A busca por privacidade é um movimento natural da espécie humana.
Essa afirmação pode soar totalmente enviesada para quem, como eu, trabalha com conformidade de leis de proteção de dados. Eu atuo como Data Protection Officer na Unico, empresa de tecnologia que busca construir um mundo mais seguro e confiável ao validar a identidade real das pessoas.
A frase, contudo, não é minha. Eu a ouvi durante a palestra de Meredith Whittaker, presidente da Signal Foundation, mediada por Guy Kawasaki, Chief Evangelist do Canva.
Ao longo da conversa, Meredith fez uma série de questionamentos que evidenciaram o quanto o título deste artigo é uma verdade universal. Por exemplo, você costuma usar o banheiro de porta fechada, certo? Em um momento de crise, você procura seu melhor amigo para conversar em vez do seu chefe? E imagino que você não compartilhe todos os seus pensamentos ou ideias em voz alta.
Em resumo: todo mundo esconde algo de alguém em determinado contexto. Não se trata de ser uma pessoa boa ou má — tal visão dicotômica, aliás, é frequentemente explorada para justificar a vigilância em massa e a erosão da privacidade como se apenas aqueles que “têm algo a esconder” devessem se preocupar.
Essa narrativa simplista ignora um ponto fundamental: privacidade não é um luxo ou indício de culpa, mas uma necessidade inerente à segurança individual. Em um mundo onde a tecnologia está cada vez mais entrelaçada ao nosso cotidiano, a questão não é apenas quem está vendo, mas o que pode ser feito com essas informações — e quem realmente tem o poder de decidir sobre elas.
Precisamos entender que reter informações faz parte da dinâmica humana. Afinal, nós nos relacionamos com pessoas diversas, em níveis de intimidade diferentes, desempenhando papéis distintos. Além disso, nós também ocupamos espaços diferentes e é natural que, em cada um deles, possamos ter o direito de controlar o que compartilhamos, com quem e em que circunstâncias.
Minha reflexão não é baseada em um único conteúdo consumido aqui no SXSW. Na verdade, a programação do evento este ano está repleta de keynotes, sessões e estudos de caso que discutem justamente essa temática.
No painel “Hacker Insights: Overcoming Our Digital Identity Crisis”, por exemplo, Arjun Bhatnagar, CEO da Cloaked e ex-hacker, alertou que nossa identidade digital não é apenas um reflexo de quem somos online, mas a base sobre a qual a tecnologia influencia nosso comportamento, nossas escolhas e até nossa segurança. Se não tivermos controle sobre como nossas informações são usadas, corremos o risco de nos tornarmos alvos — seja por manipulação sutil ou por ameaças mais explícitas. Quando perguntado como devemos nos proteger, a resposta foi simples: não fornecer informações pessoais que não sejam absolutamente necessárias.
O debate sobre a garantia do direito à privacidade não pode mais ficar para depois. Mais do que isso, precisamos amadurecer tal discussão se quisermos diminuir os impactos aos direitos e garantias com a adoção massiva de novas tecnologias. Só assim seremos capazes de equilibrar inovação e proteção de dados, sem aceitar passivamente que o progresso tecnológico venha sempre acompanhado de concessões à nossa segurança e privacidade.
Por isso, gostaria de listar alguns questionamentos que podem ajudar a aprofundar o debate sobre esse assunto dentro da sua empresa:
A privacidade não pode ser um pensamento tardio ou um privilégio acessível apenas a quem entende de tecnologia. Vamos naturalizar essa conversa?
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