A diversidade é disruptiva, e gera riqueza. Para pessoas e para empresas. E pode ser uma arma estratégica de crescimento para uma startup que quer se tornar global, como explica a romena Alina Vandenberghe, co-fundadora da Chili Piper, uma startup B2B que acelera o ciclo de vendas das empresas por meio de uma plataforma SaaS que qualifica os leads gerados por inbound, automatiza a agenda de reuniões e acompanhamento e reduz o tempo de fechamento dos negócios.
Mestre em ciência da computação pela Universidade Politécnica de Bucareste, Alina mudou-se para os Estados Unidos em 2007 e participou do desenvolvimento de um aplicativo específico para o iPad, da Apple, que seria lançado por Steve Jobs em 2010. Em 2016 criou a Chili Piper em parceria com o marido, em Nova Iorque, com um objetivo bem claro: fazer o software corporativo ser tão encantador quando os softwares voltados para o mercado de consumo.
“Em geral, as pessoas que desenvolvem software corporativo não são as pessoas que você encontraria trabalhando em apps de consumo, com interfaces bonitas e ambientes criativos. O que me ocorreu, ao pensar na startup, é que se eu tornasse o ambiente de desenvolvimento e a estrutura diferentes eu conseguiria atrair esse mesmo tipo de talento para uma startup B2B”, conta.
A fórmula está funcionando. A Chili Piper já captou US$ 54 milhões em capital de risco para o projeto e fechou 2021 com receita superior a US$ 15 milhões. Hoje a companhia emprega 180 pessoas, espalhadas por 133 cidades em 27 países. A empresa pratica a equidade salarial e tem 50% do time de gestão formado por mulheres. “Na força de trabalho, percebi que quanto mais diferentes fossem as perspectivas em torno da mesa, melhor seria o resultado. Em qualquer produto que eu fiz, o resultado foi sempre mais rico”, diz Alina em entrevista à The Shift.
“A disrupção é às vezes sinônimo de inovação, na medida em que você está criando algo novo que potencialmente perturba o fluxo normal das coisas. Mas às vezes você pode inovar sem disruptar, certo? Você pode inventar algo novo que não impacta a realidade. A forma como olhamos a ruptura na Chili Piper leva em conta que ela tem muitas facetas e muitos componentes.
Há o produto, obviamente, que vendemos para outras empresas. Isso é uma parte. Porque sou co-fundadora, me preocupo com todas as métricas do negócio e me certifico de que temos bons processos internos para otimizar o crescimento e o produto. Temos a satisfação de gerar impacto imediato nas receitas e operações dos clientes. E eles vêem um retorno imediato muito grande do investimento, porque seu pipeline de vendas, que vem de seus websites, de seus esforços de captação, duplica e o custo é muito baixo. Essa é a razão pela qual estas empresas estão entusiasmadas com a Chili Piper e é a razão pela qual temos o crescimento que temos.
Mas, também porque sou uma mulher empreendedora, estou olhando para modelos que podem ser disruptivos na forma como construímos uma empresa de vendas. A velha ideia de que “nós te pagamos um salário, e você tem que fazer isso porque nós te pagamos” não funciona mais em 2022. Não creio que as pessoas façam coisas porque estão sendo pagas.
Elas têm que entender o porquê por trás de sua missão. E elas querem saber o que têm a ganhar pessoalmente como parte de seu crescimento. É por isso que a disrupção para mim também é interna, na forma como construímos a cultura, como contratamos, como promovemos e como falamos de coisas de que ninguém mais fala. Precisamos ser capazes de trazer à tona a realidade de ser empregado em uma era moderna, onde tantas oportunidades estão disponíveis para tantas pessoas do lado profissional, mas também em termos de seu desenvolvimento pessoal. As pessoas são bombardeadas com tantas coisas, poderiam estar em tantos lugares, poderiam estar crescendo em tantas direções…
Portanto, estou constantemente consciente desse papel diferenciado do trabalho atual na vida das pessoas. E me pergunto posso interferir nisso para garantir que a empresa que estamos construindo atenda às necessidades individuais nesta era.
A diversidade é importante para mim. Venho de uma cultura muito diferente da dos Estados Unidos, porque venho de uma Romênia comunista, e a Romênia é um país muito diferente – temos uma influência muito forte da Rússia, mas somos um país latino. Portanto, estamos muito mais próximos em personalidade e comportamento da Espanha, de Portugal ou do Brasil. Mas como ficamos sob influência russa, há muita influência eslava também.
Quando cheguei aos EUA, tudo era incrivelmente diferente, as pessoas eram incrivelmente diferentes. Elas estavam me contando o que tinham feito durante o dia. E me perguntavam como eu estava indo… Então foi um choque cultural e tanto para mim. E enquanto eu mesmo passava por essa transformação, apenas sendo exposta à diversidade, me tornei um ser humano melhor, especialmente em Nova York, onde a diversidade explodiu minha cabeça. É o lugar mais diversificado por metro quadrado que eu posso imaginar.
A diversidade fez de mim um ser humano melhor. Enquanto viajava, obtendo uma perspectiva diferente de como a cultura indiana funciona e como a cultura egípcia é tão diferente, percebi que essa exposição enriqueceria minha compreensão do mundo. E eu senti que era meio idiota que outras pessoas não quisessem se beneficiar da exposição a perspectivas diferentes, porque as coisas não são preto e branco. Elas são sempre nuances.
Na força de trabalho, percebi que quanto mais diferentes fossem as perspectivas em torno da mesa, melhor seria o resultado. Em qualquer produto que eu fiz, o resultado foi sempre mais rico.
