The Shift

Bluesky desafia X e Meta e defende usuários no controle

A CEO do Bluesky Jay Graber critica o modelo de redes como X e Facebook e diz que os usuários devem ter liberdade para levar seus dados e personalizar seu feed (Crédito: Reprodução/YouTube)

“O futuro das redes sociais não é um monopólio – é um ecossistema aberto”. Com essa frase, a CEO da plataforma Bluesky, Jay Graber, deixou claro talvez a principal diferença entre essa rede social e X, Instagram e Facebook. Em sua participação na 39ª edição da South by Southwest, Jay defendeu a importância da descentralização para o futuro da internet e como os usuários de redes sociais devem ter a mesma liberdade de navegar e carregar seu conteúdo.

“Hoje, mudar de rede social é como trocar de número de telefone – deveria ser mais fácil”, criticou a CEO do Bluesky. Para ela, o modelo aberto que permite a portabilidade de dados é um grande diferencial da plataforma, assim como sua visão de experiência do usuário. “As redes sociais tradicionais não querem que você saia, nós queremos que você tenha escolha”.

Originalmente concebido dentro do Twitter em 2019, o Bluesky começou como um projeto de pesquisa que tinha como objetivo descentralizar a rede social. A ideia era dar mais controle aos usuários sobre seus dados e experiência. Em 2021, tornou-se uma empresa independente – mas passou a ganhar atenção com o aumento da polarização nas redes sociais. Hoje, a plataforma conta com mais de 32 milhões de usuários e tem atraído diversos tipos de comunidades, desde jornalistas e cientistas até criadores de conteúdo e entusiastas de tecnologia. Para ampliar ainda mais seu alcance, a rede anunciou a possibilidade de publicação de vídeos de até três minutos após a apresentação na SXSW.

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Redes sociais abertas e descentralizadas

A grande promessa do Bluesky é “devolver aos usuários o poder de escolha”. Diferentemente das redes sociais tradicionais, que priorizam algoritmos fechados, o Bluesky é baseado no AT Protocol, um protocolo aberto que permite aos usuários manterem controle sobre seus dados e experiências online. “As redes sociais precisam ser mais como a web: abertas e descentralizadas”, afirmou Jay Graber. “Não queremos ser mais uma plataforma. Queremos ser um protocolo para um futuro digital aberto”, disse Jay Graber.

As redes da Meta, por exemplo, usam a coleta de dados e algoritmos para basear a publicidade. “Se você não está pagando, você é o produto”, resumiu a executiva. Segundo ela, o Bluesky não possui “algoritmo secreto”. “Você escolhe o que vê”.

Entre os diferenciais do Bluesky estão:

A transparência, na visão do Bluesky, é um ponto que também é diferencial. “Um feed justo é aquele que você controla, não aquele que uma empresa decide por você”, disse Jay, sobre os feeds personalizados. Em relação à moderação, ela comentou: “Nosso objetivo é dar ao usuário controle total sobre sua experiência online”.

À prova de bilionários

Um dos aspectos mais comentados da palestra foi a promessa de que o Bluesky é “billionaire-proof” (“à prova de bilionários”). O questionamento veio do fato de que Elon Musk e Mark Zuckerberg têm tratado o X (antigo Twitter), Facebook e Instagram como “seus brinquedos”, impondo suas vontades e mantendo os usuários presos em um jardim murado, segundo alguns críticos.

Jay Graber respondeu que esse não é o caso do Bluesky. Se um grande investidor modificar a plataforma de maneira que não agrade aos usuários, eles podem simplesmente migrar para outra plataforma compatível sem perder suas conexões, já que podem levar seus dados, contatos e até mesmo aspectos de personalização.

Olhares mais atentos perceberam que a camiseta que a CEO do Bluesky trazia os seguintes dizeres: “mundus sine caesaribus”, ou “um mundo sem Césares” em latim. Para alguns, era uma “resposta” a Mark Zuckerberg, que usou uma camiseta com a frase “aut Zuck aut nihil”, uma brincadeira com “aut Caesar aut nihil”, que significa “Zuck ou nada”. No Bluesky, não há espaço para monarcas e os únicos césares são os usuários.

Contra a toxicidade e a desinformação

O Bluesky cresceu rapidamente após as polêmicas que envolveram o X, acusado de usar seu algoritmo para espalhar desinformação e incentivar um ambiente tóxico, que piorou com o fim da moderação nos comentários (iniciativa que seria seguida depois pela Meta). “A moderação não é censura; é governança”, enfatizou Jay. 

No Bluesky, a moderação é feita em camadas. A empresa utiliza o sistema Ozone, um serviço de moderação de código aberto que permite filtros customizados. Os usuários também podem ativar sistemas que identificam e rotulam imagens geradas por IA ou ocultam postagens políticas, garantindo uma experiência personalizada. 

Para a CEO do Bluesky, a toxicidade atribuída às redes sociais pode muito bem ser evitada. “A toxicidade online não é inevitável – é uma escolha de design”, disse ela. Por permitir que usuários estabeleçam suas regras e limites de interação, eles estariam afastados dos embates negativos que acontecem em outras redes.

Jay Graber alertou para os perigos da modificação algorítmica de conteúdo para servir a interesses comerciais. “Se uma plataforma pode ditar o que você vê, ela pode manipular o que você pensa”.

O futuro das redes sociais: Para onde vamos?

O crescimento do Bluesky e outras iniciativas descentralizadas indicam uma tendência mais ampla no ecossistema digital. Especialistas apontam que o futuro das redes sociais está exatamente na descentralização, personalização e transparência. O modelo tradicional, baseado em grandes plataformas que controlam dados e algoritmos, tem sido cada vez mais questionado, levando a uma migração gradual para redes abertas e interoperáveis. 

Outro fator crítico é a regulamentação crescente do setor. Governos em todo o mundo estão impondo novas leis para coibir abusos de poder das Big Techs e aumentar a proteção dos dados dos usuários. Redes descentralizadas como o Bluesky podem ganhar espaço nesse contexto, pois oferecem maior controle ao usuário sobre sua experiência digital.

Jay Graber encerrou sua participação reafirmando seu compromisso com um ecossistema aberto e inovador. “Nenhuma empresa deveria ter o controle absoluto da conversa pública”.