The Shift

Startups brasileiras batem recorde ao captar US$ 5,2 bi no 1º semestre

O amadurecimento do ecossistema é um dos responsáveis pelo recorde

No primeiro semestre de 2021, as startups brasileiras bateram o recorde histórico de investimento ao captarem US$ 5,2 bilhões, segundo o “Inside Venture Capital Report”, do Distrito. O valor é 45% maior que o montante total investido em 2020 (US$ 3,5 bilhões). Entre janeiro e junho foram realizados 339 aportes, um volume aproximadamente 35% superior ao registrado no mesmo período do ano passado. Após um semestre marcado por 11 mega rodadas e 4 novos unicórnios, o tempo de bonança está apenas começando.

“O investimento de Venture Capital no Brasil não só vai crescer, como vai ter um ciclo muito bacana que, por escassez de recursos, haverá uma chance maior de escolher ativos bons. Vamos criando e sofisticando o ecossistema cada vez mais”, afirma a cofundadora e sócia da Astella Investimentos, Laura Constantini.

A ultrapassagem da marca dos US$ 5 bilhões investidos é um fator de comemoração, mas Laura acredita que o Brasil já caminhava nesse sentido. O pico de investimento em Venture Capital é fruto de quatro grandes fatores: o amadurecimento do ecossistema de inovação e VC, o retorno de empreendedores experientes para o mercado, a crescente disponibilidade de capital e o ganho de atratividade desse modelo de investimento.

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Os ativos alternativos ganham relevância em um cenário em que há a queda na taxa de juros e uma bolsa de valores que reflete pouco a nova economia. “O VC acaba sendo uma saída importante para quem vê a transformação digital como cerne da transformação econômica e social que a gente está vendo no Brasil”, afirma Laura Constantini.

A cofundadora e sócia da Astella relaciona o movimento de volta dos empreendedores experientes ao mercado para fundar novas empresas à redução das barreiras para  empreender no país e ao resgate do propósito. Esse retorno é importante porque traz mais experiência para o mercado. “Pela primeira vez, os brasileiros no geral têm uma alternativa de resolver questões sociais importantes com seu próprio trabalho e visão”, pontua.

Empreender também ficou menos difícil. Para cofundadora da Astella, a tecnologia reduz as barreiras do mercado e cria um cenário competitivo mais equitativo.  Já a pandemia deu um “empurrãozinho”, mas não foi a força motriz por trás dos recordes do primeiro semestre de 2021. Na análise de Laura Constantini, tudo isso começou a ser construído nos anos 2000, com a chegada da Endeavor ao Brasil, um marco para a criação do ecossistema atual.

Do total captado no primeiro semestre, mais de US$ 2 bilhões foram investidos em junho por meio de 63 rodadas. O último mês também foi recordista, levando o posto do mês com o maior volume de capital da história do mercado brasileiro.

A já conhecida Série G do Nubank, com a participação da Berkshire Hathaway e o valor de US$ 1,15 bilhão, é uma das 11 mega rodadas registradas no primeiro semestre de 2021. As outras captações acima de US$ 100 milhões foram levantadas por:

Das mega rodadas, três se tornaram unicórnios: MadeiraMadeira, Hotmart e Mercado Bitcoin. Com uma fatia de 40% adquirida pela JP Morgan, o C6 Bank foi a quarta startup brasileira que passou a valer mais de US$ 1 bilhão no primeiro semestre.

O amadurecimento do ecossistema de startups é responsável pelas mega rodadas. Mas os aportes parrudos também sinalizam um maior interesse dos investidores estrangeiros nas empresas nacionais. “As mega rodadas têm relação com o ecossistema do Brasil, possibilitando a atração de capital estrangeiro. Isso tem relação com um arcabouço de governança e transparência que possibilita o conforto dos players no Brasil, além da compreensão de que as empresas são uma alternativa economicamente viável. Ou seja, existe um ecossistema que vai garantir que o capital seja utilizado e retornado. O Brasil ainda sofre muito com as questões de governança, transparência e burocracia, mas estamos em um caminho de transformação por meio do ecossistema”, analisa Laura Constantini.