Tive a oportunidade de começar a Chili Piper do zero. E entendi que não deveria haver fronteiras limitando como eu recrutaria pessoas, porque há muito talento em lugares onde as pessoas normalmente não procuram. Portanto, foi uma vantagem para mim ter estado em tantos lugares, poder empregar essas pessoas de lugares e países diferentes. Mas, também como uma startup, que não tinha o orçamento de uma empresa tradicional, isso funcionava muito bem. À medida que crescemos, percebi que ficava cada vez melhor quanto mais diversos ficávamos.
Se você pegar uma empresa que é principalmente branca, na qual os homens são a maior parte da força de trabalho, é muito difícil que, de repente, ela se torne diversa. Você não pode simplesmente contratar ignorando a diversidade e assumir que as coisas acontecem do nada. Tem que vir do topo e tem que vir de pessoas cada vez mais expostas a essa beleza da diversidade.
Há muita diferença na forma como homens e mulheres se aproximam de um problema. Há diferentes tipos de homens e diferentes tipos de mulheres, claro, mas há generalidades no modo de olhar as coisas que são muito interessantes. A maneira de uma mulher abordar as coisas no trabalho pode ser bem diferente de um homem. E, como resultado, elas também podem receber perguntas diferentes em termos de captação de recursos, criação da empresa e outras perguntas que os investidores fazem.
As empresas precisam olhar seriamente para a diversidade na hora de organizar o modo de trabalho híbrido. A realidade é que a maioria das mulheres adotaria esse modelo de trabalho via zoom mais do que os homens. E a razão disso é que muitas vezes elas assumem mais trabalho em casa. Normalmente, elas cuidam de todas as coisas que estão relacionadas com as crianças e, no geral, tenho visto que também estão assumindo muitas tarefas domésticas. Como resultado, é mais provável que elas fiquem menos tempo cara a cara fisicamente com seus gestores. Na hora de decidir uma promoção, há um grande risco de não levarem aquela mulher em conta. De novo, há diferentes tipos de gestores e empresas mas, em geral, se você olhar para os números em escala, é mais provável que as pessoas sejam tendenciosas e perguntem como você vai cuidar dos filhos e da empresa, há um viés nesse sentido.
Há outro viés, e esse é interessante, com o qual tenho me envolvido mais ultimamente, que é o fato das mulheres serem percebidas como mais emocionais do que os homens. Eu concordo que em geral há diferença na forma como homens e mulheres exibem suas emoções, mas isso acaba impactando as perguntas que elas podem estar recebendo sobre sua capacidade de gerir uma empresa, ou as ferramentas pelas quais estão sendo avaliadas.
Há trabalho a ser feito para estabelecer exemplos de como esses diferentes papéis podem coexistir. Você pode cuidar da família e ter um negócio, e a diferença emocional pode fazer com que você veja mais rápido coisas que um homem pode não perceber. Portanto, você pode estar equipada para operar melhores negócios dentro desses parâmetros.
Essas são coisas sobre as quais estou pensando mais na medida em que lido com mais empresas tradicionais fundadas por homens. E, a propósito, tenho uma foto em minha mesa com o retrato dos 20 empreendedores de tecnologia mais bem sucedidos do mercado. É para me lembrar, o tempo todo, que eu posso ser tão boa quanto eles. Pode ser que não fique entre os 20 maiores, mas é importante que as empreendedoras se lembrem que têm um caminho a ser construído a despeito dos vieses. Quanto mais nos ajudarmos nessa jornada de empoderamento e dermos exemplos para outras, mais chances teremos de criar mudanças, e eu estou ansiosa por ver o que vem por aí”.
“O impacto que tive ao trabalhar para Steve Jobs na interface do iPad foi um momento chave para mim. Esse tipo de experiência é raro. Não se tem muitas vezes a oportunidade de experimentar algo em vez de apenas ler sobre isso ou ou assistir um vídeo. Portanto, definitivamente impactou a minha forma de pensar sobre como desenvolver software corporativo de forma diferente, com um ângulo de disrupção que sempre aparecia no meu cérebro quando trabalhava em empresas com software tradicional.
Quando entramos no mercado de trabalho, a maioria de nós vai trabalhar para alguma organização e vai interagir com computadores e software corporativo por muitas horas. E ele deveria ser criado pelo mesmo tipo de pessoas que fazem aplicativos de consumo, que fazem Snapchat, que fazem Instagram.
Eu estava tentando descobrir por que o software corporativo é construído de uma maneira que não favorece a melhor experiência do usuário. Em geral, as pessoas que desenvolvem software corporativo não são as pessoas que você encontraria trabalhando em produtos de consumo, com interfaces bonitas e ambientes criativos. O que me ocorreu, ao pensar na startup, é que se eu tornasse o ambiente de desenvolvimento e a estrutura diferentes eu conseguiria atrair esse mesmo tipo de talento para uma startup B2B.
Ainda não sei se cheguei a um nível em que acho que nosso software seja incrivelmente envolvente e incrivelmente divertido de interagir, porque ainda há muitos conceitos que são complexos para lidar, mas meu objetivo é chegar em dois a três anos com um produto que gere alegria para as pessoas que interagem com ele e devolva alegria para quem o desenvolve.
A simplicidade é um dos fatores essenciais para desenvolver produtos, que eu aprendi no trabalho com Jobs. Outro fator é a habilidade do software de ser um capacitador, para que as pessoas façam seu melhor trabalho enquanto ele automatiza as coisas que são chatas ou que realmente poderiam ser feitas pela tecnologia.
Acho que os humanos desejam constantemente criar uma versão melhor de si mesmos, e conseguimos isso quando somos expostos a plataformas que nos ajudam a tomar melhores decisões, como usar dados ou automatizar as tarefas repetitivas. Esses são elementos que desempenham um papel fundamental na criação de um software que capacita pessoas e empresas
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