The Shift

A geopolítica impacta a transformação digital da sua empresa

Transformação digital é um processo pelo qual as empresas estão passando nos últimos anos – com maior intensidade desde o início da pandemia – para repensar cultura, organização, modelo de negócio, produtos e serviços em uma economia digital. Este movimento do setor corporativo está associado a uma série de mudanças globais centradas na disputa tecnológica entre China e EUA.

Esta é uma das visões de futuro apontadas no e-book “A economia digital: como e por que move o mundo e as empresas, onde estamos e aonde podemos chegar”, organizado pela Fundação Dom Cabral (FDC). O material inaugura o estudo “As 100 questões mais relevantes sobre a economia que move as organizações e países”, que será dividido em sete partes, lançadas ao longo dos próximos meses.

O estudo conta com a parceria do Cgee (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos), Stefanini, TecBan e TOTVS. Conta ainda com apoio institucional da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial).

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A The Shift teve acesso exclusivo a parte do e-book e conversou com Carlos Arruda, Gerente Executivo do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC, e Heloisa Menezes, professora da FDC, sobre as tendências da economia digital.

Revolução tecnológica no centro da “nova guerra fria”

De maneira geral, o estudo descarta um pensamento linear e de crescimento contínuo no futuro. Do contrário, a análise do professor Paulo Vicente, da FDC, é de que o modelo dos Ciclos de Kondratieff tem mais capacidade de predizer os próximos anos do ponto de vista global.

O modelo dos Ciclos de Kondratieff define que o período atual é de crise interna do sistema, o que já vinha acontecendo mesmo antes da pandemia. Porém prediz também que justamente por conta da crise haverá uma reação com investimentos em tecnologia criando as bases para uma nova revolução tecnológica. No centro dessas transformações está a “nova guerra fria” entre China e EUA.

Isto está transformando o capitalismo, com sete eixos tecnológicos recebendo grande investimento na última década:

Entre os impactos que esses investimentos trazem na cadeia produtiva, Heloísa Menezes destaca a regionalização. “A economia de serviços estimulou cadeias de valor globais e o movimento, agora, é intensificar a regionalização da produção. A fabricação de um tênis, em um momento anterior, foi deslocada para a Ásia, por conta da mão de obra barata. Agora, na economia digital, a impressão 3D permitirá a volta da produção para países mais desenvolvidos”, exemplifica.

Ao mesmo tempo, a disputa entre EUA e China pode levar a uma fragmentação de padrões globais na economia digital. “Os dois países concentram 75% das patentes de blockchain, 50% dos gastos globais em IoT e mais de 75% do mercado de computação em nuvem. Nessa disputa entre gigantes, há o risco de existirem dois padrões diferentes de proteção de dados, de questões técnicas e até de jurisdição”, prevê a professora da FDC.

Geopolítica e os impactos nas empresas

A análise da FDC é de que milhões de empregos vão ser destruídos, e setores da economia irão desaparecer, mas ao mesmo tempo milhões de novos empregos serão criados, e novos setores da economia irão surgir. A regionalização da produção requer técnicos das novas tecnologias em todos os países. Neste contexto, investimentos em reskilling e educação continuada ganham relevância, também porque falamos de um mundo que está envelhecendo.

Em países emergentes, a entrada na economia digital pode significar pular degraus da evolução tecnológica, segundo Carlos Arruda, e criar oportunidades aos novos modelos de negócio. “Há a possibilidade do leapfrog nos países em desenvolvimento. Isto significa que economias emergentes passam a utilizar tecnologias digitais sem passar pela etapa do serviço físico. Por exemplo, desbancarizados que criam uma conta digital sem nunca ter tido uma conta em um banco tradicional”, afirma o professor.

Por outro lado, a revolução tecnológica e a disputa tecnológica a nível global criam um contexto de imprevisibilidade. Neste sentido, resiliência continua sendo a palavra de ordem para o setor corporativo.

“A necessidade nos próximos anos é a de criar organizações com médio risco e médio retorno, mais resistentes, robustas e resilientes. É a hora das ‘empresas-camelo’, não das empresas-unicórnio, foco dos últimos 30 anos. Estamos à beira de um deserto”, resume a FDC. “Precisamos de organizações que sejam capazes de aguentar e se adaptar às mudanças que estão ocorrendo, e que só irão se completar na década de 2030”.

As empresas-camelo são as que conseguirão resistir às turbulências extremas nos próximos 5 a 10 anos, em meio a choques geopolíticos, investimentos intensivos em tecnologias, e o florescimento de novas indústrias. São organizações que precisam atuar firmemente nos seguintes eixos para garantir a sua longevidade: caixa na visão de curto prazo, internacionalização, inovação gestão eficiente das cadeias de suprimentos, ação abrangente de sustentabilidade (fluxo de caixa, sustentabilidade ambiental e social), gestão de pessoas e gestão de marcas.