Nunca ouviu falar? “Design Justice” é uma abordagem do design que desafia as desigualdades estruturais, em vez de reproduzi-las. Essas desigualdades incluem algoritmos de policiamento preditivo que visam grupos raciais e sistemas automatizados em serviços sociais que tornam o acesso aos benefícios para os pobres mais difícil, por exemplo. Abrange do design gráfico à arquitetura.
Surgiu de uma comunidade crescente de designers que trabalham em estreita colaboração com movimentos sociais e organizações comunitárias em todo o mundo. Entre eles, Sasha Costanza-Chock, cientista do Massachusetts Institute of Technology, fundadora da Design Justice Network e autora do livro “Design Justice: Community-Led Practices to Build the Worlds We Need”.
Debates a respeito tiveram início anos atrás. Organizações como o Colloqate (criador da Design Justice Platform), a Algorithmic Justice League e a Allied Media Projects (AMP) lideraram a adoção de práticas de design ético, para a justiça e o bem-estar. As sessões nas conferências da AMP de 2015 e 2016 resultaram na formação da Design Justice Network.
A teoria e a prática de Design Justice demonstram como os princípios e práticas universalistas de design apagam certos grupos de pessoas – especificamente, aqueles que estão interseccionalmente em desvantagem ou sob matrizes de dominação de classe, raça, gênero, sexualidade, entre outras. A ideia é usar o design para imaginar e construir um mundo mais seguro, mais justo e mais sustentável, a partir da observância de alguns princípios.
- Utilizar o design para sustentar e empoderar as nossas comunidades, tal como procurar a liberação de sistemas exploratórios e opressivos;
- Centralizar as vozes das pessoas diretamente impactadas pelos efeitos do processo do design;
- Priorizar o impacto do design na comunidade e não as intenções do designer;
- Compreender a mudança como emergente de um processo responsável, acessível e colaborativo, não como uma meta no final de um processo;
- Ver o papel de designers como pessoas facilitadoras e não como peritas;
- Acreditar que cada pessoa é perita graças à sua própria experiência, trazendo contribuições únicas e brilhantes para um processo de design;
- Partilhar conhecimento e ferramentas de design com as nossas comunidades;
- Trabalhar para resultados sustentáveis, liderados e controlados pela comunidade;
- Trabalhar para soluções não-exploratórias que nos reconectam com a Terra e com as outras pessoas;
- Antes de procurar novas soluções de design, procurar o que já está funcionando ao nível da comunidade. Honrar e elevar conhecimento e práticas tradicionais, indígenas e locais
A Design Justice Network já tem 1728 signatários, e qualquer um pode se comprometer com esses princípios. Também dá para se tornar um membro e ter acesso às discussões da rede.
Considerando que o design molda nossa capacidade de acessar, participar e contribuir com o mundo, o Design Justice e o Design Inclusivo, que considera toda a gama de diversidade humana com respeito à habilidade, idioma, cultura, gênero, idade e outras formas de diferença humana, têm muito a dizer. Ambos vão além da acessibilidade e são difíceis de alcançar. Exigem uma reavaliação constante das escolhas de design para não reforçarem e perpetuarem estigmas.
Design Justice faz referência a uma ampla gama de áreas de inovação onde a falta de inclusão do design gera produtos problemáticos. “Todos os dias, ao nosso redor, as pessoas estão inovando de pequenas e grandes maneiras, com base nas necessidades diárias”, reflete Costanza-Chock em entrevista à MIT technology Review.
Por exemplo, pensando sobre o design de nossos serviços de saúde mental, onde nós “verdadeiramente centralizamos as vozes daqueles diretamente afetados”? O design de nossos sistemas é mais influenciado pelo faturamento e reembolso ou são projetados com os serviços para o cliente?
Aplicações do conceito
O avanço da justiça social por meio da justiça no design e o aumento da diversidade e inclusão estão inextricavelmente ligados. Por exemplo, desde o ano passado, um grupo de designs e arquitetos estão repensando hospitais, centros comunitários e escolas e como seus ambientes podem ajudar a curar seus frequentadores. “Temos visto um número crescente de estúdios criativos usando princípios de Justice Design para se concentrar na saúde e bem-estar. Os membros estão adotando uma abordagem iterativa, em que, por meio de pequenos gestos, eles estão projetando espaços interseccionais para a cura”, explica Stephanie Pereira, diretora da NEW INC, a incubadora cultural do New Museum, na cidade de Nova York.
Os designers têm o poder de se posicionar e melhorar a saúde humana e a equidade. Como co-fundadora, diretora executiva e diretora de design do Designing Justice + Designing Space (DJDS), Van Buren ajudou a liderar a arquitetura e o desenvolvimento imobiliário em Oakland, buscando instituir práticas de justiça restaurativa.
Em abril deste ano, um workshop na Fundação MacArthur explorou como os métodos e princípios de justiça de design podem ser aplicados a doações e filantropia. Os pontos chave foram capturados pelo pessoal da Carhart Creative.
Ocasionalmente as duas pontas – comunidade e filantropia – se unem aos governos e arregaçam as mangas para formar iniciativa conjuntas. É o caso do Climate Justice Through Collaborative Design, um projeto conjunto com a Coalition of Communities of Color, o condado de Multnomah, a cidade de Portland e o Meyer Memorial Trust.
Por que isso importa?
O Design Justice convida não só os profissionais de design a decidir o que projetar e para quem projetar, por meio de uma análise crítica da matriz de dominação e de como ela reproduz o poder e a concentração de privilégios.
Tudo ao nosso redor foi projetado – até mesmo sistemas de desigualdade. Portanto, a justiça social é uma decisão de design e todos nós temos a experiência, o poder e a responsabilidade de usar o design intencionalmente em nossas comunidades para criar uma sociedade mais justa.
Mas definir como a justiça do design se manifesta em uma comunidade provou ser um desafio maior do que descobrir injustiças. Os defensores do conceito dizem que as metas de longo prazo, como mudanças nas políticas e desenvolvimento econômico, oferecem infinitas oportunidades.
Projetar com e para as pessoas envolve grande responsabilidade. Sua empresa está preparada para esta realidade?