À medida que o desenvolvimento de data centers avança — impulsionado pela digitalização, adoção de IA e crescente demanda por capacidade computacional — há um interesse crescente em compreender os impactos operacionais que podem influenciar os indicadores ESG. Que vão além da simples redução de energia — incluem construir instalações eficientes, iniciativas sociais como o engajamento comunitário e práticas de emprego justas e uma governança sólida que garanta que os data centers operem de forma transparente, com estruturas claras de gerenciamento de dados, mitigação de riscos e conformidade.
Como já mencionamos aqui, os data centers verdes (DCs) impactam pelo menos nove dos dezessete ODS da ONU e podem ser usados como uma oportunidade para aprimorar contribuir para as metas ESG de uma organização. Adotar uma abordagem proativa à gestão e fornecer relatórios precisos não somente garante adesão aos princípios ESG, como contribui para um setor de data centers mais sustentável e eficaz.
A Ascenty acaba de publicar seu relatório ESG referente ao ano de 2024, destacando avanços consistentes em suas práticas ambientais, sociais e de governança. Na área ambiental, a empresa neutralizou 100% das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) de Escopo 2 em seus data centers do Brasil, Chile e México, através da aquisição de i-RECs (International Renewable Energy Certificate). A atuação da empresa incluiu também a compensação anual total das emissões dos Escopos 1 e 3 por meio da compra de créditos de carbono.
Além disso, a empresa alcançou um índice médio de PUE de 1,42 — inferior à média global de 1,56 — e índices WUE e CUE iguais a zero, graças a sistemas de resfriamento com circuito fechado e à neutralização total das emissões de carbono. Em gestão de resíduos, superou a meta do Programa Aterro Zero, destinando 91,7% dos resíduos para reciclagem, um aumento de 42% em relação ao ano anterior.
“Investimos em tecnologias que melhoraram a eficiência energética, priorizamos o uso de fontes renováveis certificadas e mantivemos excelentes resultados em indicadores de eficiência energética e uso de água. Tudo isso reforça a nossa atuação responsável e o empenho em utilizar as melhores práticas de mercado”, comemora Chris Torto, CEO da Ascenty.
Métricas padronizadas em conformidade ESG
A implementação de métricas como Índice de Eficiência de Refrigeração (CER), Eficiência de Uso de Carbono (CUE), Eficiência de Uso de Água (WUE) e Eficiência de Uso de Energia (PUE) por meio da série de padrões ISO/IEC 30134 oferece aos data centers uma estrutura para comparar seu desempenho com os padrões do setor.
Os padrões ISO/IEC 30134 são um conjunto de normas internacionais que especificam indicadores-chave de desempenho (KPIs) para data centers, focando na eficiência e efetividade no uso de recursos, como energia e água. Estas normas visam fornecer um guia estratégico para a construção e operação de data centers mais sustentáveis e economicamente viáveis.
No Brasil, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) formou uma comissão de estudos dedicada à nacionalização dessa importante série de normas, tendo já publicado a primeira parte como ABNT NBR ISO/IEC 30134-1, com as demais partes previstas para publicação em breve.
As oito métricas principais abordadas pela norma – PUE, WUE, CUE, REF, ERF, CER, ITEEsv e ITEUsv – formam um conjunto abrangente de indicadores que cobrem desde a eficiência energética básica até aspectos complexos de sustentabilidade e utilização de recursos. Cada métrica oferece uma perspectiva única sobre o desempenho do data center, permitindo uma visão holística da operação.
Vamos a algumas delas:
- Índice de Eficiência de Refrigeração (CER): avalia a eficácia dos sistemas de refrigeração comparando a energia utilizada pelos equipamentos de refrigeração com a energia consumida pelos equipamentos de TI. Um CER mais baixo sugere que menos energia é dedicada à refrigeração, ajudando a reduzir o consumo de energia da instalação.
