The Shift

Futuro do trabalho: habilidades e empregos que estarão em alta

97 – 85 = 12. No plano do futuro do trabalho, a conta é a seguinte: a Inteligência Artificial e a Automação vão acabar com 85 milhões de emprego nos próximos cinco anos. Mas calma: no admirável mundo novo também serão criados 97 milhões de empregos, o que nos deixa com 12 milhões de vagas de saldo.

É claro que não estamos falando de quaisquer empregos. A palavra mágica é qualificação. No Future of Jobs 2020 Report, divulgado nesta quarta-feira (21/10), o Fórum Econômico Mundial aponta que a pandemia do coronavírus está acelerando os processos de mudança e adoção de novas tecnologias em várias frentes, como automação de processos – o que deve levar ao fechamento de milhões de empregos. Das grandes empresas ouvidas para esse estudo, mais de 40% planejam reduzir sua força de trabalho devido à integração de tecnologias. A estimativa contida no relatório é que até 2025, os empregos serão divididos igualmente entre humanos e máquinas.

O report cita que a “automação, in tandem com a recessão causada pela Covid-19, está criando um cenário de ‘dupla disrupção’ para os trabalhadores”. Em um primeiro momento, essa ruptura deve ampliar a desigualdade econômica, a menos que esses trabalhadores sejam treinados e capacitados em novas profissões.

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Assim como reports recentes que já apontavam a maior demanda por profissionais ligados a tecnologia, o relatório do WEF aponta que a demanda vai aumentar para empregos que estão na frente de Big Data e Inteligência Artificial, assim como novos empregos em engenharia (alô, Robótica), computação em nuvem e desenvolvimento de produto. Marketing, produção de conteúdo e vendas terão uma alta demanda. Os chamados negócios verdes também serão um setor a empregar mais gente qualificada.

É importante notar que o relatório cita também “que o futuro do trabalho já chegou para uma grande maioria da força de trabalho dos escritórios”. Dados mostram que 84% dos empregadores vão digitalizar seus processos de trabalho rapidamente, incluindo uma expansão significativa de trabalho remoto – com o potencial de mover 44% de seus trabalhadores para cumprir suas tarefas a partir de suas casas.

Habilidades em alta

Ter pensamento crítico e analítico e perfil de solucionador de problemas continuarão no topo da lista de habilidades mais desejadas em um candidato por parte das grandes companhias nos próximos cinco anos. Considerando a disrupção causada pela pandemia em nossas rotinas, as empresas estarão olhando também para tolerância a estresse, resiliência e flexibilidade.

Nos empregos em que saber lidar com pessoas de todos os backgrounds é um requisito básico, o relatório aponta uma alta procura, o que “indica a importância contínua da interação humana na nova economia”.

As companhias já estão investimento mais em treinamento de seus funcionários e a expectativa é que metade dos trabalhadores que vão permanecer em seus atuais empregos precisarão aprender novas habilidades para dar conta de seu emprego em um cenário mais automatizado.

Um estudo conduzido pela Coursera e citado no relatório aponta que entre abril e junho, o número de oportunidade para aprendizagem online cresceu cinco vezes – e quadruplicou para os trabalhadores que procuraram cursos e formação por conta própria.

Em entrevista à emissora CNBC, a diretora geral do WEF Saadia Zahidi afirmou que será necessário um nível significativo de requalificação e qualificação. “A janela de oportunidade que temos para garantir que os trabalhadores tenham os tipos certos de habilidades para o futuro ficou muito menor”, disse. “Precisaremos de muito mais esforço por parte das empresas, do governo e dos próprios trabalhadores para garantir que eles tenham o tipo de requalificação e requalificação de que precisam”.

Empregos redundantes

Em compensação, para os que trabalham como assistentes administrativos, guarda-livros e que cuidam de folha de pagamentos, o alerta é pensar em uma nova carreira já. “À medida que os números de desemprego aumentam, é de extrema urgência a necessidade de expandir a proteção social, incluindo apoio para requalificação para trabalhadores em risco navegando os caminhos… rumo aos ‘empregos do amanhã'”, indica o relatório do WEF.

A boa notícia é que 94% das companhias ouvidas no report esperam que seus funcionários sejam capazes de adquirir novas habilidades e se transferir para novas carreiras – contra 65% no relatório de 2018.

Uma análise feita pelo LinkedIn para o Fórum Econômico Mundial mostrou que os profissional que assumiram posições que estão surgindo na nova economia nos últimos cinco anos vieram de ocupações completamente diferentes, que em muitos casos nem compartilhavam as mesmas habilidades. Metade dos que fizeram a transição para profissões em áreas da Ciência da Computação e Inteligência Artificial vieram de setores sem qualquer ligação. Esse número sobe para 67% ao olhar para posições em engenharia, 72% para produção de conteúdo e 75% en vendas.

Desemprego assusta

A pandemia promoveu uma ruptura geral nas economias mundiais, com o fechamento temporário (e em muitos casos, final) de negócios. Nos países ricos, os governos tiveram de estender ajuda para os salários a fim de impedir uma espécie de tsunami de desemprego. Nos Estados Unidos, quase 900 mil trabalhadores deram entrada no pedido de assistência após perder o emprego. No Brasil, 8,9 milhões de trabalhadores ficaram sem emprego no segundo trimestre deste ano.

O aumento da desigualdade é consequência de alguns setores mais atingidos pela pandemia, como turismo, viagens e hospitalidade, que tendem a contratar trabalhadores mais jovens, com salários mais baixos. No texto de abertura, assinado pelo fundador do Fórum Klaus Schwab e por Saadia Zahidi, o relatório reitera que os trabalhadores cujos empregos não lhes permitia trabalhar de casa também sofreram com a desvantagem.

“Os esforços para apoiar aqueles afetados pela crise atual estão atrás da velocidade da disrupção”, diz o prefácio. “Nós nos encontramos em um momento de definição: as decisões e escolhas que fazemos hoje vão determinar o curso das vidas de gerações inteiras”.

A estimativa do Banco Mundial é que aproximadamente 115 milhões de pessoas serão colocadas em uma situação de extrema pobreza este ano.