Identidade no metaverso. Uma IA mais perspicaz, conhecedora dos nossos sentimentos. Biologia sintética aumentando nosso poder de armazenamento computacional… Pelo 15º consecutivo, a futurista Amy Webb subiu ao palco do SXSW para revelar detalhes do relatório anual de tendências do Future Today Institute. Esse ano com 668 páginas, abrangendo 574 tendências longitudinais de tecnologia e ciência, distribuídas em 30 cenários. Algo para consumir devagar, considerando seu alerta para exercitarmos cada vez mais a nossa percepção sobre os fatos, os dados e as certezas adquiridas a partir deles.
“As tendências por si só não são suficientes, disse Webb. “Precisamos usar as tendências para nos ajudar a re-perceber o futuro. Para nos ajudar a influenciar o futuro”, disse Webb. Em outras palavras, para ressignificar a inovação.
Como? A própria Amy Webb exemplificou, usando a experiência da vaca de Dallenbach: parando de nos concentrar só nos pontos pretos; o que nos impede de prestar atenção aos espaços em branco e mudar a nossa percepção a respeito do que está diante de nós. “A partir deste dia, você se lembrará de questionar suas suposições sobre como os negócios funcionam – e seus negócios – funcionam e observará as tendências emergentes com mais curiosidade do que dizer imediatamente não. E começará a enxergar novas oportunidades e o risco que outros não conseguiram ver”, disse.
A re-percepção é a essência da criatividade. A re-percepção é a essência da inovação e do empreendedorismo e a qualidade essencial da boa gestão, afirmou Amy.
A re-percepção nos ajuda a lidar com a ambiguidade e a incerteza, para que possamos tomar melhores decisões no presente e explorar novos territórios. Mudar a forma como buscamos informações. Avaliar os sinais de mudança e explorar os espaços em branco, mesmo diante de temas supostamente conhecidos, como a Inteligência Artificial. A partir dela, Amy Webb chegou ao Metaverso, ao Blockchain, à Web3, aos NFTs e à Biologia Sintética.
Inteligência Artificial
A IA está alcançando outros pontos de referência, como descobrir como vencer os humanos em jogos de computador complexos. O DeepMind do Google criou um AI Agent 57 que supera os humanos nos jogos clássicos da Atari. Mais recentemente, um agente de IA chamado GT Sophy derrotou alguns dos melhores pilotos do mundo do jogo de simulação de corrida para PlayStation, Gran Turismo Sport.
“Estamos nos aproximando do dia em que as redes de IA tomarão suas próprias decisões sem um humano no circuito. E se isso te assusta, você não é o único. A IA está começando a mudar a forma como nos comunicamos”, afirma Amy Webb. “Eles podem determinar o que queremos dizer, não apenas o que dizemos.”
Como exemplo, ela mostrou uma sinopse gerada por IA de seu relatório, a partir de um prompt com instruções. Bastou usar o GPT-3.
Seria possível usar o GPT 3 usando dados sobre a vida real de alguém e iniciar uma conversa responsiva? “Estamos gerando quantidades impensáveis de dados que estão sendo extraídos e refinados para aprender sobre nós. Esta é a parte horrível da conversa”, diz ela.
Em 2012, uma rede neural aprendeu a reconhecer um gato. Hoje, essas redes podem gerar clones de bate-papo que parecem idênticos ao real em segundos. A IA pode puxar todas as características de confiabilidade, simpatia e criar rostos que não existem. O assustador, como já abordamos na The Shift, é que as pessoas confiam em rostos gerados por IA, mais do que em rostos reais.
Os desenvolvedores já estão começando a brincar com a forma como reconhecemos a emoção na IA e ensinando as máquinas a reconhecer quem você é, o que está sentindo e como está em um determinado momento. E não se trata mais apenas de reconhecimento facial. A IA pode reconhecer as pessoas por seus padrões de respiração ou batimentos cardíacos.
Os algoritmos de aprendizado de máquina podem reconhecê-lo pelo seu padrão de respiração único, seja pessoalmente, seja pessoalmente ou falando ao telefone com alguém. São micro movimentos não perceptíveis para as pessoas, mas muito visíveis para as máquinas. Portanto, “os sistemas de IA não precisam do seu rosto para ver você e saber quem você é. A IA pode detectar e replicar emoções e replicar emoções em tempo real”, explica Amy Webb.
Como em tudo na vida, isso pode nos levar a dois tipos de cenário: o pessimista e o otimista. O otimista? Dá para controlar!
“O conteúdo de IA é identificado de alguma forma. São as equipes que criam os modelos. Nós apostamos na transparência total e existem grades de proteção para uso de certos tipos de sistemas biométricos invisíveis e invasivos, não apenas reconhecimento facial. Muitos foram proibidos de serem usados em espaços públicos”, diz Amy Webb. O que significa que não haverá problema em ter batimentos cardíacos e poderemos nos sentir confortáveis respirando público.
