The Shift

Com Chatbots de IA as buscas na internet nunca mais serão as mesmas

Chatbots de IA serão o futuro das ferramentas de busca? Pelo que se viu nos últimos dois dias, provavelmente… A disputa entre a Microsoft e o Google nos fornece insights sobre tendências tecnológicas e forças competitivas que se infiltrarão em um dos setores mais tradicionais da era digital.

Chega dessa história de fazer uma pesquisa e receber links como resposta — modelo que consagrou o PageRank. Como vimos ontem, no evento da Microsoft sobre a incorporação da IA no Bing, o próximo passo da busca é fazer perguntas reais e obter respostas completas, elaboradas. Hoje foi a vez do Google apresentar seu modelo de linguagem como um companheiro para seu mecanismo de busca. Faz tempo que o Google vem testando internamente uma página de pesquisa que usa a tecnologia de chatbot de IA. Depois que um usuário digita uma consulta, o programa fornece respostas semelhantes às humanas.

O novo Bing, da Microsoft, faz parte do enorme investimento de US$ 10 bilhões da Microsoft na fabricante do ChatGPT, a OpenAI. O buscador permitirá que os usuários “alternem” entre uma interface de bate-papo e uma página de resultados de pesquisa tradicional. É possível fazer perguntas até mesmo sobre notícias recentes. De quebra, o navegador Edge também está ganhando ferramentas de IA que podem resumir páginas da Web e ajudar na redação de e-mails e postagens em mídias sociais. “Uma nova corrida está começando com uma tecnologia de plataforma completamente nova. Estou animado para que os usuários finalmente tenham uma escolha”, disse o presidente-executivo da empresa, Satya Nadella.

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Tentando se antecipar a esse anúncio da Microsoft, o Google se apressou em apresentar o seu próprio chatbot de IA, o Bard, na segunda-feira, guardando a revelação de detalhes sobre o seu impacto no universo de buscas para hoje. Por enquanto, sabe-se apenas que a empresa pretende usá-lo para “reimaginar como as pessoas pesquisam, exploram e interagem com informações, tornando mais natural e intuitivo do que nunca encontrar o que você precisa”. A ideia é garantir que as respostas do modelo atendam a um alto padrão de qualidade e segurança e sejam baseadas em informações reais. O Bard é alimentado pelo LaMDA, modelo revelado pelo Google em maio de 2021 (lembra da polêmica da IA senciente?).

“Em breve, você verá recursos com IA na busca, que destilam informações complexas e múltiplas perspectivas em formatos fáceis de digerir, para que você possa entender rapidamente o quadro geral e aprender mais com a Web, seja buscando perspectivas adicionais, como blogs de pessoas que tocam piano e guitarra, ou se aprofundando em um tópico relacionado, como passos para começar como iniciante”, escreveu o CEO Sundar Pichai.

Ou seja, além das capacidades já existentes de busca por conteúdo de texto, imagem e vídeo, os usuários em breve terão mais contexto e diversidade de conteúdo quando fizerem buscas no Google. E um dos segredos para isso atende pelo nome de NORA (No One Right Answer). Para perguntas que não têm uma resposta definitiva, as respostas deverão contemplar a diversidade de versões e pontos de vistas. A tecnologia apresenta opções ao usuário, que podem então ser selecionadas. O Google mostrou uma pesquisa para a pergunta “quais as melhores constelações para procurar enquanto se observa as estrelas” e as respostas geradas pela IA que listavam algumas opções para o usuário. Os usuários do Google poderão escolher qualquer uma das respostas no início, aprofundar-se nelas ou voltar ao início para ver outra resposta possível. A gigante só não disse quando o NORA estará disponível.

Enquanto os gigantes travam mais uma batalha épica, várias startups de pesquisa já incorporaram IA em seus serviços, dando o primeiro vislumbre de como a tecnologia por trás do ChatGPT pode transformar um dos maiores mercados online. “O Google se saiu bem porque, até agora, todos, inclusive nós, tentamos vencê-lo com um conjunto melhor de links”, disse Sridhar Ramaswamy, cofundador da startup de buscas Neeva, que já começou a inserir respostas textuais curtas em suas páginas de resultados de pesquisa.

