, no mapa global da excelência de TI, e fechar um negócio milionário, com a venda da companhia, por US$ 600 milhões, para a empresa sueca de private equity EQT.
Hoje, a WSO2 tem mais de 900 funcionários. Ela oferece um conjunto de tecnologias de desenvolvimento de aplicativos e gerenciamento de identidade e acesso (IAM), disponíveis como código aberto ou SaaS, para criar experiências digitais de forma rápida, fácil e segura. Sua sede fica em Santa Clara, Califórnia, mas 80% da companhia, incluindo Weerawarana e a equipe de desenvolvimento de produtos, permanecem em Colombo. Além do Sri Lanka e dos EUA, a empresa também tem escritórios no Reino Unido, Brasil, Alemanha, Austrália, Emirados Árabes Unidos, Índia e Malásia, atendendo a mais de 800 clientes diretos, além de cerca de 5.000 clientes OEM e 25.000 clientes de código aberto. A oferta de assinatura SaaS é sua principal fonte de receita.
O acordo, anunciado em maio, foi concretizado no dia 13 de agosto. Em maio, na abertura da WSO2Con 2024, Weerawarana celebrou a receita anual de US$ 100 milhões, atingida em 2023, e citou a frase de Jobs ao anunciar a decisão da venda e o início da sua “segunda vida” de CEO. O acordo prevê a continuação da WSO2, como negócio independente, e sua permanência no cargo de CEO. Boa notícia para os investidores (Redstart Labs, Goldman Sachs, Pacific Systems Control Technology, Toba Capital, Quest Software e Intel Capital, entre outros) que aportaram, nesse período de 18 anos, um total de US$ 133,5 milhões em seis rodadas de financiamento, e para todos os funcionários que detinham ações da companhia, já que 30% do valor será distribuído entre eles.
“Na história do setor de TI no Sri Lanka, o total de saídas do mercado foi inferior a US$ 100 milhões. Portanto, essa operação é muito maior. Acho que ela ajudará as pessoas a perceberem que o setor de software, e o valor que ele cria com seus produtos, conquistam clientes e são uma oportunidade significativa de negócios. Quando se vem de um país pequeno, não se está acostumado a pensar “Por que não posso ser grande?”. Quando se está em um país grande, todos automaticamente pensam que deveriam estar no topo do mundo. Portanto, acho que isso ajudará as pessoas a ver que é possível, mas não é fácil. É um trabalho árduo e, sem disciplina, não é fácil”, disse Weerawarana, em entrevista à The Shift.
O CEO tem um plano ambicioso para os próximos cinco anos da “segunda vida” da WSO2. Uma das apostas, anunciada no evento, é o conceito de platformless, um jeito de facilitar a vida dos desenvolvedores de aplicações, com ferramentas que “tiram a plataforma do foco” para poderem concentrar os esforços em criar experiências digitais de excelência, adaptáveis e inovadoras, alavancando arquiteturas descentralizadas e colaborativas, capazes de integrar diversas tecnologias em infraestruturas de TI resilientes, flexíveis e prontas para o futuro.
“Você precisa simplificar a vida dos desenvolvedores. Em ciência da computação, aprendemos que é importante abstrair da plataforma para se concentrar na resolução dos problemas. Portanto, o que estamos tentando fazer como empresa é criar essas abstrações para que você possa lidar com o nível acima delas de forma mais simples. Se você é um banco, e precisa se preocupar com a segurança bancária quântica, faremos a nossa parte fornecendo ferramentas para criar software que vai tornar seu banco seguro, por exemplo. O foco será na experiência do usuário e nos negócios”, diz Weerawarana.
O CEO da WSO2 tem muitas vidas, conecta vários pontos na paralela, que convergem para um mesmo propósito: fazer do software uma ferramenta que melhora o mundo. Entre suas muitas iniciativas, ele é fundador e presidente da Lanka Data Foundation, uma ONG focada em arquivar todos os dados públicos no Sri Lanka, para derivar insights significativos e acessíveis e entregá-los aos cidadãos, empresas e governo. Ele também é fundador e presidente da Avinya Foundation, cuja visão é trazer dignidade e orgulho aos trabalhadores qualificados, dando aos estudantes de 16 a 17 anos a opção de seguir diretamente uma carreira focada na educação vocacional.
” Não me interesso por empresas de serviços. Elas não causam impacto no mundo. Mas se uma empresa de produtos for extinta, porque o produto é bem feito, é poderoso e seus recursos são únicos, você realmente perderá algo. Esse é o principal aspecto que precisa estar presente: se você não existir, que diferença fará no mundo? A Apple, por exemplo, tem um impacto em nossas vidas, e isso não tem a ver apenas com o produto. Queremos ser alguma coisa grande como a Apple.”
“É preciso ter propósito e paixão. Você se levanta de manhã e se pergunta: ‘Por que estamos aqui? Qual é o objetivo?’. Todos nós temos um tempo finito para sair. Se você realmente quer que as pessoas acreditem em algo e trabalhem em um nível diferente, precisa fazer com que as pessoas tenham alma e coração para trabalhar. Por que as pessoas trazem o coração e a alma? Porque há algo mais profundo do que isso. Isso vem do propósito e do desejo de fazer a diferença.
Quando você faz isso, está dizendo que vai ter o controle. No caso da ‘segunda vida’ da WSO2, temos um plano e vamos trabalhar nele. E, mais uma vez, olhando para os próximos cinco anos, vou poder olhar para trás e dizer quais foram os pontos que fizeram a diferença desta vez. Posso dizer, agora quais foram os movimentos que nos trouxeram até aqui, e quantas decisões erradas tomamos ao longo dos anos porque não sabíamos na época o que sabemos hoje.
Para mim, não se trata de dinheiro. Não se trata de clientes, não se trata de mais países, de algo assim. Eu me formei em 1988. Portanto, agora são 36 anos, muito tempo. Durante todo esse tempo, estive envolvido na criação de ferramentas para ajudar outras pessoas a criar. Isso é algo que me motivou e esse é o objetivo da empresa.”
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