The Shift

Ecossistema digital: o que as empresas têm a aprender (e ganhar)

Os ecossistemas digitais são formados por fornecedores, clientes, parceiros comerciais, aplicativos, provedores de serviços de dados terceirizados e todas as respectivas tecnologias

“As fronteiras da indústria estão se confundindo e as cadeias de valor estão se consolidando em ecossistemas”. Ao proclamar há um ano que as organizações tinham muito a ganhar – em valor, tanto pelo crescimento do negócio principal quanto pela expansão do portfólio para novos produtos e serviços – este artigo da McKinsey só não tinha como prever que a pandemia faria com que as organizações não apenas acelerassem sua estratégia de adesão aos ecossistemas digitais, mas em quantidade maior do que o previsto inicialmente.

De acordo com um novo estudo da Ernst & Young (EY), participar de ecossistemas digitais tornou-se um imperativo – o chamado game changer – com exemplos claros, principalmente no Sudeste Asiático. Com uma população classe média escolada em tecnologia, uso difundido de dispositivos móveis e penetração média de 63% de internet, a economia compartilhada e o consumo colaborativo estão em alta na região – e servindo de template para startups e empresas em todo o mundo. Todos querem entender como os ecossistemas digitais estão abrindo caminho para o compartilhamento de modelos em diferentes setores, como mobilidade, viagens, hotelaria e imóveis.

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No ecossistema digital, temos um conjunto interconectado de ofertas que atendem às necessidades do consumidor em uma experiência integrada, abrangendo empresas em diferentes setores que oferecem coletivamente uma ampla gama de produtos e serviços. Os ecossistemas digitais são formados por fornecedores, clientes, parceiros comerciais, aplicativos, provedores de serviços de dados terceirizados e todas as respectivas tecnologias. Juntos, esses recursos podem funcionar como uma unidade e oferecer às empresas que o integram vantagens competitivas e ganhos no longo prazo.

A maioria das empresas globais agora está considerando o modelo de negócios do ecossistema, principalmente por seu potencial de geração de valor: crescimento do negócio principal, expansão da rede e do portfólio e geração de receitas de novos produtos e serviços. O Alibaba, por exemplo, oferece um amplo ecossistema de serviços na categoria lifestyle (incluindo varejo, pagamentos, pontuação de crédito). A Apple lançou um AppleCard junto com o Goldman Sachs, expandindo para ApplePay, e ainda conquistando a lealdade dos consumidores. E a BMW/Daimler criou um ecossistema de mobilidade compartilhado com várias startups (Car2Go, moovel, Mytaxi) sob a marca Your Now.

Isso quer dizer que vale para todas as empresas? Depende. Para funcionar, é preciso definir bem qual será a bordagem para tirar o máximo de valor. O relatório da McKinsey recomenda que “as empresas determinem sua estratégia de ecossistema avaliando as características e tendências do mercado, bem como sua ‘adequação’ a ecossistemas específicos. As empresas também precisam avaliar sua agenda de criação de valor – seja para expandir o negócio principal, criar novos produtos e serviços, construir uma solução ponta a ponta para um novo segmento ou melhorar a eficiência operacional”.

O crescimento dos ecossistemas

“Ecossistemas digitais focados no consumidor estão se formando em todo o Sudeste Asiático para agregar valor a uma velocidade e escala sem precedentes, em resposta às disrupções digitais da indústria e acelerados pela pandemia. Há um rápido crescimento de startups e nativos digitais. Alguns dos principais nativos digitais no sudeste da Ásia estão se transformando em superplataformas digitais, oferecendo serviços interconectados por meio de uma experiência integrada – desde corridas de carro, entrega de comida, mercearia, logística, até saúde, estilo de vida e serviços financeiros”, diz Liew Nam Soon, Sócio-gerente regional da EY Asean sobre o relatório.

“Os consumidores de hoje esperam velocidade, capacidade de resposta e acesso com uma experiência hiperpersonalizada. Os ecossistemas digitais ajudam as empresas a criar valor por meio do crescimento da receita, obter acesso a novos mercados, diminuir os custos de aquisição de clientes e, por fim, fortalecer e manter relacionamentos com os clientes.”, completa.

Aplicativos móveis, computação em nuvem, inteligência artificial, big data e analítica, blockchain e Internet das coisas (IoT) foram as áreas de tecnologia que viram mais investimentos. Os superaplicativos levantaram mais de US$ 43 bilhões entre 2016 e 2019. A projeção da EY é que os ecossistemas digitais no Sudeste Asiático, que estão em ritmo de crescimento, têm o potencial de gerar um volume de receitas de US$ 23 bilhões até 2025.

Na análise da McKinsey, a economia de integrada poderá representar um pool de receita global de US$ 60 trilhões em 2025, com um aumento potencial na participação da economia total de cerca de 1% a 2% em 2020 para aproximadamente 30% cento em 2025.

O relatório da EY, com base em entrevistas da indústria realizadas entre dezembro de 2020 e março de 2021, destaca as áreas que as organizações devem considerar ao navegar pelos ecossistemas digitais:

Avaliar a maturidade do ecossistema digital da organização. Os três níveis de maturidade são: adaptador, em que a transformação está limitada a uma unidade de negócios ou mercado geográfico específico; acelerado, em que a organização dimensiona a transformação para o nível da empresa e do setor; e atacante, em que a organização conduz uma transformação em grande escala em vários setores por meio de colaborações entre setores e potencializa os recursos de tecnologia em diferentes partes da cadeia de valor.

Definir o modelo de negócios. Com base em parâmetros diferentes, como a natureza do ecossistema (por exemplo, aberto ou fechado), a escala das parcerias da indústria e o modelo de receita, a organização define o modelo de negócios que irá empreender como um participante do ecossistema digital.

Implementar o ecossistema. A partir do momento em que a organização identificou uma oportunidade de ecossistema digital, ela precisa seguir um processo para projetar um ecossistema. Isso inclui identificar a função mais adequada a ser desempenhada pela organização: ela será uma orquestradora, parceira ou facilitadora? É preciso olhar também para a natureza do ecossistema, a adequação ao mercado do produto e o modelo de monetização. E, por fim, quem são os principais capacitadores desse ecossistema, antes de definir qual será a rota de evolução. Se uma organização vai assumir o papel de orquestradora, deve considerar ainda como mobilizar o ecossistema – seja por meio de construção, compra (M&A ou investimento) ou parceria (joint venture, aliança ou contrato estratégico).

O relatório conclui que as interações digitais em atividades B2B e B2C devem continuar crescendo mesmo no período pós-pandemia. A empresas do Sudeste Asiático devem transformar seus negócios de maneira digital para aumentar seus ganhos, ao mesmo tempo em que trabalham com parceiros para fornecer soluções que possam alavancar não somente a tecnologia, mas também resolvendo lacunas de valor.

“Um modelo de parceria pode fornecer um impulso significativo para suas jornadas de transformação digital. É importante ressaltar que as empresas devem ter clareza de seus objetivos estratégicos, seja para alcançar o crescimento do negócio principal, entrar em um novo segmento de mercado por meio de ofertas novas ou digitais, para otimizar as operações ou uma combinação. Isso os ajudará a mapear seus papéis em um ecossistema digital de forma eficaz”, escreve Liew.