- Eficiência no Uso de Carbono (CUE): mede a quantidade de emissões de carbono geradas em comparação com a energia consumida pelos equipamentos de TI em um data center. Demonstra a eficiência de operação e seu impacto no meio ambiente em termos de emissões de gases de efeito estufa. Com as regulamentações ambientais enfatizando a necessidade de reduzir a pegada de carbono, manter uma CUE é essencial para que os data centers se esforcem para cumprir esses padrões.
- Eficiência no Uso de Energia (PUE): já há muito tempo é considerada um padrão para monitorar a eficiência energética em data centers. Representa a relação entre a energia total consumida no data center e a energia consumida pelos equipamentos de TI (servidores, armazenamento, rede). Um PUE mais próximo de 1 indica maior eficiência energética, pois menos energia é gasta com a infraestrutura de suporte (arrefecimento, iluminação, etc.).
- Eficiência no Uso de Água (WUE): avalia a quantidade de água que o data center utiliza em comparação com o consumo de energia de TI. Monitorar e aprimorar a WUE ajuda os data centers a manter práticas hídricas que atendem aos requisitos ambientais globais.
Essas quatro métricas atendem a vários propósitos, como:
- Conformidade regulatória: como parte da estrutura mais ampla de relatórios ESG, essas métricas fornecem as evidências baseadas em dados exigidas pelos reguladores, ajudando a evitar penalidades e manter uma boa reputação.
- Melhoria Contínua: a adoção dessas métricas permite que os data centers monitorem e aprimorem continuamente suas operações. Ao monitorar regularmente PUE, CER, CUE e WUE, os operadores podem identificar áreas de melhoria e tomar decisões informadas sobre atualizações para aumentar a eficiência energética e a sustentabilidade.
- Transparência e Relatórios: métricas padronizadas simplificam o processo para que as partes interessadas compreendam e comparem as iniciativas de sustentabilidade dos data centers. Essa transparência é fundamental para construir confiança e credibilidade nas declarações ESG.
Há ainda a métrica REF (Renewable Energy Factor), que quantifica a proporção de energia renovável utilizada pelo data center em relação ao consumo total. Esta métrica é fundamental para avaliar o compromisso ambiental e a sustentabilidade energética da instalação. O REF representa a razão entre a energia renovável e a energia total consumida pelo data center (ambos em kWh) em um dado período, de preferência nos últimos 12 meses.
Para aumentar o REF, data centers podem implementar geração própria de energia renovável, estabelecer contratos de compra de energia limpa ou migrar para regiões com maior disponibilidade de energia renovável, como vem fazendo a Ascenty. Apesar do aumento de 7.5% no consumo de energia em 2024, a empresa atingiu a meta de 100% de energia renovável certificada pelo I-REC. Desde 2020, a Ascenty opera exclusivamente com energia limpa certificada.
A adoção das métricas da série ISO/IEC 30134 vai além do simples cálculo; ela exige um compromisso com a medição contínua, a análise de dados e a implementação de melhorias. Para que essas métricas sejam eficazes, é fundamental integrá-las à gestão operacional do data center.
Como medir e calcular cada métrica
A precisão na medição é a base para a confiabilidade das métricas. Para cada uma delas, a coleta de dados deve ser sistemática e contínua:
- PUE, CER, REF, ERF: Requerem medidores de energia precisos em pontos estratégicos da infraestrutura elétrica (entrada da concessionária, painéis de distribuição, saídas de UPS, PDUs, equipamentos de TI). Para o CER, medidores de energia específicos para sistemas de climatização são essenciais. Para REF e ERF, é preciso quantificar a energia renovável consumida e a energia reutilizada, respectivamente.
- WUE: Exige medidores de fluxo de água em todas as entradas de água do data center, bem como a quantificação da água consumida por diferentes sistemas (torres de resfriamento, umidificadores, etc).
- CUE: Depende da medição do consumo total de energia e da aplicação de fatores de emissão de CO2 da matriz energética local, que podem ser obtidos de concessionárias de energia ou órgãos reguladores.