Nem os chineses querem ficar para trás. O Baidu garante que terminará os testes do projeto ‘Ernie Bot’, no estilo ChatGPT, em março. O Ernie, acrônimo de “Enhanced Representation through Knowledge Integration”, é um grande modelo de linguagem lançado em 2019 que, os poucos, foi se tornando capaz de executar diferentes tarefas, incluindo compreensão de linguagem, geração de linguagem e geração de texto para imagem.

Tudo isso é extraordinariamente empolgante — a mudança mais importante na tecnologia de consumo desde o iPhone, dizem os analistas. Nós concordamos. Para os mecanismos de busca — e para o Google, em especial — o custo mais alto de geração de respostas em texto ameaça comprometer o que até agora tem sido um negócio de alta margem. As implicações econômicas mais amplas para a web ainda parecem profundas. Os próprios fundadores do Google já sabiam que a publicidade poderia ser o modelo de negócios errado para um mecanismo de busca…

A maioria das startups de busca espera evitar a dependência da publicidade, mesmo que seja apenas para se diferenciar do Google. Ao Financial Times, a Andi disse estar planejando usar um modelo de negócios “freemium” que envolve cobrar de alguns de seus usuários por um nível mais alto de serviço. “Nós não queremos ter anúncios. Acreditamos que os anúncios foram uma das coisas que corromperam a pesquisa do Google”, afirmou sua co-fundadora, Angela Hoover.

Para a Microsoft, que gastou bilhões de dólares nos primeiros dias do Bing tentando competir com o Google, margens de lucro mais baixas podem ser um custo aceitável pela chance de finalmente conquistar uma fatia significativa do mercado. Reduzir as margens de lucro para todos também pode servir a um propósito estratégico mais amplo se ajudar a Microsoft a enfraquecer o principal pilar dos negócios de sua rival.

Já para os editores, que dependem do tráfego da Web gerado pelos mecanismos de pesquisa, por exemplo, existe o risco de os usuários encontrarem respostas sem a necessidade de clicar nas páginas de seus sites. O tráfego de referência definitivamente cairá.

O Google será ultrapassado?

A Microsoft parece ter assumido a liderança ao fazer parceria com a OpenAI. Mas a execução desafiará a empresa nos próximos anos. Pelo visto na demonstração do lançamento, o novo Bing ainda comete erros primários. Herança do ChatGPT, que frequentemente “alucina” — isto é, inventa informações — por que é essencialmente um sistema de preenchimento automático de frases?

“Quando você está falando sobre IA, trata-se de alinhamento com as preferências humanas e normas sociais”, disse Nadella . “E você não quer fazer isso em um laboratório. Você tem que fazer isso lá fora no mundo. A inovação rápida virá. Na verdade, essa corrida começa hoje em termos do que você pode esperar. E vamos nos mover rapidamente.”

O problema é que, como a maioria das empresas, a Microsoft pode contar uma história interessante por seis meses a um ano. Depois disso, os investidores vão querer ver sinais de execução; de produtos confiáveis e entregues no prazo; e metas de receita atingidas. E as buscas textuais de IA ainda não são um produto acabado. O próprio Google sofreu o peso que tentava evitar, ao ver o Bard também cometer um erro ontem, durante sua presentação, que além do custo de imagem (afinal, percepção é o que está valendo nesse momento inicial da corrida), o levou a perder cerca de US$ 100 B I L H Õ E S em valor de mercado com a queda do preço das suas ações. Wall Street sendo Wall Street.

Quando um concorrente de IA entra no mercado, os investidores esperam que empresas como o Google sejam capazes de responder rapidamente. A maioria ficou surpresa com os erros do Google, mas o que realmente está acontecendo é mais complexo do que apenas implantar modelos.

Há quem argumente que o Google pode dominar o mundo da IA quando quiser! O que inclui continuar sendo predominante no novo mercado de buscas ou qualquer outro que o substituir.

