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Fake news, cibercriminosos, excesso de informação, redes sociais, videconferências, falta de privacidade…? Difícil encontrar alguém no mundo que não tenha pelo menos um pouquinho de estresse gerado pela internet. Em mais da metade do planeta com certeza, já que dados mais recentes indicam que 4,8 bilhões de pessoas (61% da população mundial) estão conectadas à rede, mais de 92% delas usando também/ou apenas o celular. No Brasil o número é maior: 77%.
Se contar o número de horas diárias na frente de uma tela conectada (sem incluir a sua Smart TV), estamos falando de praticamente 7 horas por dia (dados de julho de 2021, do Datareportal Global Statshot Report). Portanto, não precisa fazer muito esforço para encontrar pelo menos um motivo diário de estresse, especialmente porque quase todos os aspectos da nossa vida estão conectados à internet.
“Lidando com o novo normal na nossa realidade digital” é o nome, traduzido, de um estudo recente conduzido pela Kaspersky para identificar pontos de estresse dos usuários de internet. As descobertas são relevantes:
- “Estar online mais tempo”, por conta da pandemia, tornou-se ponto de estresse para mais da metade (56%) das pessoas entrevistadas.
- Praticamente 3 em cada 5 pessoas tiveram que aumentar seu tempo de internet;
- Os millennials sofrem mais que os Baby Boomers quando se trata de medir o aumento de períodos online: 64% vs 45%;
- Para 70% dos entrevistados, notícias sobre vazamento de dados e riscos de cibersegurança são o maior ponto de estresse;
- As mulheres sofrem mais quando se trata de proteger sua vida online: apenas 29% se declararam aptas a isso, contra 49% dos homens;
- Medo de ter sua conta bancária comprometida é motivo de estresse para 64% das pessoas, mais do que perder o emprego (37%);
- Medo de perder o celular (veja o gráfico abaixo) ativa o estresse de 4 em cada 10 respondentes;
Agora que alinhamos alguns pontos de estresse da vida digital, como resolver o problema? Um terço das pessoas entrevistadas (32%) encontrou alívio fazendo atividades físicas monitoradas por algum app, e 14% passaram a usar apps de meditação para reduzir o stress diário.
Para o empreendedor tech Anil Dash, o negócio é ignorar o excesso e priorizar a vida equilibrada. Em 2012 ele criou o termo JOMO (Joy of Missing Out), ou “a alegria de ficar de fora das coisas certas”, em contraponto ao que outra empreendedora, Caterina Fake, tinha identificado um ano antes como os sinais dos tempos digitais: o Fear of Missing Out (FOMO), “o medo de ficar de fora de tudo”.
- Christina Crook, autora do livro The Joy of Missing Out: Finding Balance in a Wired World, mantém um site dedicado ao tema e oferece um guia gratuito com 4 etapas para um “house-cleaning” digital;
- Priorização brutal também ajuda, escreve Arianna Huffington, criadora da Thrive Global, que acaba de receber um aporte de US$ 80 milhões. S.B.
Os investidores também têm FOMO
Sabe aquela sensação de estar perdendo algo ao se desconectar? É o tal do FOMO (Fear Of Missing Out, em inglês). É esse medo que nos faz ficar de olho em cada notificação do celular ou sempre estar checando as redes sociais. Na vida de um investidor em Venture Capital esse tipo de receio também é constante, mas se configura de outra forma: o medo é deixar passar um deal bilionário. A preocupação só aumenta com a quantidade recorde de capital captada pelas startups brasileiras em 2021 – mais fluxo de capital é igual a uma maior competitividade para entrar nas rodadas.
O General Partner da NFX, Gigi Levy-Weiss, aponta que os VCs têm dois impulsionadores psicológicos: o medo de perder a chance de investir em uma boa startup (FOMO) e o receio de parecer um idiota por fazer uma decisão errada (FOLS, sigla em inglês para Fear of looking stupid). Ambos fazem com que os investidores possam acabar tomando decisões erradas.
