A IA transforma um passivo – o legado – em vantagem competitiva com segurança, governança e velocidade (Crédito: Freepik)
Por décadas, os sistemas ERP (Enterprise Resource Planning) sustentaram os processos críticos das organizações, do Financeiro à Cadeia de Suprimentos. Mas a longevidade desses sistemas também trouxe um desafio: o legado tecnológico. Com a adoção de Inteligência Artificial (IA), Aprendizado de Máquina (ML), automação e uso de Analytics, é possível automatizar, prever e aprender com os dados.
Dessa forma, a IA transforma um passivo – o legado – em vantagem competitiva. E ao fazê-lo com segurança, governança e velocidade, viabiliza uma nova era em que o ERP não é mais um entrave, mas o coração digital da empresa.
O problema do legado: rigidez, custo e risco
Sistemas legados de ERP, como os implementados em on-premises desde os anos 1990 e 2000, foram projetados para operar sob lógicas muito diferentes das exigidas hoje. Segundo levantamento da EY, cerca de 70% das organizações que ainda operam com ERPs legados afirmam que a falta de interoperabilidade prejudica suas estratégias digitais.
O que antes era sinônimo de eficiência e integração, hoje faz com que as empresas enfrentem problemas como
- Falta de flexibilidade para novos modelos de negócio (ex: e-commerce, omnicanalidade, ESG, tokenização);
- Custo alto de manutenção e suporte técnico;
- Risco de segurança cibernética por falta de atualizações e compliance;
- Baixa capacidade de integração com tecnologias modernas (ex: APIs, cloud, analytics em tempo real);
- Dificuldade para treinar ou substituir profissionais que dominam linguagens antigas como ABAP ou Cobol.
IA para modernizar sem paralisar
A Inteligência Artificial e o Machine Learning (ML) estão sendo aplicados em diferentes etapas da transformação de ERPs legados. O material da EY aponta três frentes principais:
1. Diagnóstico inteligente de processos
Antes de migrar, é necessário mapear quais processos são utilizados de fato, quais podem ser descontinuados e onde estão os gargalos. Com algoritmos de IA, é possível fazer isso de forma automática e com muito mais profundidade.
- Ferramentas de process mining baseadas em IA analisam logs e identificam pontos críticos, redundâncias e exceções que seriam invisíveis a um mapeamento manual.
- A IA também classifica dados e processos em categorias como “migrável”, “necessita adaptação” ou “obsoleto”.
2. Limpeza e padronização de dados
Um dos maiores entraves à migração para Cloud ERP é a má qualidade dos dados históricos. A IA é usada para:
- Deduplicar registros, padronizar campos, identificar erros e preencher lacunas;
- Realizar “matching inteligente” entre dados antigos e novos modelos (por exemplo, NCMs, códigos de produto, fornecedores).
Empresas que adotaram esse modelo relataram reduções de até 60% no tempo de preparação de dados para migração, segundo estudo do MIT Sloan Management Review.
3. Automação da migração e testes
Alguns fornecedores e parceiros de ERP já utilizam IA para automatizar partes do processo de migração:
- Geração automática de scripts de conversão de dados;
- Simulação de cenários para prever impactos de processos migrados;
- Identificação de falhas de compatibilidade ou regressão em testes integrados.
Além disso, a IA pode aprender com migrações anteriores, sugerindo caminhos mais eficientes para projetos similares.
IA pós-migração: o ERP como plataforma inteligente
Uma vez na nuvem, o ERP moderno torna-se um hub de inteligência – mas só se estiver preparado para operar com dados em tempo real, arquitetura modular e IA embarcada. Os casos mais avançados incluem:
- Assistentes preditivos para decisões de compras, estoques e finanças;
- Modelos de ML que detectam fraudes em transações ou sugerem alocações de recursos;
- IA Generativa que automatiza a produção de relatórios gerenciais e dashboards personalizados.
Segundo levantamento da SAP, empresas que integram IA ao ERP têm produtividade até 25% maior em áreas como contas a pagar, cadeia de suprimentos e gestão de RH.
O papel das parcerias e ecossistemas
A transformação de um ERP legado não é um movimento isolado. Cada vez mais, as empresas recorrem a ecossistemas de soluções SAP Surrounding – plataformas e aplicativos que orbitam o ERP, conectando funcionalidades de Analytics, IA, RPA, e automações via APIs.
Empresas desenvolvem frameworks específicos para:
- Garantir governança de dados durante a migração;
- Promover interoperabilidade entre sistemas legados e novas plataformas;
- Utilizar IA para acelerar ciclos de transformação com menor custo de erro.
A transformação dos ERPs legados é inevitável. Mais do que apenas mover sistemas para a nuvem, trata-se de rever a arquitetura, os processos e a cultura da empresa. A IA entra nesse cenário como uma tecnologia-chave para acelerar a migração e permitir que o novo ERP seja mais do que um sistema – seja uma plataforma de inteligência de negócios.