Se havia alguma dúvid de que muitas empresas precisam repensar urgentemente suas estratégias de dados, ela caiu por terra essa semana, depois da divulgação da pesquisa Digital Transformation Index (DT Index), da Dell, em parceria com a Forrester, com mais de 4 mil profissionais em 40 países, incluindo o Brasil. Os resultados comprovam que a maioria das empresas coleta mais dados do que consegue usar. Esse excesso de dados, muita vezes desnecessários mesmo, e a incapacidade para extrair insights deles estão entre as maiores barreiras para a transformação digital. Essa inconsistência foi batizada de Data Paradox, ou Paradoxo dos Dados.
Alguns paradoxos de dados identificados no estudo da Forrester, que ouviu tomadores de decisão seniores com responsabilidade pela estratégia de dados de suas empresas, mostram que a distância entre o “talk” e o “walk” corporativo ainda é grande:
- 70% estão coletando dados mais rápido do que podemos analisar e usar;
- 64% têm muitos dados para atender aos requisitos de segurança e conformidade;
- 61% têm equipes de dados sobrecarregadas com a quantidade de dados disponíveis;
- 41% têm equipes de dados que lutam para saber como e quais dados realmente precisam;
- 67% dizem que precisam constantemente de mais dados do que seus recursos atuais fornecem;
- e para 36%, o aumento descontrolado de dados pode sobrecarregar a infraestrutura de TI, levando à perda de produtividade.
O recorte sobre as empresas brasileiras é ainda pior.
- Aqui, 76% dizem coletar dados em uma velocidade mais rápida do que conseguem analisá-los e utilizá-los.
- 73% acreditam que os dados são essenciais para o negócio, mas apenas 28% conseguem tratar esses dados de forma adequada e transformá-los em informações relevantes para o negócio.
- 74% dizem que, constantemente, precisam de mais dados do que aqueles disponíveis.
- 71% ressalta que a diretoria da empresa não apoia de forma ostensiva o uso estratégico da análise de dados.
- 63% reclamam que têm um grande volume de dados que não atendem aos requisitos de segurança e conformidade;
- e 59% consideram que suas equipes estão sobrecarregadas com os dados de que dispõem.
Ainda assim, 23% das empresas brasileiras são consideradas Campeãs de Dados. Quase o dobro da média mundial, de 12%.
A maioria das empresas ainda não progrediu em tecnologia, processos, cultura e habilidades de dados. Segundo o estudo, 88% dos estrategistas de dados no mundo estão negligenciando esses requisitos. Aproximadamente um terço dos 4 mil participantes do estudo diz que seus negócios estão adotando uma abordagem desequilibrada para melhorar a prontidão de seus dados ou focando muito em sua cultura e esquecendo a tecnologia, ou vice-versa.
As implicações desse paradoxo são profundas e de longo alcance. Com muita frequência, quando as empresas planejam seu estado futuro, elas ficam atoladas em seu estado atual. Com o gerenciamento de dados não é diferente.
Por que é tão difícil se tornar uma empresa data-driven?
Um artigo publicado na HBR pelo consultor Randy Bean, autor do livro “Fail Fast, Learn Faster: Lessons in Data-Driven Leadership in an Age of Disruption, Big Data, and AI“, aponta que para as empresas tradicionais é mais fácil falar do que fazer porque muitas ainda estão lutando não apenas contra a tecnologia legada, mas também contra culturas incorporadas que são resistentes a novas formas de fazer as coisas e mudanças de mindset.
Bean cita uma pesquisa recente realizada com 85 empresas integrantes da lista Fortune 1000, e sobre a qual já falamos aqui na The Shift, que identificou que mais de 90% das empresas ouvidas apontaram a cultura corporativa como a maior barreira para se tornar data-driven, junto com pessoas e processos.
Sugestão do consultor:
- Concentrar iniciativas com dados em casos de uso de alto impacto claramente identificados;
- Reconsiderar como suas organizações lidam com dados; e
- Lembrar que essa transformação é um processo de longo prazo que requer paciência, força e foco.
Uma visão mais otimista
O surpreendente volume, variedade e velocidade dos dados podem parecer avassaladores, mas com a tecnologia, os processos e a cultura certos, as empresas podem evitar o Paradoxo dos Dados.
Além disso, grande parte das corporações participantes do estudo estão procurando revisar suas estratégias de dados com um ambiente de várias nuvens, mudando para um modelo de dados como serviço e automatizando os processos de dados com aprendizado de máquina. O que é um bom caaminho, uma vez que mais da metade dos tomadores de decisão do estudo tiveram pontuação baixa em cultura de dados e prontidão tecnológica.
Há um caminho a seguir, primeiro modernizando sua infraestrutura de TI para que eles possam atender aos dados onde eles residem, no limite. Isso implica trazer a infraestrutura e os aplicativos das empresas para mais perto de onde os dados precisam ser capturados, analisados e usados – enquanto se evita a proliferação de dados, mantendo um modelo operacional consistente em várias nuvens.
Implica também otimizar os pipelines de dados, para que possam fluir livremente e com segurança enquanto são aumentados por AI / ML; e em terceiro lugar, desenvolver software para fornecer as experiências personalizadas e integradas que os clientes desejam.
Cenário atual
O que as empresas já estão fazendo par superar o Paradoxo dos Dados.