De fato, com três modelos de linguagem de última geração, geradores de código e imagem e um monte de outros modelos de IA, o Google pode revolucionar a indústria a qualquer momento.

Com o lançamento do Sparrow, o Google estabeleceu o padrão para os modelos de IA. Com base no modelo Chinchilla, o Sparrow é ajustado para eficiência e precisão. Ele pode fornecer evidências para suas respostas e até mesmo fornecer links mediante solicitação. Pode não parecer muito, mas essas pequenas diferenças causam um grande impacto na experiência do usuário.

O Sparrow não é o modelo de IA mais avançado do Google. A DeepMind, uma subsidiária da Alphabet, está na vanguarda da pesquisa em IA há mais de uma década. Seu melhor modelo, o Lambda, é realmente bastante semelhante ao GPT-3.5, com a vantagem adicional de ser treinado para fornecer evidências para suas respostas.

Mas mesmo o Lambda também não é o modelo de IA mais avançado do Google. Esse posto seria do PaLM, um modelo de parâmetros de 540 bilhões treinado em mais de 6.000 chips TPU. Superou a taxa média de sucesso humano nas tarefas baseadas em inteligência mais desafiadoras.

E esta é apenas uma parte do arsenal de IA do Google. A empresa também anunciou recentemente um investimento na Anthropic, uma startup de IA que desenvolveu um chatbot que rivaliza com o ChatGPT. Conforme o The Times, o aporte teria sido de US $ 300 milhões, feito no final de 2022, mas não foi relatado na época. Nesse início de ano, reportagem da Bloomberg afirma que o Google desembolsou quase US$ 400 milhões. Mas as empresas não divulgaram o valor exato do investimento.

Segundo o Financial Times, o acordo dá ao Google uma participação de 10% na Anthropic, que agora pode ser avaliada em US$ 5 bilhões. E acesso ao assistente de IA de propósito geral, Claude, visto como um possível rival dos chatbots da OpenAI e do próprio Google, e atualmente em um beta fechado disponível por meio de uma integração do Slack.

O Google também tem o conhecimento e a experiência para tornar seus produtos de IA bem-sucedidos. Eles têm a maior agência de publicidade do mundo e podem rastrear usuários em toda a web, coletando dados e identificando as demandas dos usuários. Também tem uma ampla gama de produtos, principalmente gratuitos, facilitando a obtenção de dados. E se se sentir ameaçado, tem ainda os recursos para comprar a concorrência e liberar o Lambda. O que deixaria o ChatGPT para trás.

Então, por que o Google ainda não lançou produtos incríveis, como vem fazendo a OpenAI?

“A resposta é simples: o Google tem a maior marca do setor de informações e não pode se dar ao luxo de prejudicar sua reputação”, explica Nathan House, Leading Cyber Security Expert, CEO e fundador da StationX.

Na verdade, e ao menos em relação às buscas, o que o Google fez foi evitar mexer na sua vaca-leiteira, como costumamos dizer no Marketing. Agora, com as receitas de publicidade digital caindo no balanço, e os concorrentes partindo para cima, não restou à empresa outra alternativa a não ser se mexer. E rápido.

O surgimento de sistemas de IA capazes de gerar respostas textuais diretas a perguntas — mais notavelmente o ChatGPT chatbot criado pela OpenAI — abriu a primeira nova frente na batalha pelo domínio da pesquisa desde que o Google se defendeu de um desafio concentrado do Bing da Microsoft mais do que há uma década. Mas o Google já sabia que esse dia chegaria.

Em 2011, Joshu Benton escreveu um artigo no Nieman Lab sobre uma entrevista que o então presidente executivo do Google, Eric Schmidt , deu a Walt Mossberg e Kara Swisher, na conferência anual All Things Digital. Uma fala de Eric Schmidt se destacou, naquela época e agora, por ter uma importância descomunal para o mercado de buscas.

“Outra coisa que estamos fazendo que é mais estratégica é que estamos tentando passar de respostas baseadas em links para respostas baseadas em algoritmos, onde podemos realmente calcular a resposta certa. E agora temos tecnologia de inteligência artificial suficiente e escala suficiente e assim por diante que podemos, por exemplo, dar a você – literalmente computar a resposta certa”.

