The Shift

O ecossistema da monetização de dados

Desde a chegada da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) e até mesmo agora em plena corrida eleitoral, muito se tem falado sobre dados, privacidade… Nesse contexto, um outro conceito vem ganhando cada vez mais espaço nesse debate: o de “monetização de dados”. A título de curiosidade, o mercado de Big data & Analytics já mobiliza cerca de 208 bilhões de dólares por ano, com um crescimento anual estimado de 13%, segundo o IDC. Já o Grand View Research avalia o mercado de “data as a service” em 15 bilhões de dólares anuais, com taxa de crescimento de cerca de 25%. Ou seja, a indústria dos dados, que ainda engatinha, deve movimentar cerca de um trilhão de dólares em menos de 5 anos.

Mas o que, de fato, é a monetização de dados? Você faz ideia de como isso pode impactar você, seu negócio e sua vida cotidiana? Em síntese, é a oportunidade de extrairmos algum valor dos nossos próprios dados; sejamos nós indivíduos, empresas, associações, governos ou mesmo grupos de afinidade.

“Então, meus dados valem dinheiro?”, é o que você pode estar se questionando no momento, o que é compreensível, afinal, pensar que a nossa idade, número de identificação ou endereço tenham algum valor monetário, pode soar estranho ou muito futurístico. Mas, sim, seu dado pessoal e os que você cria quando tem uma relação com alguma empresa valem e pode ser mais que você imagina!

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Contudo, antes, há alguns detalhes que precisam ser bem compreendidos: o dado bruto ou mesmo de domínio público passa a ter valor quando se associa a ele alguma relação. Assim, a identificação e análise desta relação é o que vai permitir uma interpretação das possibilidades de uso e, consequentemente, a definição de um potencial valor a ser gerado. Tudo isto pode parecer bastante complexo, mas, na verdade, não chega a ser complicado.

Já é possível observar empresas de diferentes áreas interessadas e com alguma incursão neste terreno, ainda pouco explorado. Este processo, ainda incipiente em várias indústrias, pode ser caracterizado como a jornada de valor do dado — em inglês “the data value Journey”. É necessário considerar que antes de monetizar os dados efetivamente, será preciso realizar algumas etapas prévias, permita-me compartilhar um pouco do que seria esta jornada: além das já tradicionais e conhecidas etapas de organização, transformação e extração — que em sua maioria só agregam custo e são amplamente dominadas em maior ou menor grau pelos atores do ecossistema — definir o valor e certificar a autenticidade dos dados e suas relações intrínsecas são as outras duas etapas que demandam atenção e esforços redobrados.

Para definir o valor do dado, é aplicado um score que considera as três dimensões dos dados: a estrutural, a estatística e a contextual. Cada uma dessas dimensões avalia e mensura o potencial de geração de valor do dado considerando nesta análise fatores como, a frequência do dado, sua recorrência e redundância, a entropia da informação contida, a origem, o propósito e sua correlação. Após esta análise, é possível atribuir o valor dos dados e o custo de aquisição para chegarmos a um potencial de monetização.

A próxima etapa é a da certificação, parte de suma importância no processo de atribuição de valor. O valor atribuído aos dados também é dependente da acuracidade e autenticidade deles, portanto essa etapa é fundamental para se poder associar ao dado a respectiva credibilidade e, mais do que isso, para permitir a identificação de sua origem, natureza e propósito de forma transparente. Dessa forma, será possível endereçar as reais e valiosas oportunidades de monetização.

Após isso, temos a etapa de criação dos mecanismos de monetização, que podem se apresentar de diversas formas: nas relações entre os participantes do ecossistema, entre empresas parceiras, entre empresas e seus consumidores, entre grupos de consumidores e indústria e, claro, entre entidades do setor público. A criação de mecanismos de monetização é um processo contínuo, que vai se desenvolver de forma exponencial em função da qualidade e intensidade de descobertas de oportunidades de geração de valor.

Por fim, o que conclui o ciclo é a comercialização dos dados. Esta etapa se dá por meio dos mecanismos de monetização e, assim como cada um dos pontos anteriores, merece um detalhamento mais profundo no próximo artigo. Porém, antes de finalizar gostaria de deixar uma provocação para reflexão. Neste mundo que se avizinha de Open Banking, Open Finance, Open Data, como se dará o controle destes dados e sua monetização. Onde estará armazenado este valor?

Para chegar nessa resposta, vamos nos deparar com novas indagações, uma quebra de paradigma no entendimento da propriedade do dado e a mudança social que acompanhará esse movimento.