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Eason Cai, CEO da joint-venture TCL SEMP no Brasil Imagem: divulgação
ENTREVISTA

Telas grandes, casa inteligente e energia verde para inovar

Em entrevista, Eason Cai, CEO da TCL Semp, fala sobre a estratégia da empresa, uma joint venture com a gigante chinesa TCL Technology, para o mercado brasileiro. Um movimento que inclui TVs premium e eletrodomésticos controlados por voz e gestos.

Por Silvia Bassi 21/05/2025

Quando o assunto é entretenimento doméstico, o olhar dos consumidores anseia por maiores telas e mais tecnologia de imagem. Embora as TVs abaixo de 70 polegadas continuem representando 86% das vendas globais, agora são as TVs de maior porte, com tecnologias avançadas de imagem, que pesam no crescimento do setor, segundo dados do “Global TV Shipments Quarterly Tracker“, relatório trimestral da Counterpoint Research, publicado em março deste ano. A matemática é simples: “uma TV de 98 polegadas equivale, em receita, à venda de 15 unidades de 32 polegadas”, explica Eason Cai, CEO da TCL Semp, joint venture entre a brasileira Semp e a gigante chinesa TCL Technology.

O estudo da Counterpoint mostra que, em 2024, as remessas de modelos de TV premium, acima de 70 polegadas, incluindo QD-MiniLED, QD-LCD, NanoCell, LCD 8K, QD-OLED, WOLED e MicroLED, cresceram 38% em relação ao ano anterior. E a tendência deve seguir para 2025, já que esses modelos cresceram 51% no último trimestre do ano, segundo o relatório.

A “tempestade MiniLED” que agitou o mercado de TVs em 2024, fez a líder Samsung perder 12 pontos percentuais de participação na receita global, mantendo-se ainda em primeiro lugar, com 29% de market share, e guindou a chinesa TCL ao segundo lugar, com 20% de participação da receita global.

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Da fita cassete à casa conectada

Fundada em 1981 em Huizhou, Guangdong, a TCL começou como fabricante de fitas cassete. Em 2003, o CEO Li Dongsheng anunciou a iniciativa estratégica “Dragon and Tiger Plan“, um plano pelo qual a companhia mirava criar dois grandes negócios globais (os dragões) e três líderes no mercado doméstico (os tigres). A iniciativa fez a empresa pivotar, emergindo como uma das principais marcas globais de eletrônicos de consumo, com um portfólio que inclui celulares, TVs, eletrodomésticos e, mais recentemente, energia. A TCL aparece no livro “Unleashing Innovation: Ten Cases from China on Digital Strategy and Market Expansion como um dos estudos de caso de transformação estratégica nas últimas duas décadas, por meio da tecnologia.

No Brasil, a entrada da TCL deu-se em 2016 por meio de uma joint venture com o grupo Semp, fazendo surgir a TCL Semp, na qual a TCL tem participação majoritária (75%). A empresa, explica Eason Cai, que assumiu o posto de CEO em 2023, está investindo fortemente em inovação, inteligência artificial (IA) e soluções de energia renovável para consolidar sua posição no mercado brasileiro de eletrônicos e eletrodomésticos (é, por exemplo, a segunda maior em venda de TVs no país).

Em entrevista exclusiva à The Shift, Eason Cai detalhou as estratégias globais e locais da companhia, destacando o lançamento de TVs com tecnologia MiniLED, o desenvolvimento de um ecossistema inteligente para casas conectadas e a entrada no segmento de energia solar residencial.

Cai ressaltou que a TCL investe US$ 1,3 bilhão por ao em pesquisa e desenvolvimento, com três grandes focos: tecnologia de displays, energia verde e IA aplicada ao lar. No Brasil, a empresa aposta na oferta de produtos premium, como TVs de grandes dimensões e alta resolução, além de parcerias com plataformas de conteúdo e integração com assistentes virtuais como Google e Amazon.

O executivo também falou sobre os desafios de preço no mercado nacional, a importância do segmento gamer e os planos para trazer, gradualmente, o portfólio global para o país, incluindo soluções de automação residencial e robótica.

A seguir, os principais trechos da entrevista, organizada em perguntas e respostas.

A TCL tem presença global. Quais são as principais prioridades de inovação da empresa e como vocês adaptam essas inovações para mercados diferentes, como o Brasil??

“Basicamente, a TCL Group é uma empresa global de alta tecnologia. Investimos mais de US$ 1,3 bilhão por ano em pesquisa e desenvolvimento, é muito dinheiro. Temos três grandes rotas tecnológicas. A primeira é a tecnologia de display, nosso campo mais forte, onde investimos desde a fabricação do painel até o produto final: TVs, monitores, displays comerciais, celulares, tudo. A segunda rota é a energia renovável, ou green energy. Temos uma divisão inteira dedicada à energia solar, com compromisso de reduzir ano a ano as emissões de carbono e crescer a indústria de energia verde. E a terceira é a inteligência artificial, especialmente para o lar. Temos um laboratório de IA dedicado a desenvolver IA, big data, sensores e sistemas conectados, em parceria com Google e Amazon. Essas três frentes guiam nossa inovação globalmente e também direcionam os produtos que trazemos para mercados como o Brasil.”

Como essas inovações se traduzem em produtos para o consumidor brasileiro?