Desde então, a IA tem sido usada em muitos produtos do Google, sem que saibamos disso. O que muda com o ChatGPT? “Agora as pessoas estão prontas para algo que seja mais simples, aparentemente mais confiável e que não contenha toneladas de anúncios”, argumenta Greg Sterling, um analista que acompanha o mercado de buscas desde 1999.

Muda, mas não muito e nem tão rápido

O Google construiu um império “poluindo” seus resultados de busca com anúncios. Suas defesas pareciam impenetráveis, até que Microsoft e OpenAI revelaram um potencial ponto fraco: um concorrente capaz de dar respostas aos usuários em vez de links para sites que possam ter as respostas.

Um serviço de bate-papo puro é muito mais atraente para uma geração mais jovem que deseja uma experiência completamente diferente, explica Angela Hoover. “A Geração Z está recorrendo ao TikTok porque está ansiosa por algo novo”, disse ela. “Eles querem respostas factuais precisas que possam ser apresentadas a eles visualmente e de maneira conversacional.”

Curiosamente, mesmo naquela entrevista de 2011, Mossberg argumentou que o Bing já estava à frente do Google ao fornecer respostas diretas às consultas de pesquisa. Ainda assim, nunca chegou a ameaçar a supremacia do Google. E o mercado de buscas móveis tem muito a ver com isso.

Além disso, em entrevista recente à Connie Loizos, perguntado a respeito de todo movimento em torno dos chatbots de IA nas buscas, Sam Altman, cofundador e CEO da OpenAI, deu a real.

“Considero que os modelos de busca passarão por mudanças em algum ponto, mas não serão tão drásticas quanto as pessoas esperam”.

De fato, no momento, as respostas do Bard ficam no topo da página de resultados, enquanto a caixa de bate-papo do Bing ocupa o lado direito da página, portanto, os artigos com melhor classificação ainda estão visíveis. Mas, à medida que a corrida esquenta, a preocupação de certos setores — como SEOs e editores de mídia — aumenta. Até porque, não há dúvida de que o Google tentará acelerar a transição para a pesquisa baseada em IA, o que poderá afetar classificações, conteúdo e muito mais.

Quem ganhará essa disputa?

Certamente, a corrida para ganhar a maior parte do mercado de busca não será só sobre quem usará melhor a IA Generativa, primeiro, mas sobre quem conseguirá monetizar o novo modelo, definitivamente. E os desafios de negócios por trás da IA ​​são tão complexos quanto os desafios técnicos.

A diferença sobre como as respostas da IA ​​serão apresentadas ao usuário — uma página de alternância para a Microsoft, uma página integrada para o Google — provavelmente afetará a maneira como cada empresa pensa sobre a receita de anúncios baseados em busca.

Como observou o redator de tecnologia Alex Kantrowitz, não é óbvio como integrar anúncios em respostas de conversação.

Além disso, algumas estimativas sugerem que a pesquisa em linguagem natural é sete vezes mais cara do que uma pesquisa tradicional.

Portanto, o negócio, e não tanto a tecnologia, determinará os vencedores e perdedores.

Há uma grande diferença entre construir modelos e construir produtos que utilizam modelos. É parte funcional, mas também parte monetização.

Ainda é muito cedo para saber se a Microsoft obterá uma vantagem duradoura ou se a nova competição de IA se tornará o tipo de corrida armamentista técnica que o Google historicamente consegue vencer. Um analista do UBS disse que, se a Microsoft espera ultrapassar o Google, ela tem uma “montanha a escalar”.

“As melhorias de pesquisa funcionarão como um vento favorável para [a receita de publicidade a longo prazo], mas levará tempo para trazer os usuários de volta ao Bing e eles precisarão de um pé de cabra para afastar os anunciantes do Google”, escreveu o analista da Jefferies, Brent Thill, em uma observação na terça-feira. “Vemos essas atualizações como a ponta do iceberg para os recursos de IA da MSFT, com a maior oportunidade em casos de uso corporativo.”