Depois de anos de experimentação, pilotos e provas de conceito, 2026 marca uma virada decisiva para as organizações. A Inteligência Artificial (IA) deixa de ser um projeto paralelo e passa a expor, sem rodeios, a maturidade (ou a fragilidade) da infraestrutura, dos processos, da força de trabalho e da governança das empresas.
Olhando para alguns dos relatórios globais publicados pelas grandes consultorias, alguns pontos se cruzam:
- Aplicar IA sobre sistemas antigos não vai trazer mudanças ou ROI.
- Processos fragmentados e estruturas organizacionais rígidas não geram eficiência, apenas amplificam ineficiências.
- Em vez de acelerar decisões, a IA passa a automatizar gargalos. Em vez de criar vantagem competitiva, aumenta a complexidade.
É por isso que, em 2026, a agenda do CEO começa antes da tecnologia. Começa pela revisão estrutural do negócio.
1. Revisar a infraestrutura não é um tema de TI, é um tema de estratégia
O primeiro grande ponto de atenção para CEOs em 2026 é a infraestrutura – tecnológica, de dados e de processos. De acordo com o relatório “5 Trends for 2026”, do IBM Institute for Business Value (IBV), 90% dos executivos afirmam que perderão competitividade se suas organizações não conseguirem operar em tempo real.
Isso muda completamente o papel da infraestrutura corporativa. Ela deixa de ser um “suporte” e passa a ser um ativo estratégico, especialmente em um cenário no qual agentes de IA começam a atuar de forma autônoma, recomendando – e, em alguns casos, executando – decisões.
O problema é que grande parte das empresas ainda opera sobre:
- Arquiteturas legadas fragmentadas
- Dados distribuídos em silos funcionais
- Processos sequenciais desenhados para ciclos longos de decisão
Segundo a IBM, 84% dos executivos já afirmam que a IA Agêntica ajuda suas organizações a tomar decisões melhores e mais rápidas, mas esse ganho só acontece quando a infraestrutura permite que dados fluam para humanos e agentes no tempo certo. Para o CEO, a implicação é clara: não faz sentido escalar IA sem antes redesenhar processos e arquitetura. Caso contrário, a empresa apenas automatiza decisões lentas, desalinhadas ou baseadas em dados incompletos.
2. Incerteza vira vantagem apenas para quem opera com agilidade
A incerteza pode ser um ativo competitivo, desde que a organização saiba operar dentro dela. Os dados reforçam essa mudança de mentalidade:
- 74% dos executivos acreditam que a volatilidade econômica e geopolítica criará novas oportunidades de negócio em 2026.
- 95% afirmam que precisam tomar decisões cada vez mais rápidas.
- 96% dizem que as decisões mais críticas tomadas em 2025 acabaram sendo corretas, apesar do ambiente instável.
O ponto central é que a velocidade de decisão passa a ser tão estratégica quanto a decisão em si. E velocidade, nesse contexto, não vem apenas de líderes mais ágeis, mas de:
- Infraestruturas flexíveis
- Dados confiáveis e integrados
- Processos desenhados para aprendizado contínuo
- IA operando como copiloto ou agente de decisão
Para CEOs, isso exige abandonar a ideia de planejamento rígido e adotar estruturas que “dobram”, mas não quebram, como descreve o próprio relatório da IBM.
3. A força de trabalho de 2026 precisará de novas habilidades técnicas e humanas
Se a infraestrutura é o primeiro pilar, o segundo é a força de trabalho. E aqui, o contraste entre percepção executiva e realidade dos funcionários é revelador. Os trabalhadores, assim como os clientes, vão querer mais IA – não menos, como aponta levantamento da McKinsey. Em todos os grupos etários, pelo menos o dobro dos trabalhadores diz que abraçaria um uso maior de IA em 2026, em vez de resistir a ele.
