The Shift

Amy Webb e a Inteligência Viva: o que vem depois da IA?

Segundo Amy Webb, estamos no momento beyond, no qual as regras da computação tradicional foram quebradas (Imagem: Reprodução/YouTube)

É semana de SXSW. Portanto, é semana de tendências de curto e de longo prazo, que veremos serem debatidas à exaustão no mundo todo. Neste sábado, dia 8, Amy Webb, a futurista quantitativa mais conhecida do planeta, abriu os trabalhos do dia com detalhes da 18a edição do “Tech Trends Report” do FTSG (Future Today Strategy Group, novo nome do Future Today Institute), colocando mais lenha na fogueira das conversas sobre o que nos aguarda no futuro.

A palavra-chave do relatório de 2025 é beyond. Traduzindo: tudo o que está além da nossa compreensão atual do mundo; além das leis da Física como as conhecemos; além “do ponto de não retorno da humanidade”. Além da curva, como se diz em bom português

Parece mais assustador do que realmente é. Bem mais alarmante é o alerta de Amy Webb para abandonarmos a inércia diante daquilo que nos causa incômodo, desconforto… Um desconforto que ela conseguiu transmitir, brilhantemente, convidando a plateia a se sentar sobre quadradinhos de madeira, simulando a famosa pedrinha no sapato que nos atrapalha tanto ao andar, a ponto de nos impedir de prestar atenção ao que acontece ao redor.

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“Se você não intervir, seu cérebro vai priorizar a eliminação desse desconforto imediato em vez de planejar o futuro”, disse Webb. “Isso explica por que os CEOs reagem em vez de se anteciparem. Explica por que as empresas replicam em vez de inovar. E explica por que muitas vezes tememos o futuro em vez de planejá-lo”.

Segundo Amy Webb, as pedras no sapato de todas as empresas são as manchetes de IA, o FOMA (Fear of Missing Anything), a inflação, a dinâmica do mercado e por aí vai… E o problema é que essas pedras específicas não podem ser retiradas! O futuro vai aparecer independentemente de quão desconfortáveis nos sentimos para lidar com a pedra. Então, só nos resta prestar mais atenção aos sinais, observar mais cuidadosamente o caminho e começar a tomar melhores decisões para reduzir o desconforto.

Não por acaso, o “Tech Trends Report” termina com um conjunto de recomendações para que organizações de nove segmentos econômicos consigam distinguir incertezas de tendências e entender o básico de foresight.

As previsões de Amy Webb

Amy Webb retomou o conceito da Living Intelligence, que tinha adiantado em dezembro de 2024, sinalizando que a convergência da IA, sensores e Bioengenharia está abrindo caminho para a era da “Inteligência Viva”, com um foco importante nos saltos de inovação que as Ciências Biológicas darão com o uso da IA como fundação.

O primeiro grupo de tendências do beyond contempla a convergência entre Inteligência Artificial e novas formas de ingerir dados. Principalmente, e em um futuro não muito distante, a partir do uso de sistemas multiagentes de IA ou MAS.

Multiagentes atribuem tarefas entre si. Podem se basear no trabalho uns dos outros. Podem deliberar sobre um problema para encontrar uma solução que um agente sozinho não conseguiria encontrar. E, principalmente, estão sendo projetados para funcionar sem um humano no circuito. “Portanto, tenha isso em mente”, recomenda Webb.

Multiagentes não precisam da linguagem humana como entrada principal de dados. É aí que entram os dados avançados, os sensores avançados. Portanto, os dados agora são abundantes e invisíveis. O que vai requerer atenção redobrada, com risco de a coleta de dados ser feita diretamente a partir dos nossos cérebros. Que também não deve demorar a acontecer.

O segundo grupo de tendências vem da Biotecnologia. Ela nos brindará com os metamateriais — materiais projetados com propriedades não encontradas na natureza e criados por meio de um projeto microestrutural preciso que vai além da biologia e da química.

Os metamateriais quebram as regras normais da Física. Podem dobrar a luz ou o som na direção oposta à que normalmente tomaria. E podem assumir formas impossíveis. São matéria programável, capaz de mudar suas propriedades em resposta a estímulos externos, como luz ou calor.

“Considere o humilde tijolo”, provoca Webb. “E se esse tijolo se comportasse mais como um pulmão humano? Ele poderia ter propriedades de filtragem semelhantes às dos nossos pulmões, filtrando automaticamente os poluentes do ar”, explica. “Quando associamos a Inteligência Artificial à Biologia e aos metamateriais, o futuro parece muito estranho”, completa. “E se esse tijolo se comportar mais como o elástico da cintura de suas calças? Os prédios podem se soltar durante um terremoto para que não caiam, por exemplo”.

Com a chegada dos metamateriais, qualquer empresa que fabrica produtos físicos será afetada. Roupas, embalagens de alimentos, suprimentos para menopausa, bombas de leite, absorventes internos, pasta de dente, tudo.

O terceiro grupo de tendências vem da Nanotecnologia e das máquinas microscópicas que nos darão poder. Imagine uma pele sintética substituindo o aço. “Se você acha possível, então deve colocar isso no seu roteiro de inovação agora, pelo menos para começar a investigar, porque pode alterar fundamentalmente o design e a engenharia”, explica a futurista.

De modo geral, o relatório sugere que a convergência da IA com a Biotecnologia e a Nanotecnologia não somente transformará os setores, mas também vai remodelar as normas sociais e as estruturas éticas, exigindo o envolvimento proativo das lideranças empresariais e governamentais.

Principais implicações da convergência