Imagino que muitos de vocês se lembram da cena emblemática do filme “Tropa de Elite”, em que o personagem principal, Capitão Nascimento (interpretado pelo ator Wagner Moura), utiliza o seguinte discurso junto ao seu pelotão sobre o conceito de Estratégia. “O conceito de estratégia, em grego strateegia, em latim strategi, em francês stratégie…”. Pois é, o discurso da estratégia é recorrente em organizações de todo o tipo, sejam militares ou, especialmente, nas empresas. Mas é importante compreender porque tanta legitimidade dedicada a este discurso da estratégia – e questioná-lo. Esta crítica não é inédita, tendo sido feita originalmente pelos professores David Knights e Glenn Morgan, em 1991, e merece ser aqui reforçada.
De partida, é importante ressaltar que “Discurso” abrange um conjunto de relações de poder que são escritas, faladas, comunicadas e inseridas nas práticas sociais, cujos efeitos estão sempre sujeitos à resistência das pessoas. Assim, o discurso da estratégia constitui um campo de poder que define quais são os “problemas reais” dentro das empresas e quais são os parâmetros das “soluções reais” para eles.
Isso sugere que o discurso da estratégia é uma restrição que “desativa” determinados atores, como engenheiros, e “dá poder” a outros, como gerentes especializados em contabilidade, economia ou administração. Para aqueles que aceitam a lógica do discurso da estratégia, ele lhes confere uma identidade subjetiva que é continuamente ampliada e reproduzida. Os especialistas que se apropriam do discurso da estratégia possuem então poder legítimo para definir as regras e práticas nas empresas, especialidade geralmente conferida aos membros dos altos escalões, aos graduados em renomadas escolas de negócios e consultores externos.
Nesse sentido, o Discurso da Estratégia fornece aos gerentes uma racionalização de seus sucessos e fracassos e está incorporado a técnicas e métodos aos quais os gerentes estão vinculados, realçando a sua própria contribuição e importância, gerando uma sensação de segurança pessoal e para a empresa, como um todo. Ou seja, o fracasso pode ser explicado porque algum fator foi avaliado de forma insuficiente, mas agora este fracasso foi incorporado na próxima rodada de planejamento estratégico e, portanto, podemos olhar para o futuro com confiança. Desse modo, é característica do discurso da estratégia que tudo é explicável no final.
Sugiro então uma explicação, no final: precisamos avaliar mais de perto como o Discurso da Estratégia é formulado, como recursos e significados culturais são atraídos a seu serviço e quais são seus efeitos.