O pessimista? Sempre existirão propósitos nefastos para os quais tudo isso pode e será usado. “Há quantidades inescrupulosas de dados sendo coletados sobre nós com transparência zero. Seus dados são mantidos por terceiros que podem revendê-los e é impossível ser anônimo”, reforça. “É por isso que agora estamos usando bloqueadores de impressão de coração, quadrados de plástico leves que colocamos no bolso da camisa que impedem que nossas vibrações sejam vistas. Ou uma maquiagem nova e leve que suaviza as rugas e reduz o inchaço dos olhos e bloqueia as câmeras de vigilância. Pigmentos especiais confundem os algoritmos, resultando em uma cobertura impecável para nos ajudar nos sentirmos imperfeitos”.para confundir a IA”.
Metaverso
Amy parte do óbvio. Apresenta o metaverso como um termo abrangente para todas as tecnologias que fazem a ponte entre o mundo físico e o digital, incluindo realidade virtual, realidade mista, realidade estendida e também tecnologias vestíveis, como watch as e rastreadores FitBit. Eventualmente, óculos inteligentes que serão muito parecidos com os de grau que usamos hoje. No meio de tudo isso, a Internet, à medida que evoluímos para a próxima versão dela, se tornará mais incorporada. Com a infraestrutura mais nova, as experiências digitais serão mais sensoriais. E a interface será mais humana.
“O metaverso faz parte da Web3”, diz ela. “Essa nova versão da Internet que estamos buscando também cria uma nova oportunidade para obter uma nova oportunidade de obter acesso irrestrito a você e seus dados em um número inimaginável de dimensões.”
A programação do SXSW está recheada de painéis que prometem revelar segredos para se antecipar nessa nova era digital, principalmente com a criação de avatares e colecionáveis digitais.
“Acho que estamos todos presos nos colecionáveis digitais e nos avatares”, disse ela. Mas, provavelmente, daremos um passo adiante e não criaremos uma única réplica de nós mesmos. Criaremos várias versões de nós mesmos. Podemos até incluir uma coisa emocional, com diferentes versões de nós mesmos agindo de maneiras diferentes, dependendo das circunstâncias”, explica.
O que seria um passo adiante do que já estamos fazendo agora. “A versão de você que você compartilha no LinkedIn é diferente da versão de você que você compartilha no Instagram e pelo amor de tudo que é sagrado, espero que seja diferente do que você compartilha no Tinder”, ressalta Amy Webb.
Há outra razão prática que tem a ver com a interoperabilidade. No momento, os universos do metaverso são diferentes. Ainda não existe uma linguagem comum e nenhum protocolo comum ou TCP/IP para o metaverso. Isso significa que, hoje, não podemos facilmente portar uma versão sintética e soltá-la em espaços para que ela continue levando os nossos dados adiante. Se nada mudar, teremos que criar diferentes versões de nós mesmos para operar nos diferentes espaços virtuais.
“Se você acha que gerenciar senhas é um desafio hoje em dia, imagine ter que gerenciar várias versões de si mesmo com diferentes personalidades espalhadas por todo o metaverso?” – conclui.
“Nós olhamos para “O vigarista do Tinder” e rimos sobre como as coisas eram mais simples naquela época. Muitos de nós agora temos uma dúzia de iterações de nós mesmos que foram autenticadas usando ID digital, mas como ninguém pensou nisso, agora estamos constantemente parados gerenciando diferentes identidades digitais e tentando lembrar qual é qual”.
Justamente por isso há tantos esforços em direção à criação de uma identidade única, para as atividades fragmentadas conectadas. “Você acabará, espero, tendo uma maneira de autenticar quem você é, que será imutável, permanente, confiável e verificada”. E essa forma poderá ser baseada em Blockchain.
“Há uma empresa no Canadá que está construindo essas coisas e eles estão muito à frente e se chama Secure Key”, explica Amy Webb. Aqui na The Shift, já falamos de algo semelhante em um podcast com Fernando Teles, presidente da Drumwave.
No Metaverso, uma identidade digital será a como uma carteira de motorista que controlará seus dados e você sserá responsável por eles. Poderá distribuí-los como achar melhor.
Web3
Para Amy Webb, o futuro da Web3 está mais provavelmente em aplicações práticas como infraestrutura e cadeia de suprimentos.
Em um supermercado como o Central Market, ela disse, o blockchain poderia ser usado para rastrear com mais precisão de onde vem cada produto individual, porque permite usos mais sofisticados da tecnologia de código de barras.