“Quando um parceiro de uma firma de capital de risco vê uma empresa que poderia ser enorme – com uma ótima equipe, em um campo que ele gosta e com uma boa ideia – é difícil não investir”, explica Levy-Weiss. “Os VCs não querem investir em qualquer lugar onde possam acabar parecendo estúpidos. ‘Como você investiu em um concorrente do Uber depois que o Uber já levantou US$ 5 bilhões?’ não é uma pergunta que você deseja que seus Limited Partners façam”, completou.
Uma das consequências do FOMO no mundo dos investimentos é a aceleração de um aporte. Para não perder o que pode ser um bom negócio, os VCs podem acabar entrando mais rápido na rodada ao saber que outros fundos estão interessados em uma startup. É aí que mora o perigo porque uma análise mais aprofundada dos fundadores e dos dados de uma empresa é importante para bater o martelo em um investimento. Muitas vezes, fazer essa análise demanda mais tempo.
“O VC sempre vai preferir esperar para tomar uma decisão de investimento; quanto mais ele espera, mais dados reúne sobre a empresa e melhor conhece o fundador. E esses dados significam risco menor”, ressalta o General Partner da NFX.
Outros perigos de se deixar levar pelo FOMO é cair em narrativas hiperbólicas que não devem se concretizar e acabar investindo em empresas que já estão ganhando muita atenção. “O que me ajuda a navegar na rotina de Venture Capital é seguir o meu mantra: ‘se você está investindo em tendências, você está atrasado para a festa”, pontua Johan Brenner, General Partner da Creandum, na Forbes. Entretanto, ele também acredita que uma certa dose de medo de perder o deal é importante para melhorar a performance dos VCs.
O FOMO tem movimentado o Vale do Silício, com valuations infladas e aceleração prematura dos planos de negócios. As CleanTechs também estão criando essa tensão nos investidores. A corrida pelos melhores deals faz os investidores deixarem a cautela de lado e acabarem se levando por alguns sinais externos, como a validação de uma empresa por fundos ou aceleradoras de peso. A pressa aumenta as chances de fazer uma escolha errada ou cair em uma fraude.
“É muito louco. Acho que às vezes os VCs são solicitados a tomar decisões em um prazo muito apertado, o que não nos dá tempo suficiente para diligência”, afirma Sheel Mohnot, um investidor em Fintechs e General Partner da Better Tomorrow Ventures, ao Business Insider.
Os riscos são ainda maiores em rodadas iniciais, como pre-seed ou seed, porque a empresa ainda não tem dados suficientes para provar sua capacidade de crescimento. A startup pode ainda nem possuir um produto ou receita nesse estágio. Se tratando de aportes de late-stage, o perigo é ajudar a inflar a avaliação da empresa ao ponto de dificultar um IPO bem sucedido.
Acaba que o hype em uma startup pode ser positivo para os fundadores da empresa justamente por acelerar os aportes e aumentar os valuations. Inclusive, há quem diga que vale criar o FOMO nos investidores. “Gerar fofoca e FOMO não é garantia de uma captação 100% bem-sucedida, mas muitas vezes é a diferença entre um processo rápido ou uma longa marcha da morte”, afirma o Partner na Frontline Ventures, Finn Murphy, em post no LinkedIn.
Existem formas de fazer os gestores de fundos terem medo de perder a oportunidade de entrar em uma rodada, como aponta Murphy. Uma das dicas para os empreendedores é ter alguém do mundo dos VCs para ajudar a guiá-los pelo processo de captação. É nessa troca que se consegue informações sobre como conseguir um term sheet mais facilmente. M.H.
Por que perder o celular é muito estressante?
Quatro em cada dez participantes do estudo da Kaspersky disseram que perder o celular causaria mais estresse. O que é perfeitamente compreensível. Cada vez mais a nossa vida passa pelos dispositivos móveis. No mundo, as vendas de novos smartphones voltaram a crescer este ano, depois de vários meses de queda.