Outros dados reforçam esse movimento:
- 81% dos funcionários acreditam que conseguirão acompanhar as mudanças tecnológicas no trabalho.
- 61% dizem que a IA torna o trabalho menos repetitivo e mais estratégico.
- 63% afirmam que trabalhariam em colaboração com um agente de IA.
- 48% dizem que se sentiriam confortáveis sendo gerenciados por um agente de IA.
Ao mesmo tempo, 56% dos executivos reconhecem que mais da metade da força de trabalho precisará ser requalificada até o fim de 2026. Para os CEOs, duas mensagens importantes para refletir:
- O gargalo não é resistência cultural, mas falta de preparo organizacional.
- Treinamento pontual não resolve: será necessário aprendizado contínuo.
4. Treinamento contínuo deixa de ser benefício e vira infraestrutura humana
Os dados mostram que os próprios funcionários enxergam o treinamento como ativo estratégico:
- 56% estariam dispostos a trocar de empresa para ter acesso a melhor capacitação em IA
- 42% aceitariam até uma redução salarial em troca desse aprendizado
Isso muda radicalmente a lógica tradicional de L&D. Em 2026, treinar pessoas não é apenas preparar para usar ferramentas, mas formar uma força de trabalho adaptativa, capaz de:
- Trabalhar lado a lado com agentes de IA
- Tomar decisões em ambientes ambíguos
- Resolver problemas não estruturados
- Exercer julgamento, empatia e criatividade — competências que a IA não substitui
Não por acaso, 82% dos executivos afirmam que precisam posicionar seus melhores talentos justamente onde a IA não é utilizada, para criar vantagem competitiva.
5. Humanos e agentes de IA trabalharão juntos — e isso exige novos modelos de gestão
Outro ponto crítico para CEOs é aceitar que a colaboração entre humanos e agentes de IA não é futura, ela já começou. Segundo a IBM:
- 1 em cada 4 empresas já tinha agentes de IA atuando de forma autônoma em 2025
- 7 em cada 10 esperam ter essa capacidade implementada até o fim de 2026
Isso altera profundamente:
- Estruturas hierárquicas
- Modelos de accountability
- Governança de decisões
- Papéis de liderança
Um relatório da PwC reforça essa leitura ao apontar que 9 em cada 10 executivos planejam aumentar os investimentos em IA impulsionados por agentes inteligentes. Para o CEO, a pergunta deixa de ser “onde usar IA?” e passa a ser:
- Quais decisões podem ser aceleradas por agentes?
- Quais decisões exigem julgamento humano?
- Como garantir alinhamento, segurança e responsabilidade nesse modelo híbrido?
6. Clientes vão demandar mais IA e mais transparência
O contexto de 2026 exige que CEOs considerem também o comportamento do mercado. A IBM mostra que 95% dos executivos acreditam que a confiança do consumidor em IA definirá o sucesso de novos produtos e serviços. Do lado do consumidor:
- 89% querem saber quando estão interagindo com IA
- Dois terços mudariam de marca se uma empresa escondesse o uso de IA
- Explicações claras sobre como os dados são usados são o principal fator de confiança
Ou seja: clientes não querem menos IA: querem IA Responsável, compreensível e útil.
7. O papel do CEO em 2026: integrar, não apenas investir
Ao reunir os achados da IBM e da PwC, o retrato que emerge é claro: 2026 será menos sobre adotar novas tecnologias e mais sobre integrar decisões, pessoas e sistemas. As prioridades que se impõem ao CEO incluem:
- Revisar infraestrutura e processos antes de escalar IA
- Tratar treinamento contínuo como ativo estratégico
- Preparar líderes para gerir equipes híbridas (humanos + agentes)
- Garantir que velocidade não comprometa governança
- Construir confiança com clientes e funcionários
Como sintetiza a PwC, criar valor em 2026 exigirá organizações ágeis, empreendedoras e decisivas, com uma ligação clara entre estratégia, tecnologia e resultado financeiro.