No domínio do planejamento urbano, uma aplicação da Web3 conhecida como metaverso, uma realidade virtual construída na Web3, poderia ser modelar com mais precisão tendências de densidade, planejamento de tráfego e outros efeitos cascata de expansão em uma cidade como Austin.
“A Web3 é sobre transparência. A Web3 é sobre interoperabilidade e confiança”, diz ela.
NFTs
O burburinho em torno dos NFTs começará a desaparecer.
“Os colecionáveis digitais são valiosos por causa da escassez e porque, por enquanto, existe um mercado para eles. Pode haver escassez de NFTs individuais, mas existem milhões de colecionáveis digitais e isso significa que o mercado está saturado e a analogia com as belas artes não combina. Agora, os NFTs são divertidos e empolgantes e são um trampolim para essa infraestrutura que está sendo construída. Mas, o mercado está saturado e espero que você possa ver que os NFTs são brilhantes, a distração. É a infraestrutura que é indiscutivelmente mais chata que realmente importa”, disse ela.
Biologia Sintética
Assim como a IA e o metaverso, biologia sintética é outro termo abrangente para diferentes tecnologias. Um campo interdisciplinar relativamente novo da ciência que combina engenharia, computadores, design e biologia. “Pesquisadores redesenham organismos para dar-lhes novos ou melhores propósitos”, afirma Amy Webb.
De acordo com ela, a principal descoberta do relatório deste ano é que os computadores e a biologia estão se tornando uma coisa só. Estão se fundindo.
Para ilustrar, lançou mão do armazendo em DNA, que vem sendo desenvolvido pela Microsoft e a DNA Storage Alliance.
“O metaverso terá necessidade de muito espaço de armazenamento. O DNA pode armazenar informações digitais em um espaço de ordens de magnitude menor do que os data centers atuais. Os pesquisadores criaram um sistema totalmente automatizado para armazenar e recuperar dados como fotos e vídeos e documentos e recuperá-los usando o DNA como uma espécie de disco rígido da natureza”.
Por que alguém faria isso? “Porque estamos ficando sem espaço”, diz Amy Webb.
De amesm forma, precisaremos de maior poder computacional. “Em 1985, a Apple tinha 25.000 transistores e na semana passada, a Apple anunciou o novo processador altar que tinha 114 bilhões de transistores, o que é muito, mas ainda limitado”, diz ela.
Mas, e se o chip pudesse ser projetado a partir de algo ainda menor, algo menor do que um minúsculo transistor? É justamente no que a equipe da Roswell Biotechnologies está trabalhando agora. Na miniaturização em biossensores com 16 mil transistores! “Algumas pessoas estão dizendo que a invenção desse novo tipo de chip é semelhante ao lançamento do primeiro microchip da Intel há 50 anos”, diz Amy Webb.
No campo da Biologia propriamente dita, Amy alerta que ainda não temos nenhuma maneira de pensar sobre nosso DNA e privacidade genética. E sobre as formas como a tecnologia está sendo utilizada para criar alimentos em laboratório, ou até tratamento para infertilidade.
“Daqui a 10 anos , falaremos sobre biologia sintética da mesma forma que falamos sobre inteligência artificial hoje”, explica. “Na verdade, já podemos programar sistemas biológicos da mesma forma que programamos computadores. As aplicações da biologia sintética podem ser um grande avanço nos próximos cinco anos? Estamos prontos para mudar nossos modelos mentais sobre essas coisas? Uma empresa deve usar o DNA para marketing e insights do consumidor? E se houver uma violação de dados genéticos e os hackers obtiverem acesso ao seu genoma?” – questiona. “Podemos pensar sobre essas tendências e como aproveitar toda essa tecnologia para um bem maior?”
Emergência climática
Há muito mais no relatório de tendências deste ano. E há também um alerta. Na opinião de Amy Webb, o maior problema que o mundo enfrenta agora não é criar a Web3, o Metaverso ou robôs de IA dominando o planeta. A maior ameaça está relacionada a uma emergência climática.
“A Terra já aqueceu cerca de 1 grau Celsius ou 1,8 graus Fahrenheit, desde o século 19, antes que a indústria começasse a florescer”, segundo o Fundo de Defesa Ambiental. “Enquanto sentimos os efeitos, estamos caminhando para 1,5 graus Celsius ou 2,7 graus Fahrenheit já em 2030.”
Como usar a re-percepção daqui para frente, para mudar isso?
Não estou pedindo para vocês estarem prontos para tudo. Estou pedindo para vocês estarem prontos para qualquer coisa, especialmente se desafiar suas crenças mais profundas. Eu preciso que vocês comecem”, diz Amy Webb. “Vocês constroem o futuro todos os dias com escolhas. Cada escolha é uma chance de tornar o futuro melhor. Lembrem-se disso!”
Seu recado não poderia ser mais claro!
A íntegra da apresentação já está disponível. Confira abaixo.