No Brasil, dados recentes da Anatel comprovam a grande importância desses aparelhos hoje: 99% da população brasileira têm acesso à internet móvel. O 3G está disponível para 99% dos cidadãos, enquanto o 4G já chega a 98,8%. Não por acaso, o crescimento trimestral de acessos dos serviços de telecomunicações, já incluindo o primeiro trimestre deste ano, mostra a banda larga móvel se sobrepondo às outras modalidades (gráfico).
Decifrar fake news pode ser extenuante
Estamos em uma era ainda mais arraigada de “transtorno de estresse das manchetes“, termo cunhado pelo terapeuta Steven Stosny após a eleição de Trump em 2016. E muito por conta do aumento da desinformação sendo postada como verdade. Muitos sentimentos negativos, como ansiedade, desesperança, desespero, tristeza, são alimentados por estar em sintonia com o ciclo de fake news 24 horas do dia, os sete dias da semana.
Há um ano, dados do World Risk Poll, da Lloyds Register Foundation, já apontavam o recebimento de informações falsas como uma das três maiores preocupações dos entrevistados, ao lado do bullying e das fraudes na Internet. A preocupação com fake news é mais prevalente em regiões de alta desigualdade econômica e onde existe polarização étnica, religiosa ou política, levando ao enfraquecimento da coesão social e da confiança.
A verdade é que a ascensão das mídias sociais e dos mensageiros instantâneos agravou o problema da propagação de notícias falsas. Hoje, é bastante simples para as teorias de conspiração e os rumores se espalharem por canais multifacetados, de mensagens contínuas. Um ambiente que, muitas vezes, ignora informações contraditórias. Ao nos deparamos com mensagens paradoxais, é mais fácil nos apegarmos a uma informação que simplesmente confirme as nossas crenças (e sucumbir ao tal viés de confirmação), que procurar compreender uma realidade mais complexa. Conviver com essa realidade tem sido extenuante para quem deseja estar bem informado.
Por todos esses motivos, a disseminação de notícias falsas nas redes sociais tornou-se uma grande preocupação para vários setores da sociedade, incluindo varejo e provedores de serviços, alguns dos quais sofreram com a queda nas vendas devido à desinformação que os consumidores compartilhavam online. E a pandemia de Covid-19 aumentou a histeria em torno da desinformação, uma vez que notícias falsas durante as crises podem aumentar as respostas comportamentais negativas dos consumidores, como a compra irracional de pânico ou a adoção de falsas medidas de precaução médica.
O CETIC.br, braço de pesquisas do NIC.br e do Comitê Gestor da Internet (CGI.br), acaba de publicar um extenso estudo sobre a Infodemia, a desinformação no contexto da Covid -19. A propagação de notícias falsas pode afetar negativamente a saúde mental das pessoas.
- O livro “The Psychology of Fake News – Accepting, Sharing, and Correcting Misinformation” é um bom ponto de partida para quem quiser se aprofundar nesse fenômeno, que estará em evidência no Brasil nos próximos meses com os debates no Congresso sobre o projeto de lei das Fakes News e o projeto de lei do Poder Executivo que altera as regras de moderação de conteúdo e de perfis em redes sociais, reproduzindo integralmente a polêmica Medida Provisória sobre o tema, considerada inconstitucional e devolvida à Presidência da República pelo senador Rodrigo Pacheco.
- O recém lançado estudo “Avaliação de Riscos de Desinformação: O Mercado de Notícias Online no Brasil”, do Global Disinformation Index (GDI), do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio), também mergulha no problema.
- Outros dois problemas crescentes já começam a preocupar professores e reguladores e, se não combatidos a tempo, em breve poderão figurar em estudos semelhantes a este da Kapersky: o aumento de fraudes no Marketplace do Facebook e a toxidade do Instagram para meninas adolescentes. C.D.L.