Metaverso, cripto, DiFi, Web3, DAOs… o hype sobre essas tendências pode ter atingido seu ápice na última semana, durante o SXSW 2022. Sim, ainda há muita especulação a respeito desse novo mundo impulsionado pelas Big Techs e VCs receosos pelo excesso de regulação e ansiosos por dinheiro novo. Mas também há, ao menos, uma certeza: antes de mergulhar de cabeça, ou rejeitar por completo essas tendências e taxá-las de exageradas, convém ajustar as lentas da observação, exercitar a criatividade e experimentar muito, para encontrar os caminhos que mais façam sentido para o seu negócio e a sua marca.
A curiosidade é um dos principais motores da inovação. Mas a curiosidade também é um desafio. Exige que questionemos nossas próprias crenças e nos conscientizemos que as rápidas iterações de novas tecnologias, mudanças sociais, valores e expectativas redefinidas das pessoas possam requerer novos movimentos.
A verdade de ontem pode não ser necessariamente relevante amanhã, e permanecer no jogo certamente exigirá ajustes constantes, como deixaram claro as grandes estrelas do evento. Amy Webb chamou esse exercício de re-percepção. Prática corrente de Scott Galloway, Rohit Bhargava, e até do próprio Beeple (Mike Winkelmann).
O que podemos extrair da fala de cada um, para nos ajudar a ir além do hype?
- Para chegar a conclusões acionáveis, temos que pensar em cenários e no que eles podem significar para nossas marcas, indústrias, grupos-alvo ou até mesmo para a sociedade como um todo, sinaliza Amy Webb. O brilho excessivo dos NFTs, criptomoedas e imóveis digitais, hoje, pode estar nos distraindo do verdadeiro valor do metaverso, amanhã.
- O potencial de criar experiências mais imersivas por meio de wearables e novas interfaces, enquanto a tecnologia blockchain serve como ferramenta de identificação com vários aplicativos e sistemas, pode ser o futuro da web. Mas para isso será preciso superar a desconfiança na IA e na biologia sintética, a falta de interoperabilidade entre os aplicativos do metaverso, a necessidade de gerenciar várias versões do próprio eu digital em espaços virtuais e o risco da falta de governança, caso as DAOs instituam o caos.
- Uma relação consumidor-marca em mudança, com um foco muito mais forte nas necessidades individuais, já está em marcha, pontuou Rohit Bhargava. E o metaverso tem tudo para ser a consolidação dessa “Identidade Ampliada”. Atingir grupos-alvo com ofertas e conteúdos relevantes torna-se ainda mais complicado e a divisão acelerada de identidade do consumidor de amanhã é algo para o qual temos de nos preparar.
- Não por acaso, na opinião de Scott Galloway, os estágios iniciais do metaverso serão construídos em torno de conteúdo que gere intimidade e engajamento. O que, inicialmente, será mais fácil de construir com áudio, em vez de apelos visuais e táteis aprimorados. E os NFTs serão expressões da personalidade e satisfação da propriedade. Instrumentos de status e capital social, à medida que a vida se move mais para a Web3, nem tão descentralizadaa quanto pregam.
- Precisamos ter em mente que levará tempo para as pessoas entendam e apreciem a propriedade virtual, alertou Beeple, que acaba de inaugurar uma exposição física, em uma galeria de Nova York, batizada de “Uncertain Future“, na qual exibe impressões de obras que fez digitalmente, com o objetivo de incentivar o diálogo sobre o papel que as grandes empresas de tecnologia desempenham em nossas vidas e o poder que elas têm na sociedade moderna. Ele também acredita que parte da promessa dos NFTs é que eles permitirão que as pessoas tenham mais propriedade sobre seus eus virtuais.