As empresas devem ganhar cada vez mais espaço como investidoras no ecossistema de startups por meio de Corporate Venture Capital, afirma a cofundadora e sócia da Astella. Para o mercado, o movimento é positivo por trazer mais liquidez e novas possibilidades. Do lado das corporações, os aportes são uma alternativa para a testagem de novos mercados, a ampliação da inovação e a compreensão de novos produtos e comportamentos.

Já o investimento anjo registrou queda de 20% em 2020, como aponta uma pesquisa realizada pela Anjos do Brasil. Laura traz duas hipóteses para a equação. Primeiro, a de que ocorre uma institucionalização do investimento porque existe uma quantidade maior de fundos endereçando o espaço que antes só cabia aos anjos. Isso causa a competição de fundos institucionais com os investidores de capital próprio.

“Ainda tinha muito investidor anjo que colocava uma graninha para ajudar um parente ou por achar a ideia legal e acabava quebrando a cara por não ter visão do mercado. Então, acho que cada vez mais vão ficar grupos de anjos que têm know-how e método. A quantidade de investidor anjo que investia sem ter uma visão ampla do mercado e sem conhecer teses de investimento tende a diminuir até porque eles podem participar do sucesso de Venture Capital, através de investimento em fundos”, explica.

Setores mais aquecidos

Sem surpresas, as fintechs receberam o maior volume de investimento e a maior quantidade de aportes do semestre. Foram US$ 2,4 bilhões captados em 72 deals. Laura Constantini aponta que essa vertical deve continuar como uma tendências porque o esperado é que todas as empresas se tornem fintechs,

“A gente vê as empresas se tornando marketplaces e agregando a possibilidade de transações dentro deles. Não vemos mais as fintechs se restringindo a crédito, por exemplo, tudo está sendo embutido em outros tipos de serviços. Os serviços financeiros estão crescendo demais porque outras empresas os estão fornecendo”, afirma cofundadora e sócia da Astella.

As RetailTechs também chamam a atenção de Constantini pela tamanha aceleração do segmento com a pandemia e a necessidade de entrada no varejo digital. Os setores de HealthTech e EdTech têm atraído uma quantidade relevante de aportes, com 29 e 24 deals, respectivamente. Por enquanto, o volume de capital ainda não chega perto do que é captado por setores mais atrativos. As startups de educação receberam US$ 223,7 milhões e as empresas de saúde, US$ 183,9 milhões no primeiro semestre.

“Os setores de saúde e educação ainda não foram tão agraciados por transformações tecnológicas, mas eu acho que serão em algum momento. Acho que vai surgir uma série de soluções para complementar a educação formal e para fugir da transposição de uma aula offline para o online”, especula Laura Constantini. “A pandemia deu uma chacoalhada na parte de saúde, mas vamos ver o que de concreto vai ocorrer a partir disso, especialmente na parte de medicina genética”.

Fusões e aquisições

Entre janeiro e junho, ocorreram 113 M&As no país, o que já é cerca de ⅓ do total registrado em 2020. Esse foi o primeiro semestre com a maior quantidade de fusões e aquisições desde 2012, o último dado levantado pelo relatório. A expectativa do Distrito é que o ecossistema feche o ano com mais de 250 deals.

A tendência de compra entre ou por startups ganhou força nos últimos seis meses. Esse modelo de M&A representou 54,12% de todas as fusões e aquisições do período – nos mesmos meses de 2020, essa taxa era de 34,5%.

“O interessante nisso tudo é que o empreendedor não precisa pensar que a expansão só se dá de forma orgânica. Ela pode ocorrer com a compra de outras empresas, não só porque isso traz clientes, mas também porque complementa a oferta de serviços e aumenta as barreiras de entrada”, pontua Laura Constantini. “Então, quanto mais existirem empresas fazendo coisas novas, mais vamos ver o setor se movendo nessa direção [de fusões e aquisições]”, complementa.

No último mês, foram realizados 26 M&As. Do total, o Distrito destacou quatro principais movimentações: