A mesma tecnologia que pode trazer espécies extintas de volta também pode revolucionar a medicina, diz Ben Lamm, CEO da Colossal Biosciences (Crédito: Reprodução/YouTube)
Esqueça “Jurassic Park”: não há como reviver um dinossauro com a tecnologia e o DNA que temos hoje. Mas é possível trazer o mamute-lanoso, o tigre-da-tasmânia (thylacine) e o pássaro dodô de volta à vida – e, de quebra, encontrar a cura para algumas doenças genéticas, como explica Ben Lamm, CEO da Colossal Biosciences, em sua palestra na SXSW 25.
“O DNA mais antigo com que trabalhamos tem cerca de 1,2 milhão de anos. Não há DNA de dinossauro viável”, explicou Lamm. O foco da Colossal Biosciences está em espécies extintas mais recentemente, cujos fragmentos genéticos podem ser recuperados e combinados com o DNA de parentes modernos.
Para isso, a empresa usa técnicas avançadas de edição genética, como o CRISPR, para inserir genes de espécies extintas em embriões de parentes vivos. No caso do mamute-lanoso, os genes são implantados em embriões de elefantes asiáticos. Para testar as modificações, a startup criou um pequeno modelo chamado “woolly mouse” (camundongo lanoso), um roedor que exibe algumas das características esperadas do futuro mamute, como a textura e cor dos pelos. “O camundongo lanoso foi um marco porque provou que nossos genes editados estavam corretos e o processo funcionava”, disse Lamm.
O futuro da Biotecnologia e da espécie humana
Os avanços da Colossal não se limitam à desextinção. As mesmas técnicas podem ser aplicadas em longevidade humana, medicina regenerativa e cura de doenças genéticas. “Estamos desenvolvendo ferramentas que podem ajudar a erradicar doenças e prolongar vidas”, afirmou Lamm.
O CEO da Colossal Biosciences acredita que estamos perto da “velocidade de escape da longevidade”, um ponto em que a Ciência será capaz de adicionar mais anos à vida humana do que o tempo que passa. “Nos próximos 20 anos, poderemos erradicar 90% das doenças e revolucionar a saúde”, disse Ben Lamm.
A mesma tecnologia que resulta do processo de desextinção pode ser aplicado para reverter danos ao meio ambiente. A Colossal acredita que trazer criaturas e plantas de volta à vida pode ajudar a restaurar ecossistemas danificados. “A extinção de espécies tem um efeito cascata, destruindo equilíbrios naturais”, disse Lamm. Como exemplo, ele citou a reintrodução de lobos no parque de Yellowstone, que ajudou a restaurar diversas populações de plantas e animais.
Lamm defende que os mamutes-lanosos podem desempenhar um papel fundamental na tundra, ajudando a reduzir a liberação de carbono do permafrost. “Se conseguirmos resgatar esses animais, poderemos impactar diretamente o aquecimento global”, afirmou. A mesma lógica se aplica ao thylacine, que poderia ser reintroduzido para reequilibrar os ecossistemas da Tasmânia.
Questões éticas e regulatórias
Uma das questões levantadas durante a palestra vem diretamente do filme “Jurassic Park”: a possibilidade de trazer uma espécie extinta de volta à vida não signfica que necessariamente temos que fazer isso. Algumas críticas feitas à missão da empresa parte da pergunta: “Será que a Humanidade deveria brincar de Deus”?
Lamm rebate: “Temos uma obrigação moral e ética de buscar tecnologias [que] desfaçam algumas das coisas que nós [como espécie] fizemos”.
Ele lembrou que ressuscitar espécies extintas pode exigir um “projeto em escala do Projeto Manhattan” para “fazer backup” de espécies ameaçadas de extinção em “cofres biológicos”.
A startup recebe apoio do governo dos EUA e se reúne regularmente com autoridades para discutir regulação e ética. “A interseção entre Biotecnologia, IA e Ciência Sintética é incrivelmente poderosa – e potencialmente perigosa. Temos que garantir que esta tecnologia seja usada de forma responsável”, alertou Ben Lamm.