“No display, por exemplo, este ano estamos lançando a nova geração de TVs MiniLED. Essa tecnologia é uma das principais da TCL, com painéis desenvolvidos internamente, como o HV8, que tem baixíssimo reflexo e ângulo de visão de 178°. Isso significa que, mesmo vendo de lado, a imagem permanece nítida. Também temos o processador AIPQ, de qualidade de imagem com IA, já na segunda geração, que ajusta automaticamente a imagem para melhor experiência. Em IA para casa, aplicamos sensores e conectividade em aparelhos como ar-condicionado, que monitoram hábitos de consumo, temperatura e umidade, podendo ser controlados por voz, gestos ou pelo celular, integrados ao app TCL Home, Google Home ou Amazon. E na energia, estamos começando a trazer ao Brasil o sistema de gestão de energia solar residencial, que já é realidade na China e Europa. O consumidor pode instalar painéis solares, armazenar energia em baterias e até vender o excedente para a rede elétrica.”

O que é o conceito de “intelligent lifestyle ecosystem” que a TCL propõe?

“É a ideia de uma casa autossuficiente em energia e totalmente conectada, onde você pode controlar eletrodomésticos, iluminação e climatização pelo celular ou voz, além de gerar e gerenciar sua própria energia solar. Na China, e em alguns países da Europa, já temos casas totalmente conectadas e autossuficientes em energia. Instalamos o sistema completo: painéis solares, baterias, eletrodomésticos conectados. O usuário pode controlar tudo pelo celular, desde cortinas até iluminação, TV, ar-condicionado e robôs domésticos. Se a casa produz mais energia do que consome, pode vender o excedente para a concessionária. No Brasil, esse segmento residencial está apenas começando, mas vemos grande potencial e estamos trazendo essas soluções gradualmente.”

E quais as expectativas para o mercado brasileiro de energia solar residencial?

“O Brasil já tem um setor solar forte, mas ainda muito focado no B2B, como fazendas e indústrias. O país está entre os quatro ou cinco maiores em capacidade instalada de energia solar. Agora, queremos desenvolver o segmento residencial. É um mercado em estágio inicial, mas com grande potencial de expandir para o consumidor final, com soluções integradas para casas inteligentes e sustentáveis.”

Como a TCL vê a evolução do entretenimento doméstico e do consumo de conteúdo nas TVs?

“O conteúdo é fundamental. Temos o TCL Channel, instalado nas nossas TVs, com mais de 100 opções de esportes, notícias, entretenimento, além de parcerias com plataformas globais como Netflix, YouTube e, em breve, integração com IA como o Gemini, do Google. Oferecemos streaming gratuito de canais como CNN e CNBC, além de conteúdo local. Também investimos em experiências imersivas para games, sendo líderes globais em monitores gamer. No Brasil, patrocinamos eventos como a Brasil Game Show e vamos lançar novos monitores Mini LED gamer ainda este ano.”

A IA está cada vez mais presente nos produtos. O que esperar dessa integração nos próximos anos?

Acreditamos que, no futuro, todos os dispositivos estarão conectados via Wi-Fi e internet, formando um ecossistema inteligente. Já desenvolvemos soluções completas na China, onde é possível controlar toda a casa por aplicativos, incluindo cortinas, luzes, TV e até robôs domésticos. No Brasil, vamos trazer essas inovações gradualmente, à medida que o mercado amadurecer. Vejo um futuro em que a experiência do usuário será totalmente integrada, com IA aprendendo hábitos e otimizando o consumo de energia, conforto e segurança do lar.”

A TCL apresentou o robô AIME no início do ano, na CES. Quais os planos para robótica?

“Robôs são tecnologia de ponta e ainda estamos em fase de pesquisa e desenvolvimento. O conceito do AIME é ser um robô modular, companheiro para a casa, cuidando de crianças, lendo livros, lembrando de tarefas, mais próximo das novas gerações. Ainda não temos previsão de lançamento comercial, mas mostramos o protótipo na CES. É uma área que vai crescer muito, mas depende de maturidade tecnológica e de mercado.”

Como tecnologias como 5G e IoT impactam a estratégia da TCL?

“O 5G é fundamental para conectar todos os dispositivos e viabilizar o ecossistema de IA e IoT. Temos também negócios de smartphones e estamos preparados para integrar todas as soluções. Sem conectividade, nada disso funciona. Por isso, investimos em tecnologia própria de 5G e parcerias estratégicas.”

O portfólio global da TCL está todo disponível no Brasil?

“Trazemos os produtos gradualmente, conforme a maturidade do mercado. Em feiras e eventos, mostramos muitos produtos, mas a introdução é feita passo a passo. Nosso objetivo é ampliar cada vez mais a oferta, especialmente na linha premium, e adaptar os produtos às demandas locais.”

Como equilibrar tecnologia de ponta e preços competitivos no Brasil?

“Esse é um desafio grande. O mercado brasileiro é muito competitivo e os preços caíram nos últimos anos, especialmente em TVs. Nossa estratégia é investir em tecnologia e aumentar o tamanho dos aparelhos, como displays de 75, 85 e até 115 polegadas, para agregar valor e manter a receita. Por exemplo, uma TV de 98 polegadas equivale em receita à venda de 15 unidades de 32 polegadas. Assim, mantemos a sustentabilidade do negócio e atendemos à demanda por experiências mais imersivas. Também cooperamos com parceiros e varejistas para impulsionar as vendas de produtos premium.”

Quais os próximos passos da TCL Semp no Brasil?

“Queremos consolidar a marca como referência em eletrônicos e eletrodomésticos de alto padrão, trazendo cada vez mais inovação, integração e soluções sustentáveis para o consumidor brasileiro. Vamos investir em branding, como o patrocínio das Olimpíadas, e ampliar o portfólio premium, sempre atentos às tendências globais e às necessidades locais.”

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